Em março, o sócio colorado voltará a decidir o futuro do clube. Desta vez, a pergunta será se ele quer ou não que um Conselho de Gestão governe o Inter juntamente com o presidente, a partir de 2017.
Se o associado optar pela mudança, a eleição do final do ano já apresentará chapas que atendam às necessidades dessa nova formatação. O Conselho Deliberativo do clube aprovou que a alteração no estatuto do clube vá à votação. Assim, caso a proposta seja vitoriosa junto aos mais associados, o Inter passará a ser comandado por cinco pessoas, já em janeiro. O presidente seguirá tendo o poder de decisão sobre os rumos do clube, mas ele precisará levar determinados temas ao debate no Conselho de Gestão.
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O Inter passaria a contar com cinco integrantes no Conselho de Gestão (de forma oficial chamados de presidente, 1º vice-presidente, 2º vice-presidente, 3º vice-presidente e 4º vice-presidente). Três deles precisariam ser eleitos, enquanto que os outros dois serão convidados até cinco dias após a eleição - esses dois precisam ser conselheiros com, no mínimo, quatro de anos de mandato, além de sócios do clube por pelo menos 10 anos. Todos têm direito a um voto nas decisões dos temas do clube, deliberando por maioria simples - com todos os deveres previstos em lei, inclusive respondendo civil e criminalmente pelo cargo. O voto de minerva, em caso de empate, cabe ao presidente. Além dos gestores, que não serão remunerados, o clube contará com outros 10 diretores executivos ou "vice-presidentes operacionais", esses, sim, todos remunerados - como ocorre hoje no clube, com profissionais contratados para as áreas executivas do futebol, do marketing e do departamento jurídico, por exemplo.
Serão oito pastas fixas (futebol, patrimônio, finanças, jurídico, administração, marketing, planejamento, negócios estratégicos e contratos imobiliários e patrimoniais de longo prazo) mais duas pastas "móveis", dependendo da escolha ou da necessidade da gestão vigente.
- É a espinha dorsal que vai permitir dividir responsabilidades com o presidente, sem tirar a autoridade do clube. Por outro lado, tem a adaptação à nova legislação do Profut e a ampliação do poder do Conselho Fiscal. Coisas que eram necessárias e que estamos implantando. O Conselho de Gestão será um órgão central do clube, porém, na forma como foi aprovado, não engessará o Inter. Não deixará o presidente liberado para tomar decisões unilaterais. Além disso, ele estará acompanhado por pessoas qualificadas. Mas é do presidente a palavra final - explica o vice-presidente jurídico, Giovani Figueiredo Gazen.
Caso o Conselho de Gestão seja o sistema aprovado pelos sócios colorados, na eleição de março, um segundo passo será dado: a definição de um teto salarial para os futuros diretores executivos do Inter. A formatação do Conselho de Gestão foi inspirada em grandes empresas, líderes de mercado em suas áreas. Flamengo e Sport são os principais exemplos desse modelo de administração atualmente no futebol brasileiro.
- O Inter está com o melhor dos estatutos de todos os grandes clubes. A mudança estatutária começou em 2014, quando fizemos uma mudança importante, com a cláusula zero para presidente. O Conselho fortalece o presidente, protege o clube e faz com que se olhe para o futuro do clube, com coisas estratégicas. Temos coisas importantes, que ultrapassam a gestão do presidente. Por exemplo: negócios com a China, o futuro do Gigantinho, o CT de Guaíba, relação Inter, Brio e Andrade Gutierrez _ explica o vice de administração, Alexandre Limeira.
Oposição questiona modelo
A reformulação do modo de gestão dos clubes, que deixaria de ser presidencialista e passaria a ter um Conselho de Gestão, ainda é visto como embrionário no Brasil. Para o consultor de marketing e gestão esportivo Amir Somoggi, o "negócio futebol" seguirá muito diferente do modelo utilizado pelos times europeus. Quase amador, com direções lidando com faturamentos superiores a R$ 300 milhões por temporada, por vezes, gastando mais do que isso, e apelando para empréstimos bancários.
Segundo Somoggi, em tese, um Conselho de Gestão traria mais profissionalismo aos clubes, já que os cinco mandatários teriam o mesmo peso nas decisões. A compra de um jogador não seria assunto apenas do futebol, o negócio de expansão de alguma área não teria de passar apenas pelo patrimônio e negócios administrativos também teriam de ser avalizados por uma comissão.
- Ninguém está capacitado. Há faturamentos de R$ 300 milhões, e gastam mais do que isso. Para funcionar, cada um deveria ser expert em algum assunto: um no futebol, outro no marketing, e assim por diante. Seriam cinco nomes capacitados para gerir a "empresa". O futebol seria só um pedaço deles. Na prática, hoje, isso não acontece - acredita Somoggi.
José Amarante, candidato à presidência do Inter pelo Movimento Sócio Deliberativo, foi contra o modelo aprovado para o Inter. Vice de administração na gestão Giovanni Luigi, ele entende que o próximo presidente do clube terá ainda mais poderes, caso o sócio aprove o projeto:
- Sou favorável ao Conselho de Gestão, mas não da forma como esse foi aprovado. O presidente tem direito a escolher duas pessoas para o Conselho. Assim, mesmo que os dois vices eleitos sejam contra o seu pensamento em alguma votação, os outros dois ungidos por ele certamente não votarão contar ele. Ou seja: o presidente terá mais poder ainda. O Conselho de Gestão não será do Inter, será do presidente. Essas reuniões para deliberar acabarão se transformando em um encontro entre amigos. O presidente poderá ratificar o que quiser. Dessa maneira, vai engessar a administração, além de tirar a importância do Conselho Deliberativo.
* ZH Esportes