Poucos jogadores do Inter atual têm uma trajetória tão curiosa no clube como Nico López. Amado pela torcida, o atacante uruguaio jamais se firmou como titular com nenhum dos seis técnicos que trabalhou em 19 meses: Paulo Roberto Falcão, Celso Roth, Lisca, Antônio Carlos Zago, Guto Ferreira e agora Odair Hellmann. Contratado em 2016, depois de se destacar na Libertadores, “El Diente” foi comprado com ajuda do investidor Delcir Sonda. Mas há ainda um mistério sobre sua utilização relativamente baixa (entrou em campo 72 vezes, somando 4271 minutos): ninguém sabe onde pode render mais.
À parte dificuldades de adaptação – Nico chegou lesionado, depois passou por um problema físico que acabou sendo relacionado aos dentes, depois percebeu-se ser um jogador tímido que demorou a se entrosar com os colegas, depois acabou ganhando status de ser pouco interessado ou de não cumprir determinações táticas –, não está clara qual é a real posição do uruguaio no ataque. Todos os treinadores e companheiros destacam suas virtudes, como velocidade, um contra um e conclusão. Mas ninguém entendeu se deve jogar aberto e enveredar para o meio, partir do meio em direção à trave ou já começar posicionado perto da área.
Logo que desembarcou no CT Parque Gigante, Nico López foi apresentado a Paulo Roberto Falcão, mas algumas lesões impediram mais chances. O ídolo foi demitido, e Celso Roth, contratado. Nico seguiu com poucas oportunidades. Só com Lisca acabou mais utilizado. Na virada do ano, seguiu sendo reserva de Antônio Carlos Zago.
Quando Guto Ferreira assumiu, testou o jogador em duas situações diferentes: primeiro como centroavante. Sem o porte físico da figura clássica da posição, acabou sendo um atacante móvel, mas mais próximo do gol, mas fazer a referência lhe trazia desvantagens. Depois, virou um extrema pela direita no sistema 4-1-4-1, bem aberto, à frente do volante e atrás do atacante.
Mas, afinal de contas, qual seria o local adequado para o uruguaio?
Antônio Carlos Zago, durante seu tempo no Inter, afirmou:
– O Nico não é de beirada, não corre atrás do adversário. Ele joga mais por dentro.
Martín Lasarte, comandante de Nico López no Nacional, concorda:
– Nico se sente mais cômodo atuando com outro atacante a sua frente. Um jogador que seja mais marcado, mais vigiado, mais controlado pelos adversários do que ele, para que possa ter maior mobilidade, ficar mais solto – diz Lasarte. – Não o vejo como um atacante de lado, mas, sim, como um jogador que chega por trás. Nico pode ser utilizado no 4-4-2 ou até mesmo no 4-3-1-2, com ele sendo o 1, pois tem boa técnica e sabe dar assistências. Nico pode se dar bem até com dois atacantes à frente – completa.
Técnico da seleção uruguaia sub-20 em 2013, quando Nico foi eleito segundo melhor jogador do Mundial, perdendo apenas para Pogba, Juan Verzeri dá a receita para a melhor utilização do atacante:
O ideal é que jogue em uma faixa central. Sua força não é a adequada para ser um centroavante que fique de costas e não tem capacidade física para jogar aberto. É um desperdício. Seu lugar é como um segundo atacante ou última posição do meio.
JUAN VERZERI
Técnico de Nico López na seleção sub-20 do Uruguai
– Por potência de definição e tomada de decisões, o ideal é que jogue em uma faixa central. Sua força não é a adequada para ser um centroavante que fique de costas e não tem capacidade física para jogar aberto. É um desperdício. Seu lugar é como um segundo atacante ou última posição do meio.
Odair, que trabalhou com Nico desde sua chegada, já que era auxiliar dos outros cinco técnicos do uruguaio no Beira-Rio, deu chance a Nico como o “1” citado por Lasarte. Mas não descartou movimentá-lo:
– O Nico é um grande jogador, de quem gostamos muito. Tenho usado-o aberto e por dentro. Tem muita qualidade e tem nos ajudado.