Faz 32 anos que Sidnei Lobo exerce a mesma função. Seja como jogador ou como auxiliar de Mano Menezes, seu trabalho é ser um meio-campo. Nos tempos de atleta, era um volante voluntarioso. Depois que pendurou as chuteiras, passou a fazer a ligação entre os jogadores e a comissão técnica. Neste domingo (31), no Beira-Rio, será dele a responsabilidade de comandar o Inter diante do Atlético-MG.
O jogo das 16h, pelo Brasileirão, não será o primeiro em que ele terá a responsabilidade de substituir o treinador. Nas quase duas décadas em que as duas principais cabeças do futebol colorado trabalham juntos, foram algumas vezes em que Mano esteve ausente — desta vez, por suspensão. A parceria começou devido a uma lesão do então volante do Iraty, em 2003.
O técnico colorado chegou ao interior paranaense para tirar o clube da Série C e colocar na Segunda Divisão. Encontrou o experiente Sidnei tratando uma lesão no departamento médico. O acesso não chegou, a lesão não curou, mas se estabeleceu uma conexão de pensamentos. Com a experiência de quem surgiu para o futebol sob o comando de Telê Santana no São Paulo do início da década de 1990, o meio-campista virou um auxiliar informal do treinador em conversas sobre estratégias de jogo.
No ano seguinte, Mano foi contratado pelo 15 de Novembro. Em Campo Bom, teve a inédita oportunidade de ter um auxiliar ao seu lado. Fez o convite para o jogador com quem muito conversou, mas que não teve a chance de escalar. Dividido entre a aposentadoria e a atuação em um novo ofício e uma proposta para jogar na Ásia, preferiu vir para o Rio Grande do Sul. O trabalho no clube de Campo Bom foi o elevador que os dois precisavam na carreira.
— O treinador precisa ter uma visão macro, precisa tomar decisões. O que às vezes o deixa um pouco distante devido ao papel de comando. O auxiliar escuta as insatisfações dos atletas, explica as situações. O Sidnei faz esse meio-campo, trabalha de forma complementar com o Mano — explica o ex-zagueiro William, comandado pela dupla no Grêmio e no Corinthians.
Em 2019, no Palmeiras, a situação era idêntica a deste fim de semana. Mano estava suspenso, e o adversário era o Atlético-MG. Os paulistas defendiam uma invencibilidade de seis partidas. Com o auxiliar na área técnica, os palmeirenses empataram em 1 a 1, em jogo pelo Brasileirão.
No Cruzeiro entre 2016 e 2018, quando venceram a Copa do Brasil duas vezes, Sidnei teve de assumir o time com uma constância maior devido a um tratamento de saúde ao qual Mano Menezes se submeteu.
— Sidnei é um cara bacana. Faz conversas individuais com os jogadores, tinha uma relação maior. Conversava com aqueles que jogavam menos — relata John Lennon, lateral do Ypiranga e que trabalhou com os dois em 2017, no Cruzeiro.
No trabalho diário, o auxiliar de Mano tem uma participação ativa na preparação do time. Alguns dos trabalhos da semana são montados por ele. Na hora de tomar as decisões, a palavra final é do treinador, mas sempre depois de ouvir o seu braço-direito.
— Eles trabalham de forma complementar. O Sidnei não é daqueles que fica só balançando a cabeça para o que o Mano fala. Ele faz debates para melhorar a situação — relata William.
Transformar problemas em cenários favoráveis são uma constante para o interino colorado. A lesão no Iraty virou uma novo oportunidade na carreira. O ingresso no futebol foi após o início da vida de trabalhador. Aos 15 anos, trabalhou em uma fábrica de sapatos. Responsável por colar as solas dos calçados, o cheiro de cola começou a lhe fazer mal. Sua mãe lhe tirou do emprego, e Sidnei retomou o seu caminho no futebol. A adversidade, agora, é encerrar a sequência de três jogos sem vencer do Inter para ter chance de retornar ao G-4 do Brasileirão.