Vitorio Piffero marcou parte de sua gestão rejuvenescendo o elenco do Inter e reduzindo drasticamente a folha do time. Enquanto sonha com o hexa estadual, o presidente projeta reforços para a disputa dos torneios do segundo semestre. Sabe das dificuldades que uma equipe ainda em formação enfrentará, mas, bem a seu estilo, aposta que o Inter terá chances de conquistar o Brasileirão.
Na entrevista a ZH, Piffero fala sobre finanças, compras, vendas, novos contratos de TV, a punição a William, o adversário da próxima fase do Gauchão, entre outros. A seguir, os principais trechos.
Leia mais:
Sasha destaca a importância de Aylon no ataque do Inter
Inter treina com Fabinho na lateral direita para encarar o São José
O Inter teve superávit no último balanço. Ocorreu devido ao empréstimo do ano passado?
Não. Com o empréstimo, alongamos a dívida. Tínhamos um pagamento muito forte de dívidas bancárias em 2015. Alongamos isso para 36 meses. Mas de uma maneira tal que, em dezembro, com a dívida alongada, deveremos menos do que quando nós assumimos. As dívidas escalonadas, sem adiantamento. Foi uma engenharia financeira positiva.
A venda do Alisson está no balanço neste ano?
Sim, ele foi vendido no final de 2015. Tanto a Roma quanto a Juventus queriam o jogador. Colocamos o mesmo preço para as duas agremiações. O Inter queria 5 milhões de euros por 50% do jogador. O empresário não aceitava renovar, colocamos o preço, e as duas aceitaram. Eles tinham de se resolver com o empresário. Essa foi a dificuldade. Em dezembro, foi feito o documento.
Como estão as finanças?
Em 2011 e 2012, houve o primeiro contrato de televisionamento, onde os clubes receberam R$ 30 milhões como luvas, até 2015 ou 2016. No ano seguinte, em 2012, os clubes receberam mais R$ 30 milhões, para alongar até 2018. Então, os clubes ficaram cheios de dinheiro. Assim, os contratos foram elevados, salários aumentados por conta dessas luvas. Neste ano, está acontecendo algo similar. O Esporte Interativo ofereceu R$ 40 milhões. Quem assinou por seis anos, pela TV fechada, recebeu esse valor. Nós assinamos por dois anos, mais quatro, dependendo da aprovação do Conselho. Não recebemos os R$ 40 milhões. Líquido dá R$ 12 milhões. Neste aspecto, os outros clubes estão melhores.
O Inter já está negociando as outras mídias?
Eu entendo que não precisa ser agora. Já me posicionei neste sentido, tanto no âmbito dos que já assinaram quanto em conversa com representantes da Globo. Temos bastante coisa pela frente. A Globo detém os direitos até 2018. O segundo aspecto é que vamos negociar em conjunto, combinamos isso com o presidente do Santos e os que assinaram com o Esporte Interativo. Até onde vai ser possível? Não sei.
Inter e Santos têm força suficiente ou precisarão agregar outras forças?
Não tenho dúvida de que, quanto mais agregar, melhor. Essa atitude fez com que houvesse uma mudança para todos os clubes. Todos os clubes passaram a ganhar mais. Foi extremamente positivo. Criou-se, estabeleceu-se a concorrência. Quando há concorrência, a venda do serviço cresce. Então, sob este aspecto, é importante a entrada do Esporte Interativo.
O Inter se arrisca mais neste momento do que outros clubes?
Se não houvesse Inter, Santos e os outros, estes clubes que não assinaram estariam ganhando bem menos. O benefício se estendeu. Quem vai ganhar mais lá na frente, não sei. Uma coisa posso afirmar: essa negociação conjunta, cada um sabe o que cada um está ganhando. No outro caso, são suposições.
Recente auditoria apontou para “descontrole” das contas.
Temos um Conselho Fiscal independente. O Conselho não apontou nenhuma ressalva. O que é ressalva? Vou falar uma que tem em todos os balanços: o clube tem que fazer um plano de cargos e salários. Este ano, apresentamos o plano. Parece que, no ano passado, havia oito ressalvas. E não falo da gestão anterior, falo da minha mesmo. Tem uma auditoria independente que também não apurou nenhuma ressalva. Os dois disseram que as contas estavam em condições de serem avaliadas e aprovadas. O Conselho Fiscal, há alguns anos, contrata uma auditoria para ajudar. Esta auditoria identificou deficiência do processo de controle de adiantamento cuja soma total é de R$ 800 mil no total. Essa é uma deficiência. A deficiência é o tipo de demonstração, tipo de controle. Isso foi avaliado pelo conselho e não foi considerado motivo de ressalva.
Foram coisas pontuais?
Pontuais. É uma deficiência no processo de controle. Não é deficiência no controle.
O Inter pretende acabar com essa deficiência?
Claro, já está implementado. E isso acontece todos os anos. Em 2002, eu era vice de finanças. Pagávamos direitos de imagem e a maioria dos jogadores mostrava nota fiscal no final do ano, ou não apresentavam porque não tinham, não tinham empresas. Isso acontece todos os anos, reiteradas vezes. Este ano, foi o único fator apresentado. O próprio Conselho Fiscal entendeu que não era motivo para ressalva, e a assembleia também, por sua maioria. Mas evidentemente que é mais importante isso, um eventual fator negativo, do que o balanço em si, que é o maior e melhor balanço da história do Inter. É o maior em faturamento, é positivo e sem ressalvas. Mas maior e melhor do que esse, não tem.
Esse superávit não pode ser avaliado pelo "benefício" do empréstimo e/ou Esporte Interativo?
Esporte Interativo é 2016, essas são contas de 2015. Do empréstimo de R$ 60 milhões, R$ 1 milhão foi de IOF. Então, entraram R$ 59 milhões. Deste, foram pagos empréstimos anteriores com R$ 30 e poucos milhões. Sobraram R$ 22 milhões de dinheiro líquido, quitamos contas de quase R$ 30 milhões, que conseguimos desconto. E isso aí diminuiu o endividamento do clube e organizou o fluxo de caixa. Superávit não tem nada a ver com o empréstimo. E também não quer dizer que tem R$ 27 milhões em caixa. No ano passado, teve R$ 40 e poucos milhões de prejuízo. É difícil um clube ter superávit.
Como estão as situações de Scocco, Forlán e Luque?
Sobre o Luque, o clube foi pago. Pagamos as compras do Paulão e do Alex, que eu me recorde. Não estava pago. Pagamos o Caio, quando veio, e o Aránguiz, que também foi comprado. Quando vendemos o jogador, pagamos. Não houve acordo com o Forlán, porque chamamos para negociar o dólar. Queríamos negociar e, dentro daquele processo de maximizar o resultado do empréstimo, o desconto foi insignificante. Continua na fila. Não tivemos como fazer acordo.
Suas gestões sempre foram marcadas com títulos importantes. Essa será marcada como?
Estamos revelando muitos jogadores da base, em um trabalho excepcional. E firmando esses atletas. Com essas contratações, estamos fortificando o elenco para termos um grupo bom para disputar o Brasileiro de maneira forte.
Não é um grupo mais modesto em relação aos anteriores?
Não vejo assim. Ele está com muitos jogadores da base. Mas volto a dizer que estes reforços que estão vindo, mais experientes, ajudam a formar o elenco.
Mas há o risco da adaptação dos estrangeiros.
São riscos. Eu acho que, se não trouxer jogadores, estamos nos arriscando também. Falaram muito do Anderson, nunca vi um jogador tão perseguido. Ele chegou, não estava bem. Esse ano começou bem e é sempre criticado. Até o momento em que passou ser protagonista, e não tem mais como criticar. O estrangeiro também, pode se adaptar mais rápido. É o risco que se corre, mas não tem alternativa. São jogadores importantes.
Quantos reforços mais virão?
Acho que uns dois ou três.
Juan Quintero não veio por qual motivo?
Vocês já me conhecem e não me viram falar de jogadores que não foram contratados.
E Teo Gutiérrez?
Houve uma mudança bastante grande nas condições financeiras. Aquela história de volta e meia dar uma recuada, para se avançar. Mas acho difícil.
A folha do Inter está em R$ 5,5 milhões. A ideia é aumentar o gasto com o futebol?
Sim. O Inter faz jus a uma folha maior. Tínhamos de fazer o que fizemos, de readequação. E temos condições de repor algumas posições que a gente acha importante.
Dourado será vendido?
O Inter é um dos clubes que vendem. E, com isso, aumentou o faturamento e o número de títulos. Quando vem uma proposta boa, tem que ir. Houve proposta boa para o Aránguiz e para o Alisson.Esta é a fórmula que vamos usar. Surgiu proposta? Vamos vender. Mas vendemos bem, por valores significativos.
Você vê o Inter campeão brasileiro com Argel no comando?
Sim. Por que não? O Argel está com uma grande campanha, tem uma identificação grande no clube. Tem boas ideias, o time está acontecendo. Acho que estamos bem.
Qual sua opinião sobre a punição do William?
Excessiva. Todo o episódio foi excessivo. Todos os jogos têm situações com o mesmo teor, com cotovelada. Lamento dizer, mas faz parte. Foi excessivo. Aquela lesão ocorreu aos 3 minutos, e ele correu até os 45. Ocorreu uma pressão, à qual o tribunal se deixou levar. Nós mesmo alegamos que no jogo anterior do Grêmio, o Luan, sentado, tentou agredir. Mostramos isso e não houve denúncia. Por quê? Temos que ver direitinho. Na realidade, ele se defende de uma investida do Bolaños, que lamentavelmente se machucou. Mas o Bolaños correu mais 43 minutos, cabeceou, se jogou no chão. Mas enfim.
Na ida de D’Alessandro ao River ficou combinado que poderia vir um jogador do clube argentino. Não evoluiu?
Não evoluiu. Haveria um jogador que viria da base para cá, mas acabamos não concretizando. O River pagou a primeira de duas parcelas de US$ 300 mil.
A instabilidade política afeta os clubes?
Não, não vejo. Brasil já passou por outra situação similar, como o impeachment do Collor. Mas não afeta, não entra no futebol. O que entra no futebol é o país estagnado, quando o país para. Isso mexe no bolso, no emprego das pessoas, que deixam de vir a campo, comprar produtos ou pagar a mensalidade. Isso sim afeta, mas pelas questões financeira.
O clube tampouco se posiciona, ainda que a presidente tenha lutado pela reforma do Beira-Rio?
Clube é apartidário, não se posiciona. Não permitidos nem podemos permitir qualquer tipo de manifestação.
Qual a sua expectativa para o Inter e São José?
O São José tem a segunda melhor campanha. O nosso jogo lá pela Recopa Gaúcha foi difícil. É uma grande equipe.
O gramado sintético do Estádio Passo D’Areia atrapalha?
Não. É muito mais psicológico, como altitude. Acho que é a mesma coisa. É aprovado pela Fifa, o que tem é choradeira. Vale mais pela matéria de vocês (risos). Quantos se machucaram em gramados naturais?
Acompanhe o Inter através do Colorado ZH. Baixe o aplicativo:
*ZHESPORTES