O que o Inter deve fazer agora, sem técnico? Buscar um emergente? Um medalhão? Qual o perfil desejado? E o problema de a gestão estar na reta final, com eleição ao final do ano? De Mano Menezes a Lisca, passando por Antônio Carlos Zago, Clemer e Abel Braga, o torcedor colorado não sabe exatamente o que esperar daquele que for ungido à sucessão de Argel Fucks – que já assinou com o Figueirense, antes mesmo de o Inter anunciar o seu substituto.
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Zero Hora consultou cinco ex-vices de futebol do Inter, os questionando sobre qual a melhor atitude a ser tomada nesse momento de crise, de perfil de treinador a tempo de contrato. A seguir, veja o que pensam Marcelo Medeiros, Ibsen Pinheiro, Luciano Davi, Luís Anápio Gomes e Roberto Siegmann:
Marcelo Medeiros
"O perfil do técnico depende do perfil da direção de futebol. Se a direção tem um bom comando de vestiário, o clube pode pegar um técnico que fique mais atento às questões da equipe. Mas, se a direção é fraca ou omissa, o clube precisa de um treinador que tenha no comando de vestiário uma característica mais presente. Não dá para contratar um treinador se não souber as deficiências e virtudes da direção de futebol. Mas precisa contratar logo. O Brasileirão não permite demora. O Inter pode ficar para trás em duas ou três rodadas. O clube não pode ficar atrás de um processo de recuperação, que deve ser imediato. O time ainda está em uma posição minimamente confortável na tabela, mas, se seguir assim, se complicará em seguida.
Essa é uma das dificuldades do momento. Passamos por isso com o Clemer (que assumiu de interino, após a demissão de Dunga, e que acabou sendo efetivado, na reta final do Brasileirão de 2013). Mas, hoje, o Inter não tem esse profissional, não tem mais um Clemer, que pudesse dar esse suporte por estar sendo preparado. E é uma ausência sentida no momento. Mas é preciso respeitar o limite da gestão e da eleição ao final do ano. Não dá para comprometer o futuro do clube, pois um treinador que assinar por mais de cinco meses, pode não estar alinhado com o pensamento de quem possa vir a assumir o clube no próximo ano.
O mercado apresenta bons nomes. Não tenho vínculo com técnico algum. Me sinto à vontade. Há currículos invejáveis no mercado brasileiro. Também há treinadores emergentes, como Antônio Carlos Zago (Juventude) e Fernando Diniz (ex-Audax e, atualmente, no Oeste), com excelentes trabalhos, mas que seriam apostas. O Inter é um clube de exigência muito alta. E o momento é delicado, não dá para correr riscos. O importante é que o treinador tenha capacidade de mobilização e que possa recuperar o crescimento técnico da equipe".
Luciano Davi
"O novo treinador precisa ser um que aceite um mandato-tampão, até dezembro. Não dá para investir em um medalhão agora, não dá para pagar essa conta. Ou deixa quem está em casa de interino, no caso, o Odair Hellmann. Mas tem de vir um técnico somente até o fim do ano. Um emergente, como Guto Ferreira (treinador do Bahia), Lisca (Joinville), Rogério Zimmermann (Brasil-Pel). Sem loucuras, sem gastar o que não tem. Um treinador emergente e que entenda de futebol, de métodos de jogo e de formação de time. Isso é o que o clube está precisando. E um profissional que não traga uma comissão inteira junto, pois isso vai quebrar o clube.
Além disso, negociar com um emergente um contrato por cinco meses é muito mais fácil. Esses treinadores sonham trabalhar em um clube como o Inter. E um medalhão não te dá garantia alguma que vai funcionar nesse momento. O Inter precisa brigar por vaga à Libertadores, pois não tem mais como ganhar o Brasileirão. É preciso, sim, pensar em salvar a gestão no aspecto financeiro".
Ibsen Pinheiro
"Depende do que a direção imagina. Em uma temporada que já vai além da metade, em um campeonato extremamente competitivo, como o Brasileirão, o ideal é contratar um treinador pronto. Uma aposta é para começo de temporada. O momento exige alguém que arrume a casa agora.
Um Mano Menezes, Abel Braga, Celso Roth ou Vanderlei Luxemburgo. O meu indicado seria o Mano Menezes. Um técnico experiente, com história, conjuga competência e autoridade. Um novato, por vezes, tem só a primeira. Se o elenco for bem dirigido, ele é suficiente para o restante do Brasileirão. Sobre o contrato curto, somente até o final do ano, é preciso convencer o treinador que a gestão vai só até dezembro. Ou convoca as demais forças políticas do clube e acerta com todos que o contrato será por um ano e meio.
Contratações devem ser feitas de maneira pontual e quando o time está bem. Quando está mal, teria que contratar 22 jogadores? Não, tem que arrumar a casa. Já vi péssimos times com ótimos jogadores e times bons com jogadores medianos. O problema do Inter não está no elenco, está na constituição de ideia de equipe. O time de 2016 até agora não teve uma ideia precisa, tem sido instável na organização coletiva".
Luís Anápio Gomes
"A administração de futebol do Inter poucas vezes teve uma sucessão tão grande de erros como agora. Erros de escolha, de procedimento, de relacionamento interno... O futebol sempre foi resultado. É a essência do jogo. Mas é preciso ter uma visão mais ampla, nas vitórias e nas derrotas. É possível saber se haverá sucesso ou não dependendo de como o trabalho é desenvolvido. O Inter não teve isso. Foi líder do Brasileirão de forma ilusória. Era certo que aquela campanha não se sustentaria. Há dificuldades para contratar um técnico. Ocorre que as pessoas precisam se sentir seguras para trabalhar, se sentir confiantes para fazer um trabalho a longo prazo, e a dificuldade hoje vem do comportamento da administração do Inter nessa gestão. Os nomes óbvios de técnicos já se negaram. Não conseguem exercer a profissão assim.
O Inter precisará buscar alguém que aceite um contrato até o final do ano ou começar errado, fazendo um contrato por um ano e meio. De qualquer maneira, qualquer solução agora, será temerária quanto ao tempo de contrato. Pelas circunstâncias nas quais o Inter foi lançado, eu investiria em Celso Roth. A torcida não vai gostar? Pode ser. Mas a circunstância leva a ele. Ou ao Antônio Carlos Zago".
Roberto Siegmann
"Experiência, sem fazer aventuras, contrataria Clemer. Ele conhece o clube, as categorias de base do Inter e dos outros clubes, é colorado e disciplinador. E certamente aceitaria um vínculo até o final do ano, pois espero que seja respeitada a eleição, e que não se contrate um treinador por mais de um ano. Ou buscaria o Celso Roth. É honesto, uma qualidade que respeito muito, tem autonomia, tem vontade própria, luta pelo que pensa e não fica na aba de ninguém. Além disso, trabalha muito. E, no Inter, acho que está faltando ser menos boleiro e trabalhar mais. Roth tem conhecimento técnico, tático e é disciplinador. Como a direção é fraca, precisa alguém forte no vestiário.
E o Celso já nem tem tanta resistência entre a torcida. O torcedor aprendeu a conhecer o Roth, a conhecer o Inter e, sobretudo, a conhecer Vitorio Piffero. Agora, o torcedor quer apenas poder dormir em paz, sem sobressaltos. Roth pode fazer a torcida dormir em paz e, quem sabe, até sonhar com a Libertadores. Ou pode escolher ter pesadelos, com Vanderlei Luxemburgo, talvez buscando ainda mais um técnico daqui a três meses".
* ZH ESPORTES