"Uh! Terror! Damião é matador!"O grito uníssono de mais de 35 mil colorados na terça-feira embalou a goleada do Inter sobre o Goiás, na atuação mais sólida da equipe na Série B. Aos 28 anos, Leandro Damião voltou para receber dos colorados o carinho que não encontrou nas outras torcidas que representou. O centroavante, uma das armas de Guto Ferreira para enfrentar o Guarani, na 19ª rodada da Série B às 16h30min deste sábado, conversou com ZH. Veja os principais trechos.
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Para começar, já tinhas visto dar certo trocar cobrador na hora do pênalti?
(Risos) O Pottker ia bater, desejei boa sorte. Mas ele me olhou, mudou de ideia e me deixou bater. Agradeci a ele, foi muito humilde. Graças a Deus, saiu o gol e vencemos.
Fazia tempo que aquele goleiro não levava gol de pênalti.
Costumo estudar o adversário, não só o goleiro mas o time inteiro. O pessoal dos vídeos me mandou as cobranças. Temos de estar prontos, até porque goleiro sabe onde o jogador bate.
Te sentes em casa no Beira-Rio?
Ah, com certeza. Estou motivado desde que foi anunciada a minha volta. Eu não tinha jogado no Beira-Rio novo pelo Inter, só contra. É legal ter o estádio lotado, com torcedores apoiando. Foi um momento importante para mim, precisava disso.
Não foi por dinheiro que voltaste. Nem para um campeonato maior. Então, por que retornaste?
Financeiramente consegui crescer e tive a oportunidade de ajudar o Inter a ganhar muito dinheiro com minha negociação também. Então não foi por dinheiro. Voltei porque gosto do Inter, porque sinto carinho. O momento para voltar era agora.
Na terça-feira, quando entraste em campo, o que passou na tua cabeça?
Sou um cara que acredita muito em Deus. Claro, eu perseverei muito. Muita gente falava que eu não seria ninguém. Quando vim ao Inter, meu primeiro contrato era de três meses de empréstimo. Foram dois meses só treinando. Na época que cheguei, tinha Walter, Marquinhos Gabriel, Marinho, que já faziam sucesso na base. Eu nunca tinha jogado. O Ortiz me ajudou muito na época. Fazia treinamentos três vezes por dia. Hoje me sinto mais técnico, mais maduro.
Como foi ouvir teu nome sendo gritado pela torcida?
Foi uma emoção grande também porque entrei com os meus filhos em campo. Quando saí daqui, a minha mulher estava grávida da Heloísa, a primeira. Agora temos também o Otávio. Senti o mesmo carinho quando eu saí daqui, com o torcedor empurrando os jogadores. Os jogadores também entenderam o que é o Inter, um time aguerrido, de pegada. Sempre tivemos jogadores com técnica: Andrezinho, D'Alessandro, Oscar, mas tinha pegada com Bolívar, Índio, Guiñazu. E foi isso que fizemos nesse jogo e que temos de fazer na nossa casa. Já ouvi torcedores dizendo que o Beira-Rio é um teatro. Não é. É o mesmo Beira-Rio, só que mais confortável.
Para quem te acompanha, ficou claro que houve uma troca: o Inter precisava de ti, de um centroavante, mas tu também precisavas do Inter, de ser aclamado pela torcida...
Qualquer jogador gosta disso, ainda mais atacante. No Flamengo, tive a oportunidade de entrar em vários jogos. Não era titular, mas entrava, vinha de uma temporada boa. Era o terceiro jogador que mais marcava gols. Vim para cá com uma motivação muito grande, de devolver o Inter para a Série A e resgatar o carinho do torcedor com o próprio clube. É gratificante. Esse carinho dobra a motivação.
Influenciou na tua decisão de retornar o fato de o Inter estar na Série B?
Sempre acompanhei o Inter desde que saí. Fiquei triste pela queda, com certeza, porque ninguém esperava isso. Mas no momento que o Inter me procurou, não pensei duas vezes. A decisão era minha. Cheguei ao Flamengo, pedi liberação para vir para cá. Vejo no Inter mais oportunidades para jogar. E era um momento em que eu não poderia dar as costas para o Inter.
O que notou de diferente na Série B?
O jogo foi contra o Goiás, que sempre enfrentamos na Série A. Então, não sei dizer muito bem. Vi muitos jogos da B, é mais pegado do que técnico. Às vezes, vamos vencer mais na vontade.
Nós acompanhamos a tua história como Leandrão, depois Leandro, depois Damião. Vimos tua evolução e, de 2013 para cá, o que aconteceu? Esperávamos que tu fosses estourar na Europa...
Amadureci bastante em relação a isso. Saí do Inter e fui para o Santos. Não sabia que tinha um problema de púbis, descobri lá. Comecei a sentir na pré-temporada. Disputei o Campeonato Paulista com dor. Quem tem sabe como é. Dói para tossir, para levantar da cama, para chutar a bola então... Isso me atrapalhou no Santos. E foi uma época conturbada, até pelo valor que eles tinham pago. Fiquei três meses tratando, e a dor sumiu. Do Santos fui para o Cruzeiro, terminei o ano como artilheiro. O time estava em reformulação, tinham saído jogadores como Everton Ribeiro, Ricardo Goulart e estavam entrando novos, como o Arrascaeta. Fui para o Betis, fiquei cinco meses, o clube estava passando por turbulência. O técnico e o diretor saíram, e eles haviam pedido minha contratação. Tinha um jogador da minha posição, que é o ídolo da torcida, o Ruben Castro que hoje está na China. Sempre respeitei isso. De lá, fui para o Flamengo. Fizemos bons jogos, chegamos a brigar pelo título brasileiro. A melhor sequência do Flamengo, que eu lembre, foi comigo jogando.
Como foi esse amadurecimento?
O tempo que fiquei fora vivi muita coisa, conheci muitas pessoas. O grupo do Flamengo era experiente, trocávamos ideias. No tempo que fiquei lá fora, quando não jogava, estudava para melhorar minha performance. Já estou com dois filhos, esposa. Meu pai está no sítio sossegado. Tenho uma cabeça mais tranquila.
O que mudou do Damião de 23 anos que saiu para o Damião de 28 que voltou?
Me cuido mais. Sempre dou o máximo nos jogos, nos treinos. Mas sei me cuidar mais, sei a hora de dar um pique a mais. Não adianta chegar ao jogo e não aguentar.
Voltaste como um dos jogadores mais experientes do grupo. Como isso ajuda a lidar com a pressão?
Sempre terá pressão enquanto o Inter estiver na Série B. Temos de botar na cabeça que temos de fazer nosso papel para subir. Então, jogadores que estão aqui têm qualidade. Quem está aqui hoje precisa aproveitar a oportunidade que é subir com o Inter. Temos de lembrar o que esse manto significa para a gente.
E o que significa vestir essa camisa?
Lembro dos momentos bons, como títulos e a chegada à Seleção e também dos ruins, quando tive lesões e fui abraçado.
Sempre se falou no teu começo na várzea e se elogiou muito o teu estilo de amador, no sentido de fazer o que gosta. Em algum momento, isso se perdeu?
Não digo que perdi. As lesões me atrapalharam muito. Quando o jogador está bem fisicamente, consegue render. Quando estou bem, consigo dar um carrinho. Hoje sei cuidar melhor do meu corpo, por isso as lesões não vêm. Há mais de um ano, não sinto nada, e as últimas vezes foram pancadas. Meu lado varzeano é meu jeito de ser, o jeito Leandro Damião.
Sobre ser um cara de grupo, como é tua relação com D'Alessandro?
Muito tranquila, fiquei cinco anos aqui com o Cabeça. É um excelente jogador, merece a idolatria que tem. Gosto muito dele, sempre me dei bem. Só que quando você está para sair do clube, começam as matérias de coisas que nunca aconteceram. Nunca teve problema. Quando cheguei, ele foi um dos que me abraçaram. Disse que a minha volta vai ajudar muito o grupo e ao Inter a retornar para a Série A.
E com Nico López? Acha que podem jogar juntos?
Nico é um grande jogador, já mostrou isso na Libertadores. Comprovou sua qualidade. O Guto vai decidir quem atua, se tivermos que jogar juntos ou não. Nico é um grande atacante e vai ajudar muito o Inter.
A Seleção ainda é um objetivo?
Seleção Brasileira sempre vai ser o sonho de qualquer jogador. Tive a felicidade de poder ir, ser artilheiro da Olímpiada (Londres 2012), jogar pelo time principal, fazer gols. Fazendo minha parte aqui, tenho chance de voltar.
E Europa?
Também. Estou com 28 anos. Mas hoje a minha prioridade é o Inter. Se tiver possibilidade, tem de conversar.
Você sabe que está a 10 gols de chegar aos cem no Inter?
É uma marca muito boa. Se fizer cem gols, vou para a história. Sou o artilheiro do Inter em Libertadores...
E os dribles? Tuas lambretas marcaram tua carreira.
A gente não pode depender só de fazer gol, tem de dar assistência. Às vezes, um passe de letra deixa o companheiro perto do gol. Tem de ter mais armas. A gente vai aprendendo. A própria lambreta, que trouxe comigo desde os 15 anos. Tive a felicidade de acertar pelo Brasil (contra a Argentina). Aqui no Inter também deu certo, em uma semifinal de Gauchão, contra o Juventude (no Alfredo Jaconi). Tínhamos um jogador a menos e saiu o gol. Até hoje falo com o Tinga sobre isso. São lances que a gente vai tentar. Uma hora vai dar certo, outra dar errado.
Quem era teu ídolo quando começaste a carreira?
Ronaldo. Acho que de qualquer criança, por tudo o que ele fez na vida, pelo que passou, pela superação.
E agora, aos 28 anos?
Continua sendo ele. Também passou por lesões e deu a volta por cima. Claro que nunca posso me comparar a um cara como ele. É meu ídolo.
Em algum momento dessa carreira tu ficaste mascarado?
(Risos) Jamais. Aqui, no Inter, tenho amizades. Os próprios funcionários vêm falar comigo com saudade. Sou cara que dá panetone no Natal, chocolate na Páscoa. Sou muito chegado a essas pessoas, porque também venho de família humilde. Até hoje sigo com os mesmos amigos de infância.
E teu pai?
O pai está sossegado, no sítio. No sábado estará no jogo, dá uma hora de Mogi- Guaçu até Campinas. Agora, está descansando, merece. Ele trabalhava das 7h às 19h para nos sustentar.
Segues bastante ligado a ele?
Antes do jogo, falei com ele. Costumo fazer isso, tento conversar com ele um pouco mais. Tudo o que eu puder fazer por ele, vou fazer.
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