Se para jogadores profissionais o período sem jogos ou treinos causa prejuízos, na base o problema é ainda pior. Há mais de 100 dias em casa, os meninos de todas as categorias inferiores do Inter aguardam uma melhora no quadro para poder retomar o trabalho no CT. Por enquanto, eles fazem apenas atividades a distância, monitoradas por professores, ora em tempo real ora em vídeos enviados por eles. O pior é que, para praticamente todos, não há nem sequer um sinal de um retorno, e isso pode atrasar carreiras e até o futebol brasileiro como um todo.
Por ora, todas as competições foram suspensas e a única com perspectiva de ser iniciada, até o momento, é o Brasileirão sub-20, que a CBF pretende realizar a partir de 23 de setembro. Enquanto não houver data para o retorno, não faz sentido para os clubes um investimento na retomada dos treinos presenciais, e as práticas a distância seguirão sendo a única alternativa aos garotos.
No Inter, os atletas estão trabalhando há mais tempo, também remotamente. Entre treinos, práticas e atividades físicas, houve também espaço para palestras e integração. Um dos pontos altos foi uma videoconferência do goleiro Alisson, que fez toda sua formação no clube, e ostenta o prêmio de melhor do mundo pela Fifa, titular do Liverpool, atual campeão inglês, europeu e mundial.
São tarefas que ajudam a manter o foco de centenas de guris que não podem trabalhar em conjunto há mais de 100 dias — e seguem sem perspectiva de retomada. Apenas a categoria sub-20 tem sinalização de retorno aos treinos a partir da primeira semana de agosto, se houver a confirmação do Brasileirão e ocorrer a liberação por parte das autoridades. As demais idades ainda dependerão de calendário.
Para isso, o clube e a junta médica montam um protocolo sanitário a ser executado no CT Morada dos Quero-Queros, em Alvorada. O centro também passa por obras, que não pararam durante esse período.
O coordenador da base colorada, Erasmo Damiani, prevê a utilização dos jovens, principalmente da categoria sub-20, pelos profissionais, até pelo calendário do futebol profissional. Segundo ele, o título da Copa São Paulo, conquistado em janeiro, mais a dedicação que o técnico Eduardo Coudet dá aos meninos resultarão em constante presença de jovens. Por isso, entende que o principal prejuízo está em outra faixa etária.
Para ele, os meninos nascidos em 2005 estão no pior cenário. No ano passado, não tiveram competições oficiais, apenas torneios amistosos, porque a categoria é sub-15 e os atletas só podem morar no clube depois de completar 14 anos. Sem campeonatos esse ano, voltariam em 2021 mas já em uma nova categoria, sub-17, porque não tem sub-16, o que dificulta a presença no time.
— Eles terão poucos treinos em uma fase que seria fundamental desenvolver mais. Ficarão praticamente três anos sem disputar uma competição oficial — explica Damiani.
A análise é ainda mais aprofundada. Como a pandemia chegou ao Brasil no início da temporada, poderá causar prejuízos em mais de uma geração, já que o cenário da sub-15 é bem semelhante aos atletas da sub-17, que, no ano que vem, terão de subir para a sub-20.
— Daqui a cinco, sete anos vamos ter um problema na questão técnica do futebol brasileiro. Na Europa, a pandemia chegou no final da temporada, então estão voltando agora. Vão ter um prejuízo menor — conclui.