Danilo Fernandes precisará ser épico a partir das 16h deste domingo. Quando o goleiro pisar no gramado do Estádio Centenário, em Caxias do Sul, como titular do Inter na decisão diante do Novo Hamburgo, terá completado 33 dias desde que saiu da sala de cirurgia para operar a base do quinto metatarsiano do pé esquerdo. Não estará 100% em termos físicos, nem em condições psicológicas de total segurança. Mas deve saber já no primeiros minutos de jogo em Caxias do Sul se resistirá até o apito final.
– O início do jogo pode ser determinante. Um dos grandes auxílios que a função de goleiro, a mais exposta em campo, tem é a confiança para jogar. Ele vai sofrer queda, choque e não há como ter qualquer tipo de preservação. Se, no início, ele se sentir confortável e tiver êxito em suas tomadas de decisões, a prática normal e a retomada do fator psicológico virá ao decorrer da partida – entende o doutor em psicologia do esporte Maurício Pinto Marques, formado pela Ufrgs e Universitat Antonoma de Barcelona.
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Ainda assim, com o jogo a seu favor, a dor pode ser mais um adversário de Danilo em campo. Instintivamente, explica Marques, as pessoas tendem a preservar o local lesionado, pensando uma vez mais sobre determinada jogada, atrasando milésimos de segundo suas decisões.
Dor, aliás, é um assunto que José de La Cruz Benítez Santa Cruz, goleiro do Inter nos anos 70 e 80, nem gostaria de saber tanto, mas não teve escolha. Ao longo dos seus 12 anos como profissional, operou os dois joelhos – e o tornozelo de carona – e precisou encerrar a carreira após chocar-se de cabeça com outro jogador em um amistoso, no Alegrete.
– Com o calor do jogo, acabamos esquecendo a dor. É natural que haja uma proteção. E falo mais especificamente do Danilo, já que nunca tive uma lesão muscular na vida como a de Lomba. Poupamos mais o lado que está machucado. Mas depois, supera e vai – lembra Benitez, hoje com 65 anos. – Joguei muito com dor no joelho nos tempos de Inter. Operei os dois meniscos. Demorei quase seis meses para voltar. E, quando voltei, foi com dor. Recuperei com o andar do Campeonato Brasileiro – diz o campeão brasileiro com o Inter, em 1979, e tricampeão gaúcho, de 81 a 83.
A boa notícia, no caso de Danilo Fernandes, é que dificilmente ele sente algo em uma intensidade insuportável na região da cirurgia. Ao menos é o que acontece em casos semelhantes ao dele.
– Após o procedimento, estabiliza. E a dor pode sumir nos primeiros dias. Há o processo de cicatrização do osso, mas é bem possível que Danilo não tenha dor – explica o ortopedista e traumatologista Eduardo Ávila, especialista em pé e tornozelo.
Um alento aos colorados é que, apesar de haver decorrido apenas a metade do tempo previsto pelo Inter para o retorno, ele não está muito longe do limite médico. Hipoteticamente, alguém que tenha feito a mesma intervenção cirúrgica do goleiro precisará de cerca de 40 dias até ser liberado para esforços maiores, como atividades físicas e corridas. Danilo Fernandes teve 33.
– Quando operamos um jogador, temos de dar previsão com segurança, com margem. Acredito que 60 dias fosse previsão com margem de segurança. É bem possível que o Danilo tenha totais condições para o domingo – avalia Ávila.
Dos prejuízos, nem o pós-jogo parece ser tão dramático como a recuperação da parte física e o tempo longe dos trabalhos com bola. A propósito, Danilo não deve ter qualquer prejuízo por antecipar seu retorno, apesar de ter o risco aumentado. A cicatrização já aconteceu e a menos que ele sofra algum tipo de entorse no mesmo pé esquerdo, segundo o especialista em ortopedia e traumatologia, há pouca chance de uma reincidência na lesão da cirurgia. A situação de Marcelo Lomba, no entanto, é mais difícil de prever, em função de o departamento médico colorado não ter informado o local e o grau da lesão muscular.
– Sem treinos em campo, a impulsão e o arranque ficam prejudicados, é inevitável. O goleiro bem-preparado fisicamente joga muito mais fácil. Danilo tem o biotipo magro, o que ajuda. Agora, estar 100% faz muita diferença. E nenhum dos dois parece estar – aponta o ex-jogador colorado.
O certo é que, levantando a taça de heptacampeão gaúcho neste domingo, Danilo Fernandes ou Marcelo Lomba virarão os novos heróis incontestáveis da história do Inter.
* ZHESPORTES