Independentemente de alcançar o título do Brasileirão ou não, Abel Braga já está na história do Inter. Responsável por conduzir o time à inédita conquista do Mundial de Clubes, em 2006, o treinador carioca alcançará um novo patamar no clube neste domingo (14). Diante do Vasco, em São Januário, ele completará 338 jogos como treinador colorado, ultrapassando José Francisco Duarte Júnior, o Teté. Mas você sabe quem foi Teté?
— Ele foi técnico do Inter só duas vezes. A segunda passagem, em 1960, foi mais curta. Mas ele foi o técnico com o período consecutivo mais longo: sete anos, de 1951 a 1957. Isso dá quase um Alex Ferguson na Inglaterra (risos). Mas, naquele tempo, se jogava menos — comenta o jornalista Cláudio Dienstmann.
Natural de Pelotas, Teté nasceu dois anos antes da fundação do Inter, em 1907. E, quando desembarcou em Porto Alegre, no início dos anos 1950, já era um profissional de destaque no futebol gaúcho, sendo conhecido pela alcunha de "Marechal das Vitórias".
— O Teté é um cara de uma trajetória ímpar no Inter. No período em que o futebol começava a se profissionalizar, ele é o técnico que permanece no cargo por mais tempo. O próprio apelido se dá pelo fato de ele ser um oficial da reserva do Exército. Ele chegou a atuar como atleta, mas por pouquíssimo tempo. Foi campeão citadino pelo Rio Grande, como jogador, em 1924, e depois com o Guarany de Bagé, em 1935, como treinador. Neste mesmo ano, ele foi para o 9º Regimento de Infantaria (atual Farroupilha), de Pelotas, e foi campeão gaúcho. Então, ele já tinha uma trajetória como treinador antes de vir para o Inter. Já tinha passagem pelo Brasil-Pel também — conta Cesar Caramês, assistente de pesquisa no Museu do Inter.
O Colorado foi comandado por Teté em um momento em que os clubes se limitavam às disputas estaduais, antes das criações do Brasileirão e Libertadores. Com ele, o Inter foi tetracampeão gaúcho (1951, 1952, 1953 e 1955) e ganhou o apelido de "Rolinho", por se tratar da geração que sucedeu o grande Rolo Compressor dos anos 1940, octacampeão regional.
— Quando ele voltou do Rio de Janeiro, onde prestou o serviço militar, trouxe muitos jogadores de lá, como o Florindo, Jerônimo, Larry e Luizinho, que era seu genro. Mas, quando ele voltou, não veio para treinar o Inter, mas o Nacional (clube extinto de Porto Alegre). E esses caras todos vieram para o Nacional primeiro. Depois é que ele conseguiu transportar para o Inter — revela Dienstmann.
Além dos feitos alcançados com o emblema vermelho, Teté também ganhou destaque nacional ao ser escolhido para comandar a Seleção Brasileira nos Jogos Pan-Americanos de 1956, no México. Na época, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) definiu que o time que representaria o país no torneio seria formado por profissionais que atuassem no futebol gaúcho. A estratégia deu certo, já que a equipe voltou com a medalha de ouro.
— O Rolinho era um time com bastante preponderância, que tinha jogadores como Larry, Bodinho, Salvador e, além disso, serve como base para a Seleção Brasileira no Pan-Americano de 1956. O Inter tinha nove jogadores convocados, sendo que oito eram titulares, além do próprio Teté comandando a equipe. A conquista do Pan-Americano ajudou a criar uma mística maior em cima do Rolinho — sentencia Caramês.
Apesar das conquistas, Teté nunca foi reconhecido como um treinador estrategista. Pelo contrário, a fama que carregava era de ser mais afeito à superstição e à motivação do elenco.
— Ele ganhou um monte de campeonatos, gostava de um futebol bem jogado, mas era conhecido por ser folclórico e místico. Tem uma história que contam que havia um jogador machucado, que dizia estar "amarrado". Ou seja, que tinham feito um "despacho" para ele. Aí o Teté disse: "Pode deixar que eu vou fazer um trabalho para ti, uma defumação". Ele foi na concentração do Inter, que era embaixo do pavilhão do Estádio dos Eucaliptos, levou um massagista, e os dois fizeram uma linguiça na brasa e botaram umas folhas de eucaliptos que pegaram nas árvores dali. Aquele foi o trabalho dele. O jogador acreditou e disse que ficou curado da lesão — completa Cláudio Dienstmann.
Teté morreu em 1962, apenas dois anos depois de sua última passagem pela casamata colorada. Tinha 54 anos de idade.