As ruas de Porto Alegre estavam tomadas de vermelho. Os ingressos para a final da Libertadores de 2006, entre Inter e São Paulo, estavam esgotados há alguns dias. Poucos bilhetes para quem queria assistir à decisão no Beira-Rio ainda eram vendidos por cambistas, a preços exorbitantes. Mas o torcedor colorado fazia questão de desfilar pelas ruas da Capital com a camisa do clube.
Enquanto os jogadores estavam concentrados no Millenium Flat naquela quarta-feira, 16 de agosto de 2006, à espera da partida, os torcedores pareciam ter esquecido trabalho, estudos ou qualquer outra coisa. Tudo era Inter e São Paulo. Só se falava nisso. E só se via isso em Porto Alegre.
— A cidade virou aquela coisa de "é hoje o dia". Desde as primeiras horas tinha bandeiras sendo vendidas nas esquinas, faixas de campeão da América, então o clima era de ansiedade. Não tinha nada de já ganhou, mas claro que tinha muita confiança, especialmente pela vitória fora no primeiro jogo — recorda Zé Alberto Andrade, repórter da Rádio Gaúcha.
Os vendedores ambulantes faturavam com tudo o que fosse possível imaginar sendo vendido. Os produtos iam do tradicional pôster do time campeão à fitinha ao estilo japonesa para a cabeça, em referência à possibilidade de o time ir ao Oriente disputar o Mundial de Clubes pela primeira vez na história.
Mesmo assim, com toda essa expectativa, o torcedor custava a acreditar. O nervosismo, de acordo com Diogo Olivier, à época setorista do Inter em Zero Hora, era evidente na expressão de cada colorado:
— O clima era de tensão. O peso que aquele jogo tinha para a história do Inter e para aquele time é algo que não dá para calcular. A torcida toda estava traumatizada. Aquele jogo foi a terapia do Inter, que tirou um peso das costas, e a partir dali o clube começou a empilhar títulos.
O favoritismo antes do primeiro jogo era do São Paulo, atual campeão da América e do Mundo. O time paulista manteve a base do ano anterior, quando venceu o Liverpool por 1 a 0, em Yokohama. Porém, após a vitória colorada no Morumbi, a equipe gaúcha foi vista com outros olhos.
— Para o país inteiro, o favorito passou a ser o Inter, pela maneira como o Inter jogou no Morumbi. Abriu 2 a 0, poderia ter feito o terceiro, e acabou tomando um gol depois. Mas, para o torcedor do Inter, o histórico, o jogo traumático contra o Olimpia (na semifinal da Libertadores de 1989), não era assim. Era como se o torcedor estivesse vacinado mesmo — lembra Olivier.
Tensos ou não, confiantes ou não, o Rio Grande do Sul parou para assistir Inter e São Paulo. Foram pouco mais de 90 minutos de puro nervosismo. Toda aquela massa vestindo vermelho fosse no Beira-Rio, em casa, no trabalho ou em qualquer outro lugar suava frio. Para o bem deles, Fernandão e Tinga garantiram o 2 a 2 que deu, enfim, a América ao Inter.