No momento de instabilidade, Charles ganhou o carinho da família. Após a expulsão em Caxias do Sul, diante do Juventude, o volante de 20 anos, teve boa atuação contra o Sampaio Corrêa. Nas arquibancadas do Beira-Rio, estavam os pais, Lisandra e Pedro. Em campo, entrando de mãos dadas com o irmão mais velho, a pequena Manuela, três anos. Os Rigon Matos percorreram de carro os 500 quilômetros entre Santiago e Porto Alegre para incentivar o filho famoso.
– Demos sorte. Ele jogou bem e quase fez um golaço. Antes eu ficava ao lado do campo, berrando e incentivando. Agora, foi a primeira vez que assistimos ao Charles no time de cima, no Beira-Rio – comemorou Pedro Matos, 59 anos, pai de Charles, que levou ao estádio uma faixa com a foto do volante e os dizeres "Orgulho de Santiago, te amamos".
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Contra os maranhenses, Charles atuou na sua função de origem: como primeiro volante. Com Fabinho tendo liberdade para avançar mais – e jogando bem. Suspenso, Charles não poderá enfrentar o São Paulo-RG, neste sábado, pelo Gauchão. Mas, quando voltar, é possível que ganhe uma chance como primeiro volante, com Rodrigo Dourado atuando mais à frente. Após uma atuação irregular no primeiro tempo do Gre-Nal, Charles ganhou um voto de confiança de Antônio Carlos Zago, que o manteve em campo o tempo todo contra o Sampaio e chegou a utilizá-lo até mesmo como zagueiro.
– É normal ter uma queda de rendimento. É o seu primeiro ano no profissional. Na base, não tem pressão da torcida, da direção, desse ano atípico que vive o Inter – comentou Zago, ao destacar o bom desempenho de Charles na Copa do Brasil.
Passado o jogo na Arena, o auxiliar técnico do Inter, o ex-volante Galeano, começou a acompanhar ainda mais de perto o desempenho de Charles nos treinos. Zago passou a cobrar que, nos lances aéreos, ele "atacasse" a bola, em vez de esperá-la. Foi assim que quase marcou contra o Sampaio Corrêa, em um cabeceio., que passou rente ao travessão.
– O desempenho dele no Gre-Nal foi fruto de pura desconcentração. O Inter teve dificuldades no primeiro tempo. Charles amadureceu muito depois do clássico – contou o agente do jogador, Fernando Otto. – E ele está muito consciente que precisa seguir evoluindo. Disse a ele que ser o "Príncipe Charles" ou virar o vilão do time em um jogo basta um erro – advertiu Otto.
Charles começou jogando futsal, em Santiago. Aos 17 anos, foi para o campo, a partir da base do Pelotas. Aos 18, virou capitão do Santo Ângelo, até ser visto pelo Inter e contratado para o sub-20 colorado.
– Charles sempre gostou de jogar de frente, como primeiro volante, para poder sair jogando, passar, lançar. Como segundo ou terceiro do meio-campo, acaba recebendo a bola de costas para o campo – disse Pedro Matos, eletricista aposentado pela CEEE.
Nas conversas diárias entre pai e filho, Pedro costuma conversar com Charles sobre os jogos, orientar o filho e perguntar como foi o dia. Por enquanto, a família permanecerá morando em Santiago, mas não descarta uma mudança para a Capital, dependendo do futuro do volante.
– Nossas conversas são 99% incentivo, mas aquele 1% é cobrança e corneta – brincou Pedro. – A expulsão contra o Juventude, por exemplo, ele acertou o cara (o lateral Pará), é verdade, mas, antes, ele foi caçado no meio-campo. E isso ninguém falou – cobrou o pai de Charles.
Depois de renovar o contato com o Inter até o final de 2020, Charles agora investe em obter o passaporte italiano. O sobrenome Rigon, herdado da mãe, pode garantir em breve um visto comunitário para o jogador. Os direitos econômicos são 100% do Inter – e a multa rescisória bate a casa de impagáveis 60 milhões de euros.
– Sempre digo a ele: pés no chão e siga jogando como sempre – afirmou Pedro.
* ZHESPORTES