Para Daniel de Sousa Brito, o começo do segundo turno, marcado para segunda-feira (13), 20h, vale mais do que os três pontos que o Inter pretende conquistar em cima do Sport. O goleiro, aos 27 anos, enfim está consolidado como titular da meta colorada e tem nessa partida um símbolo do estágio atual de sua carreira. De contrato renovado, finalmente pode mostrar aquilo que sempre se disse sobre sua capacidade.
Já faz alguns anos que Daniel é apontado como um goleiro confiável, pronto para evitar dor de cabeça e contratação para a posição. Depois da saída de Alisson, em 2016, o Inter teve Danilo Fernandes e Marcelo Lomba como titulares, e o mato-grossense de Barra dos Garças aguardava no banco (ou até fora dele) uma oportunidade para defender o gol.
A chance veio neste 2021, primeiro com Miguel Ángel Ramírez, e teve sequência com Diego Aguirre. E Daniel está aproveitando. Acabou o primeiro turno como o goleiro que fez mais defesas difíceis no Brasileirão.
— Pode dizer que o jogo contra o Flamengo foi o meu melhor até aqui — disse o goleiro ao colunista de GZH e comentarista do Grupo RBS, Adroaldo Guerra Filho.
É mais um ponto da evolução que ele mesmo admite ser necessário ainda hoje. Garantiu treinar todos os dias para melhorar todos os fundamentos que a profissão exige, o que mostra não estar acomodado com a titularidade. Inclusive, para jogar com os pés.
Em sua análise, o futebol contemporâneo exige que o goleiro participe da partida também na armação. E contou uma curiosidade: quando ainda era da base, sofreu uma lesão no dedo da mão. Sugeriram-lhe ficar no departamento médico para curar. Mas ele contrariou e ia para o campo para treinar com os pés. Na adolescência, ter jogado futsal também ajudou.
A segurança atual contrasta com o começo da temporada, quando começou a receber chances, ainda em um misto do time sub-20 do Inter com alguns atletas do profissional que entraram em campo nas primeiras rodadas do Gauchão.
— Contra o Pelotas e contra o São Luiz, falhei nos gols. Estou sendo bem sincero. Os dois jogos me deixam com aquela sensação ruim que tudo poderia ter mudado ali — revelou.
Felizmente, teve cabeça no lugar para não se abalar e seguir aguardando oportunidades para se fixar. Pôs na cabeça que não iria desistir. Sua carreira estava basicamente começando, apesar de já ter 27 anos. A estreia no profissional ocorreu quando uma onda de lesões assolou o Inter.
Era o Gauchão de 2017. Danilo Fernandes, Marcelo Lomba e Keiller se machucaram ao mesmo tempo. Sem poder inscrever jogadores, Inter foi para a decisão, diante do Novo Hamburgo, com Danilo completamente no sacrifício.
Quando o campeonato acabou, Daniel foi o escolhido para estampar a relação do primeiro time da história do Inter a jogar a Série B. Era o goleiro no Estádio do Café, na goleada colorada por 3 a 0 sobre o Londrina. Fez mais algumas partidas, inclusive contra o Palmeiras pela Copa do Brasil, mas os titulares se recuperaram e ele voltou para o banco.
Garante ter aprendido muito com eles. Danilo e Lomba, os quais admite ser fã, recebem elogios não só por suas capacidades, mas também pela relação. Fora do Inter, seus ídolos são Petr Cech, histórico goleiro do Chelsea, via jogar quando era guri. No futebol brasileiro, gosta também de Weverton, do Palmeiras.
— O goleiro trabalha muito. Especialmente aquele que não joga. E eu trabalhei muito, sabia que uma hora a recompensa viria — aponta.
E por recompensa, há algo maior do que a titularidade, a boa sequência e até as defesas difíceis. O prêmio maior está em casa:
— O meu filho (Joaquim, dois anos), quando apareço na televisão, grita: "Papai, papai". Ele está sempre me chamando para brincar, jogar bola. Então, pra mim, isso não tem preço.
Começo no futsal
A vida de Daniel no futebol de campo, como a de muitos profissionais, começou nas quadras. Era defensor no time de futsal de sua escola. Alto, forte e firme, foi orientado a deixar de ser fixo (o equivalente ao zagueiro) para tentar a sorte no gol.
Como gostava de se atirar no chão, pular, não se importou com as boladas e trocou de posição. Foi essa sugestão, vinda de um treinador de sua cidade, que acabou mudando sua vida.
Daniel passou a se destacar nos torneios que disputava. Em casa, treinava no pátio. Seu pai pegava a bola e ficava chutando na direção do gol, formado por um pé de goiabeira como um lado da "trave" e qualquer outro objeto improvisando o outro. Nenhum de seus familiares era goleiro, a paixão pela função se deu pelos resultados mesmo.
— A gente ganhava, fui sendo elogiado... Então gostei — diverte-se.
Apesar do relativo sucesso que fazia no futebol, manteve o foco nos estudos. Mesmo quando arriscou de verdade e aceitou um convite para jogar no Goiás. Tinha 13 anos e foi morar sozinho em Goiânia. Não havia alojamento para sua idade, então teve de se virar, cozinhando, cuidando da casa.
— Mas era muito difícil, não recebia salário, a família fazia sacrifício para me manter lá. Pensei de verdade em desistir — conta.
Eis que um convite do Rondonópolis lhe reabriu as perspectivas. Fixado no time, foi relacionado para disputar a Copa São Paulo e um torneio em Santa Catarina. Chamou a atenção de Dorinho, um histórico jogador colorado que trabalhava de olheiro. Foi emprestado para o time juvenil, em 2011. Orientado por Clemer e Odair Hellmann, cavou seu espaço, trabalhou bastante e teve a primeira recompensa naquele jogo no Estádio do Café. Agora, já sabe o próximo passo:
— Quero conhecer lugares, gosto de praia. Nunca tive a oportunidade de viajar para muito longe, é o que quero fazer.