Danilo Fernandes, o goleiro formado em administração de empresas, é a segurança defensiva do Inter para enfrentar o Atlético-PR neste domingo. Ele falou sobre colegas, Seleção e carreira. Confira:
Aliviado, Danilo?
Sem dúvida. A gente precisava vencer para tirar o peso, sair da zona de rebaixamento, fazer voltar a confiança e dar esperança de uma boa sequência. Agora, só depende de nós para não ser rebaixado. Precisamos manter a cabeça no lugar.
Como foi entrar em campo na zona de rebaixamento?
É a primeira vez na minha carreira que fiz uma partida estando na zona de rebaixamento. Precisávamos vencer de qualquer jeito. É uma situação difícil, mas pelo menos não dependemos de outros resultados, só da gente. Temos a mesma pontuação do Figueirense, o primeiro do Z-4. Por isso tem que ter cabeça no lugar, tem muito jogo pela frente.
O Atlético-PR tem um ataque forte e também o campo sintético. Muda alguma coisa na sua preparação?
Vai ser meu primeiro jogo neste campo assim. Já treinei no sintético, no tempo do Corinthians. É diferente, temos pouca experiência, a bola fica viva, o jogo mais veloz, para todos, não só o goleiro. O domínio tem que ser caprichado, o passe rasteiro. Vamos ter que nos adaptar o mais rápido possível e igualar na vontade, na raça.
O Celso Roth está há um mês com vocês. Dá para dizer que o time tem o jeito dele?
Cada treinador tem a sua particularidade. Não tive oportunidade de jogar com o Falcão aqui, só no Sport. Professor Celso chegou, mudou a metodologia. Mas a confiança voltou, isso é o mais importante. Estar tranquilo no que vai fazer. O Celso é mais enérgico na comparação com o Falcão, o Argel é mais enérgico. Então é isso, o Celso trouxe energia. Em campo, o mais importante é a questão defensiva. O time tinha dado uma oscilada. O futebol hoje está muito pegado, forte. Se der espaço para o adversário jogar, fica correndo errado. Acho que o Celso soube fechar o time, reforçar a defesa.
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Na quinta-feira, você recebeu um passe dentro da área, demorou um pouco, o Ricardo Oliveira entrou correndo...
(risos) Foi o Lucas Lima.
O Lucas entrou correndo e você driblou e saiu jogando. Isso te veio na hora, não sair driblando como o Higuita, mas digo usar os pés para pôr a bola em jogo?
Nunca fui dos piores com os pés. No rachão, jogo na linha e o pessoal acredita em mim, me dá a bola (risos). Mas isso não foi pensado, não. Veio na hora. Não dá para pensar nisso. Se pensar, esquece, vai dar errado.
Mas a sua participação com os pés, o fato de dar mais uma opção para os zagueiros.
Sim, mas tem que ser treinado também. Não adianta dar a bola em mim e achar que vou armar o time, encontrar alguém no espaço ou dar o balão. Tem que tocar e aparecer, até para favorecer o trabalho deles (zagueiros) também. Até porque não vai chegar a bola em mim e eu dar um bicão. Isso vai deixar o adversário mais esperto, que vai saber que ali vai sair jogo, vai se posicionar e me dar mais espaço.
Como foi esse tempo que você não pode jogar?
Foi triste, foi difícil. Cheguei para substituir um excelente goleiro, o Alisson. Estava bem, acredito que estava dando segurança para a equipe. Foi minha primeira lesão muscular na carreira. Ouvi comentários de que vim "bichado", mas não é verdade. Tive fraturas no punho quando era garoto, Mas muscular nunca tive. Fiquei triste e o momento do time não estava legal. Vinha todos os dias ao clube, fazia tratamento em casa. Meu filho queria brincar e eu estava fazendo gelo na coxa. Isso ninguém vê, mas foram dois meses bem difíceis. Mas quem estava do meu lado nesse momento, família, amigos, a gente dá valor.
Foi um tempo grande de parada.
Era uma lesão bem extensa (sofrida contra o Coritiba), mas tratei, voltei a treinar. Estava liberado clinicamente pelos médicos, pelos fisioterapeutas. Mas daí veio uma fatalidade. Treinei a semana toda muito bem. Na última bola do último trabalho antes da viagem (para enfrentar a Ponte Preta em Campinas), senti uma fisgada. Fiz exame e constatou uma nova lesão. Daí paciência, busquei forças de nem sei ontem, tratei, graças a Deus tive a oportunidade de voltar.
Agora, 100%?
Agora mil por cento.
Pergunto isso por que com você em campo o aproveitamento é muito superior. Não que necessariamente seja culpa dos goleiros, mas é uma coincidência.
Como você mesmo disse: é coincidência. Os outros goleiros fizeram o papel deles. Mas não sei o que aconteceu, chegou a um certo ponto que nem nós mesmos conseguíamos dizer o que estava acontecendo. Seguimos trabalhando como sempre, sendo intensos como sempre foi. Veio uma maré em cima da gente que ficou. Mas agora, se Deus quiser, foi embora. Veja: o Jacsson, quando entrou (contra o Botafogo), não tinha nem tocado na bola e já estava 2 a 0, entrou o Muriel, que infelizmente já tinha um clima pesado, ele sabia. É um cara excelente, vi poucos no futebol igual a ele, de um coração enorme, convivemos um tempo aqui e sei que posso contar. O Lomba chegou para ajudar, fez boas partidas, mas o time não conseguia. Daí pude voltar e conseguimos jogar bem.
Como analisa sua partida quinta?
Sabíamos que seria uma partida difícil, o Santos é um time muito bom. Ele deixa jogar, mas como armadilha, para usar o contra-ataque, com o Lucas, que felizmente foi expulso, o Ricardo Oliveira que é um dos melhores finalizadores do futebol brasileiro, ontem teve uma chance e guardou. Não fui tão exigido porque dominamos o jogo, até mesmo antes da expulsão. Só no final do jogo, quando eles se atiraram para empatar, mesmo com um a menos, com bolas aéreas perigosíssimas. Então, resumindo: acho que foi uma partida boa e segura.
Perguntei isso porque tinha mais gente lhe observando no Beira-Rio...
Sim, fiquei sabendo que o Taffarel (preparador de goleiros da Seleção) estava aqui (risos). Antes do jogo, o (Daniel) Pavan (preparador do Inter) me disse que queria falar comigo. Mas daí estava no vestiário, concentrado e não falei nada. Ele veio falar comigo, perguntar se eu não estava curioso. Então me disse: "olha, não quero por mais pressão em cima de você. Quero que sirva de motivação: o Taffarel está aqui para ver o jogo".
Acha que pode ser um sinal de convocação próxima?
É um sinal, acredito que sim. Mas independentemente de ter vindo, que nos deixa feliz pelo reconhecimento. O Brasil vive um grande momento de goleiros. O Vanderlei (do Santos) fez uma partida excelente ontem. Mas a gente trabalha do mesmo jeito: não adianta querer sair em todas as bolas, fazer loucura. Se ele veio ver o jogo é porque gosta da maneira que venho atuando. Não preciso fazer nada além disso, é o que está chamando a atenção dele.
Jogar na Seleção é um desejo de todos os brasileiros, óbvio. Mas ser convocado é uma obsessão para você ou consequência de um trabalho bem feito?
Você disse tudo: a Seleção é o sonho de qualquer brasileiro. É o ápice da carreira. É um sonho meu, claro, um desejo. Não vou colocar como obsessão, vamos deixar acontecer. Isso vem naturalmente. Mas se eu paro para pensar que até dois anos atrás eu era um eterno reserva do Corinthians, nem jogava, só entrava quando não tinha opção. Tenho todo o carinho do mundo pelo Corinthians, foram 18 anos de clube, isso está guardado, devo muito ao Corinthians. Mas eu estava lá apenas para fazer parte do grupo. Não ia para os jogos. Em 2014, não entrei em campo. Depois foi tudo rápido: fui para o Sport, o Magrão infelizmente se machucou, tive oportunidade, entrei e não saí mais mesmo quando ele voltou. Hoje vejo que a Seleção é uma realidade, acredito que tem espaço, sim, e vou batalhar por esse espaço.
Com quem é essa "batalha"?
Que pergunta, hein? (risos)
Ah, você acompanha bastante. E vocês, goleiros, se protegem (risos)...
O Brasil vive um momento muito bom. O Prass mesmo, aos 38 anos foi convocado para a Seleção, vivia um grande momento. O Alisson nem precisa falar, é um goleiro novo e com imposição, personalidade forte. Ano passado teve uma pesquisa para escolhermos os melhores e falei: "Alisson, Diego Alves e Weverton". Uns amigos meus até perguntaram se eu era amigo do Weverton. Respondi: "sou mesmo, mas ele é um dos melhores goleiros do Brasil". Vemos agora que estava certo, ele foi para a Olimpíada e pegou tudo, foi decisivo. A gente acompanha, sabe, vê o jogo, vê a defesa. Um goleiro sabe analisar goleiro.
Ainda sobre goleiros e Seleção: e Marcelo Grohe? Ele foi convocado, mas no retorno levou quatro do Coritiba e voltou a ser criticado até pela torcida do Grêmio.
É muito difícil no Brasil um goleiro que veio da base dar certo no profissional, e não consigo entender isso. O Alisson é a exceção. Se parar para pensar, até no meu caso, vim da base, tinha o Júlio César, também da base, campeão brasileiro e sempre questionado. Daí vinha um goleiro de fora e parecia o melhor do mundo. Não se entende que um goleiro que veio da base e chega no profissional tem qualidade. É difícil falar do rival, mas falo do goleiro: o Marcelo é excelente. Não sei porque, é complicado falar de torcida, não conheço, só vejo em jogos. Mas é assim, torcedor cobra mesmo, é impaciente. Para você mudar isso precisa ganhar títulos – e aqui não tem corneta nenhuma. O Marcelo é um grande goleiro, já jogou na Seleção e tudo. Gosto muito mesmo.
O Mauri Lima (preparador de goleiros do Corinthians) contou que você chegou até mesmo a pensar em parar de jogar. É isso mesmo?
É, sim. Pensei mesmo. A história é complicada. Vinha jogando normal, em uma partida do sub-16 tive uma lesão na mão em uma dividida. Sentia muita dor no punho, fiz um raio X e não deu nada. Segui treinando e levei uma bolada, aumentou a dor. Mas ainda treinava. Isso ficou uns dois meses, tomava anti-inflamatório. Resolvi passar em outro médico que eu conhecia, perto da minha casa. A essa altura já doía a outra mão, porque usava ela para compensar a dor. Então fiz novo raio X e mostrou que tinha os dois punhos quebrados, precisava operar. Então imagina, eu com as duas fraturas tendo que chegar no Corinthians com um laudo de fora. Mas fui, né? Apresentei os exames, eles ficaram malucos. Fizemos ressonância e mostrou a lesão mesmo. Então fiz as cirurgias. Fiz um enxerto do rádio no escafoide, o pior osso para fraturar. No esquerdo, só coloquei um parafuso. No direito foram seis meses de tratamento entre gesso. Voltei a treinar, com movimento limitado e dor. Achei que não era normal e fiz novos exames: tinha um calo ósseo. Fiz artroscopia para tirá-lo. Voltei a treinar, tinha diminuído a dor, mas depois de um tempo, voltou tudo. Abriu a cirurgia, no enxerto. Coloquei o parafuso, outra cirurgia. Voltei a treinar, mas seguia a dor: tinha mais um calo ósseo. Mais uma artroscopia. Assim deu quase dois anos de tratamento e cinco cirurgias, quatro no punho direito e uma no esquerdo. Voltando de cirurgia, perdi a Taça São Paulo, fiquei de terceiro goleiro. Tinha quase 18 anos. Segui treinando, mas contrato estava quase acabando. O preparador da base pediu para renovar por mais um ano, acreditava em mim. Quando estava para vencer a prorrogação, achei que ia ficar sem emprego. Então o profissional fez um treino contra os juniores. Me colocaram nesse treino e fiz umas três defesas legais. Daí o Mauri pediu para ficar e subir para o profissional. O goleiro era o Weverton, que acabou emprestado.
Neste tempo, você começou a estudar.
Quando o contrato estava encerrando, o auxiliar da base me perguntou se eu queria ser preparador de goleiros ou ajudar. Mas não queria muito seguir naquilo, era jovem, tinha 17 anos. Então resolvi estudar. Tinha um primo meu entrando na faculdade e falei que ia estudar com ele. Fui para a administração – o pessoal brinca que quem não sabe o que quer faz administração, né? (risos) Na Uninove, na Vila Maria, em São Paulo. Estudava de noite, saía do treino e ia para a faculdade. Comecei em 2008 e deveria terminar em 2011. Fiz tudo certinho até o último semestre, que comecei a jogar (pelo Corinthians). O Júlio César se machucou, entrou o Renan, mas depois de três jogos o Tite me chamou. Olha a coincidência, era contra o Atlético-PR na Arena da Baixada. Foi 1 a 1 e peguei umas bolas boas. Estava tão nervoso que tive até cãibra. E nas duas pernas. Mas não saí. Então Tite me avisou que ia jogar contra o Santos também. Na Vila, 0 a 0, joguei bem demais. Segui mais um pouco até o Júlio voltar. O Andrés (Sánchez, ex-presidente do Corinthians) renovou meu contrato, me deu tranquilidade. Mas nesse último semestre tive problemas, porque tinha concentração, viagem, perdi muitas aulas. Entrei em recuperação em três matérias, os professores e colegas até tentaram ajudar, mas não tinha mais como. Mas consegui terminar depois.
Isso lhe ajudou no futebol?
É importante, tenho estudo. Claro que não lembro de tudo da faculdade, muito do pessoal que convivia comigo já trabalhava na área, eu não. Não tinha no meu dia a dia. Mas sem dúvida me ajudou a ter uma cabeça melhor, as leituras ajudam no convívio com outras pessoas, de ideias diferentes, pensamentos diferentes. Outra: eu era um cara muito tímido, sou ainda, vou me soltando aos poucos. Preciso de um tempo para me sentir seguro. Mas acredito que a faculdade me ajudou muito até a me expressar melhor, a lidar com certas situações. Foi muito importante. Até os bares, porque ninguém é de ferro (risos). Apresentar o TCC também foi legal.
Qual era o tema?
Marketing esportivo. Estava no Corinthians, peguei umas informações lá de dentro. Mas estava muito nervoso, foi bem legal. E depois de apresentar, um alívio.
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