O jogo contra o Novo Hamburgo, quem diria, virou de alta tensão. A série de quatro jogos sem vencer, o quinto lugar no Gauchão, a falta de horizonte no trabalho do técnico Argel e a falta de resposta de Anderson fazem borbulhar o Beira-Rio. Por tudo isso, o time entra em campo pressionado a partir das 16h deste sábado em um jogo que, em situação normal, seria corriqueiro. O ambiente ficou ainda mais pesado com o protesto da torcida na manhã da Sexta-feira Santa.
Sob chuva, cerca de 50 torcedores da Popular foram com seus bumbos cantar e soltar foguetes diante do portão 7, ao lado da torre 8. O treino era fechado, mas quem estava do lado de dentro do estádio garante que as cobranças à direção e, principalmente, a Anderson foram ouvidas sem qualquer distorção. Para engrossar o caldo da crise, um bate-boca entre o meia e uma torcedora de 16 anos no Instagram viralizou na internet. Na discussão, o meia usou palavrões para ofender a adolescente, que cogita ir à Justiça contra o jogador.
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No final da manhã, depois que o ônibus da delegação deixou o Beira-Rio e tomou o caminho do CT escoltado por seguranças, o vice de futebol Carlos Pellegrini atendeu a ZH na sala de reuniões do vestiário, a poucos metros do Guaíba. A calmaria das águas do rio e os ovos de Páscoa personalizados do Inter que os jogadores ganharam de presente quebravam um pouco a tensão vivida minutos antes no estário. Mas o semblante fechado dos jogadores deixou claro o teor da partida deste sábado. Pellegrini garante que a instabilidade do time é fruto da remodelação do grupo. Ele elogia Argel e aposta que, com a chegada dos reforços nas próximas semanas, seu trabalho dará os resultados que a torcida espera. Confira trechos da conversa.
Qual avaliação destes primeiros três meses de 2016?
Faço avaliação positiva dentro do que foi planejado. Não são os três meses do ano, mas o trabalho que começou com a chegada do Argel. A recuperação no Brasileirão e o início de 2016 são parte do mesmo planejamento, de fazer uma remodelação de equipe, verificar na base jogadores que poderíamos trazer para o grupo principal. Primeiro, precisamos ver com quem podemos contar desses que subiram. A partir desse momento, estabelecemos parâmetros de contratações para aquelas posições que avaliamos carentes.
Como você avalia o rendimento da equipe?
Não é um rendimento excepcional. Mas acho que, dentro do que planejamos, está dentro do curso. Desde o início do ano, venho mantendo essa posição de que o time e o grupo oscilariam. São jovens, sentirão de uma forma ou outra. Alguns resultados não serão como pretendíamos. Agora, temos apenas uma derrota no ano, em um jogo no qual dominamos no primeiro tempo e relaxamos no segundo (diante do Veranópolis). Temos muitos empate? Temos. Mas não temos derrotas. Creio que isso é positivo. É um curso que seria demorado, mas agora começa a se encerrar no momento em que se prepara o time para o Brasileirão.
Os resultados omitem, muitas vezes, um rendimento baixo. O Inter empatou com São Paulo, Lajeadense e perdeu para o Veranópolis. Isso não causa preocupação?
Não me preocupa, porque estamos trazendo jogadores para qualificar o grupo. Senão, já teríamos uma posição mais afirmada em relação ao grupo de trabalho. Os resultados estão vindo e esse grupo é suficiente? Não. A questão de jogar bem virá na medida em que tudo for se encaixando. Fizemos o que era necessário (a mudança no grupo).
Como você avalia o padrão tático do Inter de Argel?
No ano passado, quando o Argel iniciou, foi um trabalho de recuperação. Não havia tempo para treinar, era jogo domingo e quarta. Ele não conseguiu fazer a parte tática. Neste ano, teve tempo para isso. Mas as peças vão se encaixar ali na fremte. O Argel trabalha muito, não tenha dúvida quando a isso. Mas preciso qualificar o grupo. Não adianta ele só estabelecer um conjunto e as questões táticas se o jogador não responde. Mas precisa começar a organizar isso para, quando as peças chegarem, ter estabelecido a forma de o time jogar. Argel tem seus sistemas definidos, o trabalho está sendo muito bem feito. Vamos dar a ele a oportunidade de iniciar o Brasileirão com o time bem definido.
Você vê evolução de 2015 para 2016 no dia a dia do trabalho de Argel?
Sem dúvida nenhuma. Uma evolução muito grande. Não conseguimos atingir o rendimento programado. No momento em que tivermos todas peças à disposição de Argel, vamos chegar ao padrão estabelecido.
Depois desses três meses de avaliação, você conclui que precisará de mais contratações do que o previsto?
É uma questão de adequação daquilo que tínhamos em janeiro para agora. Fizemos a avaliação, mas não fica muito distante do que queríamos buscar.
Muito distante quanto?
Não é em número. No início do ano, por exemplo, sabíamos que precisaríamos contratar volantes. Mais dois eram necessários. Trouxemos o Bob e o Fabinho. Perdemos nosso ídolo, D'Alessandro. Temos de trazer para a função e estamos finalizando a contratação do Quintero. E temos jovens, como Valdívia, que está machucado. Em outras posições, vários jogadores deram a resposta que a gente queria: Andrigo, Alisson Farias, Aylon, Artur, que se firmou.
Para o Brasileirão, com esse grupo o Inter teria dificuldades. Quantos jogadores precisa contratar?
(Com esse grupo) não teríamos certeza de Brasileirão tranquilo. Temos de ter um time competitivo para buscar o título brasileiro.
Para isso, quantos jogadores viriam? Argel falou em um nove e um 10. É suficiente?
Vamos qualificar em todos os setores. Temos de trazer um goleiro para disputar a posição com o Muriel (com a saída de Alisson). Para a zaga, será necessário mais um. No ataque, como Valdívia só voltará no meio do ano, temos que buscar não só o nove específico, mas mais um atacante. Só que jogadores qualificados estão na Libertadores ou em reta final de suas ligas na Europa. A janela se encerra dia 20 de abril. Até lá, precisamos estar com algumas coisas referendadas. Se não, só em junho. Precisamos de mais um, dois jogadores por setor.
Mas no Gauchão é impossível inscrever. Com esse rendimento de agora acredita que seja possível disputar o título?
Esse rendimento é tu que estás dizendo. Da mesma forma que perdemos jogadores para o jogo com o Fluminense, perdemos para o Gre-Nal. Mas, é claro, temos de melhorar. Tenho certeza de que temos condições de disputar o título com esse grupo. O que temos de buscar é aquilo que jogamos contra o Juventude e no Gre-Nal. Caiu o rendimento em função de perda de um ou outro jogador.
Como tem sido o tom da sua conversa com Anderson? Qual o nível de cobrança sobre ele?
O Anderson precisa fazer por ele. O clube dá todas as condiçoes para isso. Ele teve alto rendimento por três jogos seguidos, todos os jornalistas o elogiaram. Se ele jogou assim, pode repetir. Se caiu nas últimas partidas, é uma questão que a comissão técnica tem de buscar. Ele pode ser protagonista.
Mas ele não mostra condições de ser o substituto de D'Alessandro.
Até porque são jogadores de funções diferentes.
Falo na questão de hierarquia técnica.
Primeiro, o D'Alessandro não tem substituto. O Inter pode vir a ter outro ídolo, mas um ídolo nasce, vem ao natural. Quanto tempo ficamos sem ídolo, de Falcão até o Fernandão? Do Fernandão ao D'Alessandro foi um período curto. Não adianta sair buscando um ídolo para o lugar do D'Alessandro, não vai se conseguir. Ele é insubstituível. Esse ídolo terá de surgir em algum momento. Pode nascer dentro do grupo. O Valdívia é um jogador protagonista.
O Inter não se preparou para a sucessão do D'Alessandro?
Isso passa muito por gestão. A diretoria que assume não pode pensar só em seus dois anos. Começamos a estabelecer em 2015 uma gestão para o longo prazo. Não importa quanto tempo ficaremos, importa o Inter. Quando remodelamos esse grupo, trazendo jogadores da base, é para construir o Inter pensando a longo prazo. A gestão anterior tinha de ter programado o Inter sem D'Alessandro. Ficamos muito em cima desse ponto porque é difícil fazer a sucessão de um D'Alessandro. Não fomos nós que não planejamos. Não posso pensar antes de 2015. O presidente Vitorio Piffero não estava aqui. Essa reestruturação que estamos fazendo não acontecia havia tempo. Desde 2007, 2008.
Você imaginou que esse jogo de sábado teria essa carga com protestos da torcida?
É natural que a torcida faça esse tipo de pressão e protesto. O time não vem rendendo como ela quer. Tem que protestar dessa forma e, durante o jogo, apoiar, empurrar o time. Se o torcedor não enxerga o time como gosta, com vitórias significativas e atuações de alto padrão, tem que se manifestar mesmo. Cabe à diretoria tentar encontrar o caminho.
Você disse que Argel merece uma chance com reforços. Mas uma derrota para o Novo Hamburgo pode mudar isso?
Não posso falar em hipótese, sobre algo que não aconteceu. Vamos esperar o jogo com o Novo Hamburgo. Vamos ver como será o rendimento da equipe. Com relação ao Argel, tenho total tranquilidade de que o trabalho está sendo bem feito e de que ele vai continuar com a gente.
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