Se tem cena que me emociona quando vou ao estádio é ver crianças com a camiseta do Inter e avôs ou avós com sua almofadinha e radinho como nos velhos tempos dos Eucaliptos. Vejo nisso a magia da família, o momento de torcer é também um momento de colocar para fora seus sentimentos. Por vezes, aparece aquele que se passa e comete violências e vandalismos que não conseguimos entender. Queria que eles pensassem que ali naquele mesmo estádio de futebol podem estar reunidas diversas pessoas de bem, que trabalham com honestidade a semana inteira.
Assim como um dia de futebol pode ser de pura magia e paz, em cinco minutos, podemos estar em meio à uma confusão sem ter nem para onde correr. Uma vez, sentado nas cadeiras do Beira-Rio, uma senhora de quase 80 anos assistia concentrada ao jogo, pediu algo para comer, vibrou muito com a partida e até deixou escapar algum nome feio quando o juiz não deu aquele pênalti para nós. Veio o intervalo e ela me olhou e disse: "Estou te reconhecendo da televisão, e como nunca nos encontramos pessoalmente, quero te dizer que todo o domingo acordo cedo e te assisto no Galpão Crioulo. Fazia isso junto com o meu marido que faleceu faz cinco anos. Ele já estava nos seus últimos momentos de vida quando me chamou e pediu para que levasse nossa neta e o nosso neto sempre que desse ao jogo do Internacional."
Exemplo de convivência
Aquilo mexeu muito comigo. Quando algum baderneiro provoca quebradeira e violência no nosso estádio, eu penso que ele não é torcedor, pois quem ama o seu clube não destrói aquilo que foi conquistado com tanto suor. Deveriam pensar, se é que pensam alguma coisa, que nesse mesmo lugar onde eles estão agredindo e sendo agredidos, podem estar passeando de mãos dadas alguém com um coração cheio de amor.
Ali naquela cadeira do Beira-Rio pode estar sentada aquela mesma senhora que me emocionou trazendo os seus netinhos pela mão. Que o nosso estádio, e principalmente o nosso torcedor, dê o exemplo de convivência dos bons tempos.