O Inter chega ao Equador vindo de um início de ano de frustrações. A partida é vista como um recomeço para as competições mais importantes do calendário. Pode parecer que trata-se do jogo diante do 9 de Octubre, pela Sul-Americana, nesta quarta-feira (6), mas o ano é 2002, e o time colorado chegava a Quito para enfrentar a seleção equatoriana.
Daqui a alguns dias completam-se 20 anos da última vez que o Inter enfrentou uma seleção em amistoso. Após a eliminação da finada Copa Sul-Minas, em mais uma excentricidade do calendário brasileiro, abriu-se naquele 2002 uma fenda no cronograma colorado. O time de Ivo Wortmann terminou o torneio regional na sétima colocação. O último jogo foi a vitória por 1 a 0 sobre o Pelotas, em 14 de abril, 10 dias depois da queda na Copa do Brasil para o Atlético-MG.
O compromisso oficial seguinte seria somente em 9 de maio, na primeira rodada do Supergauchão — uma versão reduzida do Estadual, que contava com os quatro integrantes gaúchos da Sul-Minas (Inter, Grêmio, Juventude e Pelotas) mais quatro clubes vindos da primeira fase da competição. Com um buraco de praticamente um mês sem jogos, a direção começou a agendar amistosos para dar rodagem ao contestado trabalho de Wortmann.
Antes da partida, Wianey Carlet, então colunista de Zero Hora, criticava o esquema com três zagueiros montado por Wortmann. O comentarista defendia uma postura mais flexível do treinador para moldar a tática do time de acordo com os jogadores disponíveis.
A lacuna foi preenchida com cinco jogos e cinco vitórias sobre Grêmio Bagé (3 a 0), Chapecoense (5 a 0), Juventus, de Santa Rosa (1 a 0) e Santo Ângelo (3 a 1). A sequência foi fechada em 1º de maio, no confronto diante do Equador, no Estádio Olímpico Atahualpa.
— Era uma oportunidade para mostrar que o nosso grupo era bom — relembra Diogo Rincón, meia daquela equipe.
Pouco adiantou
Naqueles tempos de vida áspera para os colorados, o Equador era uma sensação. Estava a 37 dias de debutar em Copas do Mundo. Enquanto o Brasil tinha suado para ir ao Mundial da Coreia e do Japão, os equatorianos, comandados pelo icônico meia Aguinaga, terminou as Eliminatórias na segunda colocação, atrás da arrasadora Argentina, de Marcelo Bielsa. Em Quito, somente os hermanos tinham superado La Tri durante a fase classificatória.
— Foi um jogo foi atípico. Eram raro jogos internacionais naquele período. Tinha uma altitude grande. Não tínhamos experiência nesse tipo de jogo. Foi uma oportunidade única. — relata Diogo.
Apesar da boa fase dos donos da casa, o Inter, desfalcado do zagueiro Júnior Baiano, do meia Carlos Miguel e do volante Leandro Ávila, venceu a partida por 2 a 1 e voltou para Porto Alegre animado. O primeiro gol foi "um golaço", de acordo com o autor. Após o goleiro socar a bola, Diogo chutou por cobertura para fazer 1 a 0. Cássio ampliou. Nos minutos finais, os equatorianos empataram. Ídolo local, Aguinaga foi expulso da partida.
O resultado foi um choque para os torcedores. A reação foi vaiar os jogadores na última partida em casa antes da Copa — o Equador não passou da primeira fase em um grupo com México, Itália e Croácia.
Apesar da vitória, em que o Inter "exibiu bom padrão de jogo e confirmou uma ideia de time", como analisado por Ruy Carlos Ostermann, em Zero Hora, no dia seguinte à partida, Ivo Wortmann não teve vida longo no Brasil. Em 23 de maio, o treinador pediu demissão.
— O clube passava por muitas dificuldades extra-campo. Alguns (jogadores) tiveram problema pessoal com o Ivo — conta Diogo.
Sem Wortmann, a direção alçou Guto Ferreira e Lisca para comandar o time e vencer o Gauchão. Porém, o ano foi de dificuldades e terminou com o Inter escapando no rebaixamento na última rodada do Brasileirão.
FICHA TÉCNICA
Amistoso
1º/5/2002
Equador (1)
Ceballos; De La Cruz, Porozo, Espinoza e Guerrón; Boregón, Tenório, Méndez e Ayovi; Aguinaga e Carlos Tenório (Delgado). Técnico: Hernán Darío Gómez.
INTER (2)
Clemer (Fabiano Heves); Ameli, Chris e Ronaldo; Claiton, Alexandre, Márcio, Diogo Rincón (Leandro Guerreiro) e Cássio; Fabiano Costa e Mahicon Librelato (Fernando Baiano). Técnico: Ivo Wortmann.
GOLS: Diogo Rincón (I), aos 8, Cássio, aos 12, e Méndez, aos 40 minutos do segundo tempo.
LOCAL: Estádio Olímpico Atahualpa, em Quito.