A eliminação na semifinal do Gauchão — que frustrou a torcida e aumentou em mais um ano a seca de Estaduais — deu ao Inter algo raro no futebol brasileiro: tempo para treinar.
É quase uma nova pré-temporada para o Brasileirão e a Copa Sul-Americana. O período sem partidas oficiais — duas semanas desde o Gre-Nal da Arena até o confronto com os equatorianos do 9 de Octubre — será o mesmo que Alexander Medina teve, em janeiro, do primeiro treino do ano até a estreia no Estadual, diante do Juventude.
Após duas eliminações prematuras do time (caiu também na primeira fase da Copa do Brasileiro), o técnico uruguaio precisa aproveitar a folga no calendário para corrigir os problemas apresentadas pela equipe nos primeiros 14 jogos do ano. GZH lista quatro pontos a serem melhorados no Inter até a retomada das competições de 2022.
Efetividade do ataque
O Inter foi ao longo do Gauchão o time com mais posse de bola. A equipe teve índice superior aos adversários em todos os jogos disputados, mas esse domínio não foi transformado em gols, tampouco em chances criadas. Contando também a Copa do Brasil, o Colorado fez apenas 14 gols em 14 partidas na temporada — média baixa de apenas uma bola na rede por jogo.
Para o analista do Footure, Gabriel Corrêa, tem faltado ao Inter maior repertório ofensivo. Ele ressalta que o Talleres de Medina era um time que dependia muito das jogadas dos extremas para levar perigo, mas faz uma observação de que a partir do Brasileirão e da Sul-Americana o Colorado deverá enfrentar adversários que saem mais para o jogo, o que pode favorecer a característica de montagem de time do uruguaio.
— O Talleres era um time que não tinha muita variação de jogadas, era pouco criativo, mas tinha pontas de vitória pessoal. No Inter tentou achar com Taison e David, mas ele nunca foi um treinador tão criativo. O melhor exemplo de como o Medina ataca os adversários é o do primeiro Gre-Nal. Ali teve espaço para atacar de forma rápida, que é algo que ele gosta. A tendência é de que no Brasileirão exista mais jogos com esse espaço — observa.
Em busca de maior variação ofensiva, Medina precisa deve aprimorar bola parada ofensiva. O Inter até fez três de bola parada no Gauchão, mas foram dois de falta direta (D'Alessandro e Taison) e um de pênalti (Wesley Moraes). O Colorado não marcou nenhuma vez a partir de cobrança de escanteio ou em cruzamentos feitos de faltas próximas da área adversária.
Sistema defensivo
Os 13 gols sofridos em 14 partidas representam número preocupante ao sistema defensivo, levando em conta que o Inter disputou apenas o Estadual e um confronto de Copa do Brasil, com derrota por 2 a 0 para o Globo-RN, uma equipe da Série D. Além disso, o goleiro Daniel chegou a ser destaque de algumas partidas — foi eleito melhor em campo pela equipe de Esportes da Rádio Gaúcha na vitória sobre o Juventude e no empate com o Guarany-BA.
Medina fez mudanças em busca de maior equilíbrio defensivo tanto em nomes quanto em aspectos táticos. A chamada pressão pós-perda melhorou ao longo do Gauchão, enquanto Bustos e Gabriel foram acréscimos na lateral e no meio-campo. No último Gre-Nal, Cuesta perdeu a vaga de titular em nome de mais velocidade na zaga com Bruno Méndez ao lado de Kaique Rocha.
— (A marcação) Vai precisar de ajustes. Me parece que Cuesta não vai ser titular. O último Gre-Nal deu um indicativo de que, com jogadores mais rápidos na última linha, o funcionamento é melhor. O meio tem funcionado aos poucos. Gabriel deu uma melhorada. Tem de compensar Taison, que não vai marcar tanto. Edenilson de volante, talvez, seja um caminho que o Inter vai enxergar — avalia Gabriel Corrêa.
Encaixe de Wanderson
O período de treinos servirá para a adaptação de Wanderson aos companheiros. Contratado do Krasnodar-RUS, o atacante de 27 anos chegou para suprir a carência de extremas dribladores do elenco e aparece como o mais cotado para ficar com a vaga de David, que sofreu uma lesão muscular no Gre-Nal, nas estreias de Sul-Americana e Brasileirão
Comentarista dos canais Bandsports e Conmebol TV, Raí Monteiro avalia que o time de Medina precisa de um jogador com a característica que Wanderson oferece:
— Falta o jogador de velocidade, da explosão. O Inter tem nomes com capacidade de construir, como Mauricio e Taison. Edenilson nunca foi um criador de jogadas, mas mesmo no Brasileirão passado deu muitas assistências. O que falta é mesmo esse cara que consiga ser mais agressivo, é o jogador que recebe a bola, dá o drible, o corte, o passe. É o cara que pensa mais rápido, talvez o Wanderson seja essa que falta.
Definição na esquerda
A lateral esquerda foi uma posição problemática para o Inter. Embora tenha sido titular ao longo das últimas temporadas, Moisés iniciou o ano sob críticas. Seu substituto Paulo Victor, porém, não teve atuações convincentes e foi expulso no Gre-Nal de ida da semifinal do Gauchão. Na volta, na Arena, Medina apostou em Liziero. O meio-campista, que já havia atuado nessa posição no São Paulo, teve bom desempenho e pode ser mantido na equipe.
Raí Monteiro observa que Liziero deve ser uma opção para as partidas nas quais o Inter terá mais protagonismo com bola. Como foi o último Gre-Nal, quando ele teve papel importante no início da construção das jogadas ao se juntar aos zagueiros para fazer a saída de três.
— A emergência de precisar virar o resultado levou Liziero para a lateral. No Talleres, o time de Medina não tinha tanto a bola e construía de forma mais direta. Com Liziero no lado, o time poderá ter maior construção, mais posse. O que atrapalhou a trajetória dele no São Paulo foi a oscilação de competitividade. O Liziero fazia um jogo bom e aí no seguinte era disperso e não conseguia repetir — projeta Monteiro.