Por Amanda Munhoz e Rafael Diverio
Entre as constatações que a derrota para o América-MG deixou, uma delas foi a maior fragilidade do meio-campo do Inter em Belo Horizonte. E o desfalque de Rodrigo Dourado pode ter sido um dos principais fatores para o enfraquecimento da marcação. De volta ao time contra o Botafogo, às 16h deste domingo, no Beira-Rio, o volante de 24 anos está consolidado como peça fundamental na equipe de Odair Hellmann não só pela função tática, mas também pela reserva técnica do grupo e pela ascensão anímica sobre os companheiros.
Promovido aos profissionais por Fernandão, em 2012 (depois de atuar pelo time B), Dourado virou titular definitivo com Diego Aguirre, em 2015. Formando dupla com Charles Aránguiz, ganhou projeção. Dali por diante, entrou treinador, saiu treinador e o guri de Pelotas sempre se manteve entre as unanimidades nas escalações. Entrou em campo 186 vezes. E, na quinta-feira, no Independência, sua ausência comprovou por que é imprescindível.
— Com certeza, o Inter não perdeu só por ele. Mas é um jogador que faz falta, está acostumado a comandar o meio-campo — opina o ex-técnico colorado Muricy Ramalho.
As avaliações do treinador do vice-campeonato de 2005 abordam um ponto importante. A formação lançada por Odair, o 4-2-3-1 com dois volantes e três jogadores de características ofensivas atrás de um centroavante, já havia sido usada algumas vezes. Contra o Vasco, por exemplo, a única mudança na nominata foi a presença de Dourado e a ausência de Edenilson. O 3 a 1 mostrou um time de boa produção ofensiva — foram três gols, 14 conclusões, 54% de posse de bola e certa segurança defensiva, permitindo apenas seis arremates dos cariocas na direção de Marcelo Lomba.
— Quando há mudanças exageradas, pode dar muito certo ou muito errado. No caso do Inter, deu muito errado. E a ausência do Dourado fez parte. Ele vem bem, conhece a posição e a função — analisa Batista, comentarista do SporTV e um dos mais importantes volantes da história do clube.
O conhecimento técnico da função citado pelo tricampeão brasileiro é traduzido em números. Segundo o Footstats, o volante tem 33 desarmes no Brasileirão (perde só para Patrick). Além disso, é o melhor passador do grupo, com 562 acertos em 13 partidas.
— Com Dourado, o Inter sai jogando com a bola, não faz ligação direta. Isso já é uma grande vantagem — completa Muricy.
A constatação dos ex-jogadores realça o bom momento do volante, que chegou a ser questionado após a queda no Gauchão. Dourado foi contestado por torcedores, que consideravam lenta a saída de bola dele. Mesmo naquela época, o analista Eduardo Dias, do Footure, elogiava:
— Ele é um ótimo volante defensivo, que faz o seu trabalho com eficiência, e certa elegância, inclusive. Que ganha 60% dos duelos aéreos no seu campo, que comete poucas faltas, que antecipa mais de seis bolas por jogo e que tem um excelente número de roubadas de bola no campo ofensivo. Está clara a sua utilidade e importância para o time.
Quando não consegue desarmar, Dourado não se envergonha de parar as jogadas. De certa forma, pode-se dizer que há até um certo exagero, já que ele cometeu 38 faltas e levou seis cartões amarelos. No fim das contas, isso também faz parte de um processo de blindagem aos zagueiros Rodrigo Moledo e Víctor Cuesta e ao goleiro Danilo Fernandes.
A sua entrega nos jogos, inclusive, lhe proporcionou um salto na hierarquia. Desde 2017, ele assumiu o posto de vice-capitão do time, ainda sob comando de Antônio Carlos Zago. No atual Brasileirão, significou entrar com a braçadeira em praticamente todas as partidas, já que D'Alessandro atuou em apenas seis dos 15 jogos disputados até agora.
— Da cabine é difícil analisar alguma ascensão sobre os companheiros. Isso normalmente fica no vestiário, na viagem, na concentração, no convívio do dia a dia. Mas a gente percebe que ele vem jogando com confiança. E quem o substitui tem dificuldade para conseguir manter o ritmo — finaliza Batista.
O bom momento de Dourado voltou a chamar a atenção de clubes europeus. Até agora, o interesse não se transformou em propostas, ficando apenas no campo das sondagens. Mas a abertura da janela e a regularidade das atuações reativaram as especulações. O próprio volante, entretanto, já tratou de encerrar a conversa:
— Sempre falam em meu nome (para uma venda). Fico feliz por isso, mas o meu foco é aqui.