Hoje não foi fácil acordar. Abri os olhos e o dia brilhava lindo lá fora. Lavei o rosto, fiz um café e me preparei para o turbilhão de cornetas nas redes sociais. O Whatsapp e o Facebook estavam insuportáveis. Entre um gole e outro, pensava nos nomes que me aguardavam para 2017: Luverdense, CRB, Londrina, Oeste, Boa Esporte... É, a Segunda Divisão realmente chegou. Aconteceu. Um desastre completo. Desliguei o telefone.
Coloquei minha camiseta do Inter e fui para a rua. Caminhei 10 passos e um motoqueiro parou do meu lado. O homem tirou o capacete, me estendeu a mão e disse assim: "Obrigado por vestir a camiseta. O Inter é muito maior do que essa meia dúzia de dirigentes arrogantes. Passaremos por isso e voltaremos mais fortes". Este simples gesto diz tudo. A torcida do Inter não está apenas ferida. Está indignada e pronta para uma imensa reação.
Nos outros anos em que quase caímos, o time se entregou de corpo e alma e encontrou a salvação. Não havia dinheiro nos cofres, não havia pompa, não havia gênios criativos e presidentes fanfarrões nos bastidores. Aquelas equipes se salvaram porque honraram as cores. Soubemos valorizar o suor de jogadores fracos, porém dedicados, que estão até hoje nos nossos corações.
Já o time que caiu foi o mais displicente e descompromissado que passou pela Padre Cacique em toda a história. Por isso a indignação. Dá para contar nos dedos de uma mão quem não merece ser criticado: Danilo, William, Dourado, Valdívia, Vitinho... quem mais? Como pode um time com uma folha salarial de quase R$ 10 milhões por mês cair? Como pode um clube poderoso, com estádio que sediou a Copa do Mundo, cair de forma tão ridícula?
Eu nem vou enumerar a sucessão de erros aqui porque isso foi feito ao longo de todo o ano. O que me interessa, agora, é olhar para a frente. O primeiro passo foi dado. Vitorio Piffero e seu grupo estão varridos do Beira-Rio. Um novo conselho, com várias pessoas identificadas com as raízes do clube, está eleito. D'Alessandro vai retornar para ser o capitão que precisamos. Temos no nosso goleiro um grande líder. Não engoliremos pessoas arrogantes que se acham superiores ao próprio Internacional, e a prova foi dada na última eleição.
Mas eu quero mesmo é falar da torcida. A torcida que não abandonou esse time frouxo e patético em nenhum momento. A terceira média de público do campeonato, atrás apenas de Palmeiras e Corinthians. Essa torcida que viajou muitas horas de ônibus para o estádio do Ameriquinha e cantou até o último segundo enquanto os jogadores pareciam disputar uma pelada no verão de Capão da Canoa. Essa torcida que é a razão de ser do clube, independente do que estiver disputando. É ela que vai tirar o Inter do inferno.
Essa torcida não vai mais admitir o espírito Anderson dentro do campo. Essa torcida tem um recado bem claro para dar a Marcelo Medeiros e Antônio Carlos Zago: acabou a brincadeira. Vamos lotar todos os jogos da Segunda Divisão, forrar o estádio de bandeiras e bumbos e cantar muito alto pela história do clube. Quem não estiver afim, que caia fora e vá jogar em Marte. O nosso campo terá de ser hostil novamente e colocar pressão nos adversários. E a nova direção tem um compromisso com a gente: ingressos baratos, festa liberada e gana de vencer.
Uma faixa, levada pela torcida há anos, diz assim: "Bem-vindos ao inferno". Ela estará lá em 2017. É lá que todos nós estaremos. E é de lá que sairemos como legítimos demônios para exorcizar esse momento terrível com a maior reação que o futebol brasileiro irá vivenciar a partir de 2018.