Naquela tarde de domingo, 26 de setembro de 1954, o atacante do Inter Larry Pinto de Faria estava apreensivo. E não era para menos. Porto Alegre vivia um dia especial. O Estádio Olímpico havia sido inaugurado uma semana antes, com 38 mil gremistas comemorando uma vitória contra o poderoso Nacional de Montevidéu. O Grêmio prometia uma festa inesquecível contra seu maior rival na nova casa, então luxuosa para os padrões da época. Larry, que veio do Fluminense e aprendeu a amar o Inter, sabia o tamanho da responsabilidade. A questão não era perder ou ganhar o primeiro clássico do Olímpico, e sim não fazer feio. Mas o que aconteceu naquela tarde foi sobrenatural, mágico, digno de pertencer à eternidade.
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Com uma atuação espetacular no segundo tempo, o Inter aplicou uma goleada que ecoou para sempre no folclore do Gre-Nal: 6 a 2, de virada. Quatro gols de Larry, um de Jerônimo e outro de Canhotinho. O "Rolinho", apelido dado à equipe que sucedeu o Rolo Compressor da década de 1940, entrou para a história colorada neste dia. Até hoje os rostos dos jogadores daquele time, como Bodinho e o próprio Larry, são vistos em bandeiras e cantados em músicas no Beira-Rio.
Aos 81 anos, quando a partida completou 60 anos em 2014, Larry se emocionou ao lembrar de detalhes do primeiro Gre-Nal do Olímpico em entrevista ao repórter Mauricio Tonetto, ao Torcedor Colorado ZH. Confira:
Qual é a sua principal lembrança da tarde de 26 de setembro de 1954?
Aquele Gre-Nal, antes de mais nada, foi a inauguração de um estádio moderno para a época. O Grêmio teve uma participação brilhante no primeiro jogo contra o Nacional, e a expectativa da torcida era que fizesse uma grande partida contra o Inter, que seria fácil até. Mas fomos surpreendentes e metemos seis, foi uma coisa fantástica. A torcida do Inter, que estava do lado oposto das sociais, vibrava. Jogamos muito bem, foi excepcional, deu tudo certo, uma coisa de louco. Estávamos, olha…
É verdade que o goleiro do Grêmio abandonou o jogo?
O Sérgio Moacir Torres se irritou e saiu de campo depois do quinto gol. Só para você entender, no quinto gol eu, o Bodinho e o Jerônimo entramos na área tabelando. Fiquei na cara dele (goleiro) e parei a bola, quase como um deboche, e coloquei para dentro do gol. O estádio ficou com a impressão de que eu perguntei para ele “vem cá, em que canto tu queres que eu jogue?”. E aí ele saiu do gol. Nós fomos atrás dele, isso não podia acontecer. O Sérgio era um cara muito fechado, irritado. Depois que encerrou a carreira, ele acabou treinando o Inter e conviveu conosco. Mas não falava daquele Gre-Nal, ficava nervoso. Ele sentiu os 6 a 2.
Como foi a festa no vestiário depois da goleada?
Fantástica. Na inauguração do Olímpico, que era um monumento para a época, o Inter tinha um estádio modesto (os Eucaliptos). O do Grêmio era uma coisa luxuosa. Então, se esperava muito deles, e nós revidamos assim. Antes do jogo, nosso clima era de apreensão, o estádio estava lotado, o Grêmio tinha um time muito bom e imaginávamos um embate duríssimo. De repente, com o desenrolar da partida, houve uma atuação fantástica. Nós saímos do normal. Não se imaginava fazer seis, que coisa desagradável seria, né? (Risos)
Qual era o segredo daquela geração do Inter que você fez parte?
O toque, tratávamos a bola com muito carinho. Tinha eu, Bodinho, Luisinho, Jerônimo, Canhotinho e Chinesinho. Era um time extremamente habilidoso. Essa foi a base campeã do Pan-Americano de 1956 contra a poderosa Argentina, que tinha feito 5 a 1 na Seleção Brasileira um ano antes em São Paulo. Lembro que estávamos no México para a disputa, no hotel, e os argentinos chegaram. Perguntados como seria o Pan-Americano, eles disseram que recém tinham goleado o Brasil e que aquela seleção (maioria do Inter) não passava de um time regional. Isso nos deu uma força para entrar em campo que não foi brincadeira. Era assim com a gente.
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Boas lembranças
Em entrevista, Larry relembrou inauguração do Olímpico: "Acharam que seria fácil e metemos 6"
O ex-atacante colorado falou em 2014 sobre a goleada de 6 a 2 no Gre-Nal de 1954
Mauricio Tonetto
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