É nos bastidores, no meio de dezenas de números, que Adilson Bastos e Youssef Kanaan esmiúçam as estatísticas dos jogos do Inter. Os analistas de desempenho são o suporte da equipe de Odair Hellmann, que ainda tem Maurício Dulac e Caíco como auxiliares. São muitos índices: posse de bola em cada quadrante do campo, velocidade e distância dos passes certos e errados, finalizações, tempo em que a bola fica sob o domínio do time e quanto ela demora para sair do pé de um jogador até rumar para outro.
O conjunto destes dados indica se as estratégias do treinador têm funcionado durante as partidas — e tudo isso em tempo real. Neste domingo (2), no Beira-Rio, às 19h, contra o Avaí, pela sétima rodada do Brasileirão, o processo se repetirá. Com D'Alessandro em campo, Odair buscará aplicar, mais uma vez, um estilo que está dando certo. Principalmente em casa: no seu estádio, o Inter se impõe — e isso não é novidade. No ano passado, os colorados terminaram a temporada garantindo 83% dos pontos disputados às margens do Guaíba. Em 2019, o aproveitamento de 73% corrobora a força caseira colorada. Em 15 jogos, foram 11 vitórias, dois empates e duas derrotas, ambas pelo Gauchão.
A novidade é que estão, no rol de expressões nas extensas e detalhadas coletivas de Odair — e também nos comentários de analistas esportivos —, expressões que indicam um Inter mais agressivo em 2019. Em vez da equipe reativa, que jogava por uma bola em contra-ataques, as novas palavras de ordem são proatividade e repertório ofensivo.
A comparação com a temporada passada é inevitável. Em 2018, os colorados construíram um padrão de jogo que se destacava pela solidez defensiva, mas as chegadas à frente não eram tão recorrentes. A marca da campanha que chegou a brigar pelo título, mas culminou na terceira colocação do Brasileirão, foi o tripé de volantes. Três jogadores com características defensivas tinham mais responsabilidade do que simplesmente proteger a zaga formada por Rodrigo Moledo e Víctor Cuesta: enquanto Rodrigo Dourado era soberano nos desarmes e um dos primeiros a tocar na bola antes de o time partir para o campo ofensivo, Edenilson e Patrick participavam ativamente do momento de transição até o ataque. Nico López e D'Alessandro alternavam-se entre as referências técnicas, e Damião era o centroavante.
Neste ano, o uruguaio não precisa mais sair para dar lugar ao argentino — ao menos em casa. Os dois jogaram juntos em 10 dos 14 jogos do time titular no Beira-Rio e modificaram a postura da equipe em campo. A entrada de Nonato, que ganhou espaço após lesão de Patrick, também colaborou para essa mudança de postura.
— A gente começou jogando com o tripé, que é característico do nosso Inter atual, mas também se abriu possibilidade com um homem atrás do camisa 9. Seja quem for na frente, com duas linhas de quatro ou com dois jogadores por fora, que recompõem um pouco mais, há um meia atrás do atacante. Pode ser eu, pode ser Sarrafiore. A gente manteve muita coisa. Sentimos que não nos encaixamos em só uma característica de jogo. Vai depender muito do que ele (Odair) tem na mão, do momento do jogo e do adversário. Muitas vezes, temos de ser conscientes de que o adversário tem suas armas — avaliou D'Alessandro ao falar sobre o assunto.
Os números colhidos pela comissão técnica mostram essa evolução. Na média, os dados ainda têm muitas semelhanças com os do ano passado. Por isso, GaúchaZH selecionou as últimas cinco partidas do Brasileirão de 2018 e comparou com as primeiras cinco deste ano para mostrar as diferenças que este novo Inter vem apresentando até aqui.
2018
- Posse de bola: 59,6%
- Passes certos: 329,6
- Velocidade do passe: 5,32s
- Finalizações (certas): 8,8 (3,6)
- Lances no último terço: 30,2
2019
- Posse de bola: 59,6%
- Passes certos: 393,6
- Velocidade do passe: 4,84s
- Finalizações (certas): 12,4 (6,4)
- Lances no último terço: 35,8
Reativo x propositivo
Nas conversas de bar, um time reativo seria identificado como aquele que joga mais retrancado, esperando uma falha do adversário para escapar em um contra-ataque. Já a equipe propositiva é a que retém a bola para agredir o oponente. Dificilmente o mesmo modelo entra em campo em todos os duelos. E a forma de se portar em campo, aliás, tende a mudar de acordo com a postura do adversário — além de depender do momento do jogo.
As estatísticas básicas que ilustram esses modelos são posse de bola, número e velocidade de passes. Além disso, os contra-ataques podem ajudar a exemplificar se o time se retraiu mais, na espera por um vacilo do adversário para atacar em velocidade.
Nem sempre é assim
Contra o River Plate, por exemplo, no Beira-Rio, no empate em 2 a 2 pela terceira rodada da Libertadores, o time de Odair Hellmann se comportou de uma maneira no primeiro tempo e de outra no segundo. Tanto que abriu 2 a 0 e depois sofreu o empate.
— Não tem como ser 100% do tempo apenas de um jeito. São estratégias para situações diferentes. O River mudou seu sistema e provocou uma mudança no nosso. Tivemos de defender mais — explicou o auxiliar técnico colorado Maurício Dulac.
Os números mostram como o Inter foi bem mais reativo contra o River Plate, na comparação com o desempenho como mandante ao longo desta temporada.
Números em casa por Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil
Passes
Média: 368
Contra o River: 202
Posse de bola
Média: 50,11%
Contra o River: 37,2%
Passes no campo de ataque
Média: 108
Contra o River: 40
Repertório ofensivo
Mais do que postura agressiva, o Inter tem ido ao ataque de diferentes maneiras. No Brasileirão do ano passado, 14 dos 51 gols foram marcados após cruzamentos na área — fato que diz muito sobre como o time de Odair Hellmann costumava atacar. Neste ano, os números estão mais distribuídos: em apenas um semestre, o número de triangulações foi praticamente igual ao do ano passado, e não há quantidade exagerada de bolas alçadas na área.
Outro índice utilizado para "medir" o repertório ofensivo é o número de vezes em que um time entra ou recebe a bola no terço final do campo — o gramado é dividido em três partes, e é considerada apenas a faixa entre o fim da intermediária e a linha de fundo do ataque. Em comparação com 2018, o Inter esteve mais presente neste espaço de campo.
Como foram marcados os gols
Brasileirão 2018: 51 gols
Triangulações: 10
Jogada pessoal: 2
Cruzamento: 14
Infiltrações: 7
Contra-ataques: 3
Escanteio: 5
Faltas e pênaltis: 11
Temporada 2019: 41 gols
Triangulações: 9
Jogada pessoal: 8
Cruzamentos: 6
Infiltrações: 4
Contra-ataque: 1
Escanteio: 5
Faltas e pênaltis: 7
Ajuda da tecnologia
A mudança de estilo do Inter é auxiliada pelo uso da tecnologia. Inclusive com drones para mapear o trabalho feito durante os treinos, como explica Odair:
— Minha preleção é toda feita com vídeo. A gente usa esse tipo de situação porque a televisão dá o quadro de onde está a bola. O drone que usamos no dia a dia dá a abertura da imagem, para vermos a movimentação dos setores e trabalhar com os jogadores, visualizar uma situação que encaixou. Isso é uma parte do processo, uma ferramenta importante que nos ajuda muito para fazer os ajustes de um jogo para o outro.