
Nesta quarta-feira, a gestão Alessandro Barcellos completa seus 100 primeiros dias à frente do Inter. O dirigente, que venceu a eleição de 2020 com o equivalente a 63,25% dos votos válidos (16.522 em números absolutos), sentou na cadeira presidencial em 4 de janeiro.
Primeiro mandatário a assumir com a temporada ainda em andamento, Barcellos teve, no início, a missão de manter o trabalho da gestão Marcelo Medeiros, especialmente dentro de campo, gerando o menor atrito possível, já que o Inter vivia um bom momento e iniciava a campanha que culminou com o vice-campeonato brasileiro.
Apesar do resultado e do desempenho (o Inter teve chance de ser campeão até o último segundo da partida final do Brasileirão), manteve o planejamento da campanha, não renovou contrato com Abel Braga e foi buscar o espanhol Miguel Ángel Ramírez para comandar o time.
Havia a promessa também de austeridade, evitar gastos desnecessários e mudanças, o que também já foi visto nesses primeiros 100 dias. Apenas um atleta foi contratado, Carlos Palacios, chileno de 20 anos, promessa do futebol local.
Por outro lado, depois de bons resultados e até da vitória sobre o maior rival, Barcellos já conheceu o amargo gosto da derrota em Gre-Nal.
No ambiente político, ganhou uma trégua. Depois da acirrada eleição de 2020, viu os grupos colorados evitarem briga e chegarem a um consenso para a eleição da mesa diretora do Conselho Deliberativo. Experimenta bastidores mais tranquilos nesses primeiros dias.
A seguir, veja os cinco principais momentos de Barcellos na presidência.
Renovação com Abel e chegada de Bracks
Quando Barcellos assumiu a presidência, o Inter estava se recuperando das eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores. A curva era ascendente no Brasileirão, mas ainda relativamente longe da liderança. Era fato conhecido que a chapa gostaria de contar com Miguel Ángel Ramírez, cujo vínculo com o Independiente del Valle estava se esgotando no final de 2020. Apesar disso, após a saída traumática de Eduardo Coudet, a ordem era evitar novas rupturas.
Abel sabia da mudança e estava insatisfeito com a indefinição. Ao seu estilo, declarou, em entrevista coletiva, que "só queria a verdade". Então, a convite de Marcelo Medeiros, Barcellos viajou para Salvador para acompanhar a delegação que enfrentaria o Bahia. No Nordeste, o novo presidente e o treinador conversaram e acertaram a permanência até o final do Brasileirão.
Outra mudança foi na gestão. Rodrigo Caetano não teve contrato renovado e deu lugar a Paulo Bracks, que havia subido da segunda para a primeira divisão com o América-MG. Abel saiu do Inter com elogios aos dois. Afirmou considerar Barcellos um dos amigos que fez em Porto Alegre e, sobre Bracks, disse:
— Paulo está fazendo um trabalho muito legal. Comportamento exemplar. Estudioso, observador para caramba.
Resultados no final da temporada
Alessandro Barcellos assumiu em 4 de janeiro e só foi perder um jogo depois de sete partidas. Foi uma série de 12 compromissos invictos no Brasileirão, que impulsionaram o time à liderança. Os resultados de campo deram tranquilidade para a transição e para os primeiros dias de trabalho.
Nesse grupo de vitórias, passaram duelos emblemáticos. Dois se destacam, e ocorreram em um intervalo de quatro dias. Em 20 de janeiro, no confronto contra o então líder do Brasileirão, o Inter aplicou 5 a 1 no São Paulo dentro do Morumbi, em noite mágica do centroavante Yuri Alberto. No domingo seguinte, no Beira-Rio, uma vitória marcante sobre o Grêmio, de virada por 2 a 1, com dois gols nos minutos finais.
A arrancada levou o Inter a decidir o Brasileirão. Nas rodadas finais, porém, veio a decepção. Havia perdido para o Sport em casa, um jogo considerado fundamental contra um adversário que pouco tinha a fazer no campeonato. Contra o Flamengo, o time saiu na frente, mas levou a virada após a polêmica expulsão de Rodinei. E diante do Corinthians, no confronto derradeiro, o resultado paralelo ajudou, mas a equipe, que só dependia de si, teve três gols anulados e um pênalti marcado e desmarcado, não conseguiu vencer e terminou com o vice-campeonato.
Reajustes financeiros
Passado o Brasileirão, iniciou-se, de fato, a gestão. Eleita com a promessa de austeridade e profissionalização, começou a rever alguns processos. A não renovação com alguns jogadores, o empréstimo de outros e reestruturações foram itens do futebol:
— De 2020 para 2021, nossa folha caiu mais ou menos R$ 2 milhões. Nosso primeiro compromisso é com a redução de custos — declarou Paulo Bracks.
A direção fez apenas um investimento, em Carlos Palacios. O próximo será em Taison, cujo contrato com o Shakhtar Donetsk está terminando. A ordem agora é vender atletas.
Na última semana, o clube divulgou um déficit histórico, de R$ 90 milhões na temporada 2020, especialmente por causa da pandemia. Dias depois, anunciou a demissão de mais de 60 funcionários de diversos setores.
"O momento é de transição e de adaptação ao novo cenário. Com o orçamento de 2021, o clube precisou criar um conjunto de ações, que já estão sendo executadas desde o começo da atual temporada", diz parte da nota do clube que justificou as demissões.
A missão agora é estancar as dívidas. Nos últimos dias, dois empresários, André Cury e Jorge Machado, tornaram público que o Inter lhes deve dinheiro por comissões de negociações com atletas.
Começo do trabalho de Ramírez
Miguel Ángel Ramírez assumiu o time em 2 de março. Nas primeiras rodadas do Gauchão, viu a equipe ser comandada por Fábio Matias, técnico do time sub-20. Assumiu no quarto jogo do Estadual.
Com ele, veio a mudança de filosofia. O Inter passaria a ser protagonista, implantando um estilo de jogo propositivo, de troca de passes, movimentação e manutenção da posse de bola. O "jogo de posição", filosofia de futebol defendida por nomes como Marcelo Bielsa e Pep Guardiola, começava a ser adotado no clube.
Mesmo que, obviamente, o desempenho não fosse ainda o esperado, dado o pouco tempo de trabalho, Ramírez se mantinha invicto. Foram quatro vitórias e um empate até aparecer a primeira derrota, na noite de 3 de abril, véspera do aniversário do clube. Ela veio no pior dia possível, para o pior adversário possível. Em seu primeiro Gre-Nal, Ramírez viu seu time perder por 1 a 0, levando um gol aos 43 minutos do segundo tempo.
Apesar da derrota, não houve maiores turbulências. A direção prometeu e, neste primeiro revés, respaldou o treinador, que agora teve 10 dias para treinar e aprimorar seu time para a sequência do mês. No dia 20, começa a Libertadores.
Mudanças na base e no marketing
Outra das promessas de campanha foi a de profissionalizar os departamentos. Haveria o dirigente político, é claro, mas também teria um profissional para os cargos executivos.
Para as categorias de base, o escolhido foi Gustavo Grossi, ex-dirigente do River Plate. Conhecido no cenário sul-americano, o argentino veio ao Rio Grande do Sul com a missão de organizar e gerenciar o trabalho com a gurizada colorada.
— O Inter foi o clube que me deu mais clareza e certeza sobre o que tinha de projeto. É um salto de qualidade profissional. O River foi uma experiência, mas eu queria trabalhar no Brasil. Vou ser responsável pelo futuro desportivo e econômico do clube, dando suporte ao Paulo (Bracks), ao Miguel (Ángel Ramírez).
Outro setor que teve investimento semelhante foi no da comunicação. O clube contratou Juan Boeira para assumir um cargo de diretor-executivo de vendas e marketing. Apresentado com pompa de jogador, foi anunciado pelo vice de marketing, Jorge Avancini, com as palavras: "o Internacional entra em definitivo no mundo digital, no foco em resultados e, principalmente, no trabalho com dados e informações, além de trabalharmos para alcançar um novo desafio, que é chegarmos à marca de 200 mil associados”.
No dia seguinte às demissões dos mais de 60 funcionários, porém, ele comunicou que havia recebido uma proposta irrecusável de uma multinacional em São Paulo e deixou o clube.