Contratado pelo Inter para ser o reserva imediato de D'Alessandro na metade do ano passado, Camilo vive momento de incerteza no Beira-Rio. O meia de 32 anos perdeu espaço no time de Odair Hellmann, muito em função de exibições insuficientes em 2018. Para ter uma ideia, em oito partidas na atual temporada, o jogador não fez nem sequer uma assistência nos 380 minutos em que esteve em campo.
Em toda a sua passagem pelo clube, ainda não marcou gols. Agora, está sendo especulado em negociações para o Brasileirão, com nome ligado a Botafogo (o que seria um retorno, após um período de baixa também no Rio), Fluminense e Sport - ainda que nenhuma das partes confirme tal interesse. O Inter garante não ter sido procurado oficialmente por qualquer clube.
No ano passado, Camilo chegou a demonstrar uma faceta de garçom. Foi o autor de oito assistências na Série B, tornando-se o vice-líder colorado no quesito. Antes do Inter, também era considerado um bom passador: em 57 jogos, fez sete gols e deu sete assistências pelo Botafogo. Seus números gerais, segundo o site Transfermarkt, apresentam 23 gols e 22 assistências em 232 jogos (cerca de 15 mil minutos), entre Série A, Série B, Libertadores e liga árabe (jogou no Al-Shabab).
— No Botafogo, Camilo rendeu muito bem por trás do centroavante, o que reduzia a porção de campo que ele precisava cobrir. Não que corresse menos, mas ficava menos obrigado a tarefas defensivas, além da pressão no volante rival. Por uma série de fatores, foi levado a desempenhar no Inter uma função mais desgastante e sentiu. Tanto pelo físico, quanto talvez pela predisposição a cumprir tantas obrigações no jogo — observa Carlos Mansur, comentarista do jornal O Globo. — Houve um momento no Botafogo em que, para tentar ajustar Montillo e Camilo, no início do ano passado, Jair Ventura tentou fazer Camilo recompor entre os volantes. E não funcionou bem. Porque ele demorava a chegar com força perto do gol adversário. Talvez o caminho seja fazer de Camilo, se não titular, uma alternativa na função de segundo atacante — acrescenta Mansur.
A queda de desempenho em 2018 se acentuou a ponto de virar reserva de praticamente todos os candidatos a uma vaga no meio-campo —- no Gre-Nal vencido pelo Inter por 2 a 0, Camilo foi a última opção de Odair, indo a campo aos 40 minutos, no lugar de Victor Cuesta, quando o Inter tentava já no desespero o terceiro gol, que daria ao time a vaga à semifinal do Gauchão.
Camilo começou o ano como titular. Odair Hellmann desejava testá-lo com D'Alessandro, ambos comandando o meio-campo colorado. Mas o Plano A não foi adiante. Perdeu a vaga logo depois da primeira partida da equipe no Gauchão.
Meia do Inter no final dos anos 90, Marcelo Rosa acredita que há uma cobrança exagerada sobre Camilo, especialmente porque o cabeludo camisa 21 não consegue ter sequência na equipe.
— Acho que Camilo não chegou 100% fisicamente ao Inter. Se sofreu repetidas lesões musculares depois que foi convocado pelo Tite (em fevereiro de 2017, o treinador convocou para a Seleção jogadores que estavam atuando no futebol brasileiro, para o amistoso com a Colômbia, em homenagem às vítimas da tragédia da Chapecoense). Por não ser um cara rápido, ele precisa estar bem condicionado e com ritmo de competição. Além disso, chegou ao Inter em um momento de transição, e não conseguiu jogar. Camilo é cobrado pelo que fez nos outros clubes, mas a realidade é que ele não teve sequência. Entra e sai do time. E é ele ou D'Alessandro. Os dois juntos não dá, pois o time perde velocidade e perde dinâmica de jogo. Acho muito difícil que Camilo tenha chances no Inter com o D'Alessandro jogando — entende Marcelo.
D'Alessandro é o titular indiscutível da função, Juan Alano virou o substituto imediato e daí por diante, vários nomes ganharam chance: Nico López, Wellington Silva, Marcinho, Gabriel Dias. Nenhum deles é especificamente meia armador, mesmo assim, todos tiveram mais oportunidades. Quando chamado, Camilo não conseguiu aproveitar as chances.
Para o comentarista do jornal Diário Catarinense e da NSC TV, afiliada da Rede Globo em Santa Catarina, Rodrigo Faraco - que acompanhou de perto a trajetória de Camilo na Chapecoense —, o fraco desempenho do meia em Porto Alegre não chega a ser surpresa:
— Quando Camilo chegou ao Inter, mencionei: "Camilo é um bom jogador, mas não aquele tipo de jogador que carregue o time. Se o time estiver funcionando, ele vai bem. Se o time estiver mal, talvez ele não consiga recuperar este time. Avalio que o Inter fez uma boa contratação, que vai ajudar nesta Série B, mas não espere que ele dê outro padrão e comande o meio de campo. Não este tipo de jogador". É exatamente o que acontece. É o confronto entre a realidade e a expectativa. Acredito que muitos esperavam um jogador decisivo, que ele não é. Vejo que o melhor a fazer é cada um seguir seu caminho. Camilo segue sendo um bom jogador, mas, efetivamente, já deu pra perceber que não deu certo no Inter.
O Brasileirão se avizinha e, para uma transferência doméstica, o atleta pode ter disputado no máximo seis partidas. Camilo não parece ter um futuro como titular no Beira-Rio.
Camilo em números
Na carreira
- 232 jogos
- 23 gols
- 22 assistências
No Botafogo (2016/2017)
- 57 jogos
- 7 assistências
- 7 gols
No Inter, em 2017
- 20 jogos
- 8 assistências
- Nenhum gol
No Inter, em 2018
- 8 jogos
- Nenhuma assistência
- Nenhum gol