Jogar futebol se transformou em sofrimento para Eduardo Sasha. A temporada 2016 para o camisa 9 do Inter chegou ao fim com fortes dores no tornozelo direito, provocadas pelo constante impacto entre os ossos, o que gerou a formação de osteófitos (bicos de papagaio). Correr se tornou sinônimo de tortura. Por isso, Sasha será submetido nesta sexta-feira a sua quinta cirurgia em sete anos de carreira profissional.
Essa será a quarta operação no tornozelo direito. O procedimento, a ser realizado por um cirurgião especializado em pés, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e a previsão mais otimista de retorno aos gramados é para o final de março. A pessimista, para depois do Gauchão. A única certeza é que sairá atrás dos demais na briga por vaga no time de Antônio Carlos Zago.
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Sasha, 24 anos, optou pela viagem a São Paulo porque essa cirurgia será feita em duas etapas: na primeira, haverá a limpeza do tornozelo para a retirada dos bicos de papagaio e algum fragmento ósseo, que haja no local; na segunda, um nervo do tornozelo será corrigido, pois ele também gera fortes dores e limita alguns deslocamentos laterais do jogador. Tal procedimento se espera como definitivo para acabar com o sofrimento de Sasha. Daí, a necessidade de uma parada maior agora.
O tornozelo direito de Sasha passou a ser um problema na manhã de 2 de outubro de 2014. O Inter de Abel Braga se preparava para enfrentar o Cruzeiro, quando uma bolada acertou a ponta do pé direito de Sasha. O lance, aparentemente despretensioso, ocasionou uma rachadura de cerca de três centímetros no maléolo medial (uma protuberância da tíbia, que fica no lado interno do tornozelo). Segundo os médicos do Inter, essa lesão foi causada por estresse mecânico – por conta do movimento repetitivo, o osso perde força, gerando fratura.
Naquele período, perdeu as 13 rodadas que ainda restavam do Brasileirão e, ao final do ano, conseguiu iniciar a fisioterapia. Voltou aos gramados em 2015, foi o destaque do Inter de Diego Aguirre na Libertadores. Isso até as quartas de final, ao final de maio, quando ajudou a classificar o Inter e precisou parar para realizar uma artroscopia no tornozelo direito, justamente porque os articulações começaram a gerar impacto, quando uma bate na outra, provocando dores. Sasha voltou três dias antes do mata-mata com o Tigres. Mas não conseguiu ser o mesmo de antes da parada. E o Inter sentiu a falta daquele que era o seu principal jogador no torneio. Menos de cinco meses depois, Sasha precisou voltar ao hospital. Recebeu uma pancada, de novo no tornozelo direito, o que fez uma lasquinha de osso se soltar e provocar novas dores no jogador.
Cirurgias não são novidade para Sasha. Aos 18 anos, passou pela primeira: para a retirada de proeminências ósseas dos calcanhares, que gerou fascite plantar nos dois pés do meia-atacante. A operação ocorreu no começo da temporada 2011, depois que Sasha embarcou às pressas para o Mundial de Abu-Dhabi, em substituição ao lesionado Glaydson. Sasha ficou quase dois meses parado e, ao voltar, foi aproveitado somente pelo Inter B, de Enderson Moreira.
Dessa vez, a opção de realizar a cirurgia em São Paulo foi de Sasha. O departamento médico do Inter concordou com a decisão do atleta e já fez contato com os cirurgiões que realizarão o procedimento – o Inter, porém, se pronunciará sobre o jogador somente depois da cirurgia. A operação não foi realizada logo depois do Brasileirão por falta de agenda dos médicos do Albert Einstein.
– Ele escolheu parar o tempo que for necessário dessa vez para que possa corrigir para sempre esse problema – disse o pai de Sasha, José Mendes Antunes. – O Eduardo deveria ter feito esse procedimento quatro meses atrás, mas não quis parar porque deixaria o time na mão. No sábado, já estará em casa de novo – acrescentou o pai do camisa 9.
A nova cirurgia completará um inusitado ciclo na vida de Eduardo Sasha. Ele foi o símbolo da conquista do hexacampeonato gaúcho, quando ao comemorar o seu gol nos 3 a 0 na final do campeonato sobre o Juventude dançou a valsa em campo. A icônica imagem de Sasha valsando com a bandeirinha de escanteio, em alusão ao "baile de 15 anos", o período pelo qual o Grêmio estava passando, sem a conquista de títulos de expressão, marcou os colorados e mais ainda os gremistas. Sasha jamais foi esquecido no vestiário da Arena.
Logo no primeiro clássico válido pelo Brasileirão, o Grêmio bateu o Inter por 1 a 0 no Beira-Rio. Ao final do jogo, o lateral Edilson arrancou a bandeirinha das sociais, a da goleira do Gigantinho (a mesma que havia "dançado" com Sasha), em desagravo, e correu para a frente da torcida gremista, comemorando a vitória. Mas o "troco" não ficou apenas nisso. Na saída de campo, após empatar com o Atlético-MG na Arena e conquistar a Copa do Brasil, o atacante Luan e Edilson pegaram bandeirinhas de escanteio para valsar em frente à torcida. Depois, na saída de campo, Luan, abraçado em Edilson, disparou:
– Na final do Gauchão, o Sasha começou a gritar que "aqui não é Grêmio". Não tinha necessidade. A gente queria mandar um recado para ele: a gente é campeão e ele um c...
Sasha jamais respondeu. Ao menos não publicamente.
– O Eduardo chegou a receber três sondagens, de clubes do Brasil e do Exterior, ao final do ano passado. Mas nenhuma delas virou proposta. Ele deve ficar no Inter, sim, e, espero, ter um ano bem melhor – finalizou o pai de Sasha.
Os anseios de Inter e de Sasha parecem se fundir neste 2017. Os dois querem se reconstruir, buscam um recomeço, e o primeiro passo é curar antigas feridas.