A menos de duas semanas para o retorno às atividades no Beira-Rio, Alex curte o final das férias com os pais e a família no interior do Paraná. Trabalha e aprimora a parte física por conta própria para que a pré-temporada, a partir do dia 4 de janeiro, seja menos sentida. Por telefone, atendeu a ZH, quando fez um balanço de 2015, projetou o novo ano, avaliou a demissão de Diego Aguirre e a contratação de Argel, além revelar um quadro de depressão que teve seu ápice na metade do ano após a goleada por 5 a 0 sofrida no Gre-Nal da Arena. Sobre sua condição no grupo do Inter, foi enfático:
- Cada um tem seu momento de protagonismo. Eu não trabalho para ser vendido, para ter um contrato melhor. Eu tive de ganhar o Mundial interclubes, os quatro títulos internacionais (Libertadores, Recopa e Sul-Americana) para ganhar o que esses meninos hoje em dia, graças a Deus, ganham. Eu trabalho para o Inter. Não tenho vaidade.
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Qual o balanço de 2015?
Foi um ano bom, faltou a conquista maior, que é a Libertadores. Foi um ano positivo, tivemos bons momentos, e momentos que deixamos a desejar em termos produtivos. Com a qualidade que temos, se colocarmos esse final de 2015 em 2016 podemos sofrer menos para vencer jogos e melhorarmos a produtividade.
A troca de treinador foi definitiva para os resultados do Inter?
Não acho que isso tenha sido o problema. É o todo. A gente não venceu a Libertadores por detalhe. Tivemos lesões. Isso afeta física e psicologicamente, porque hoje em dia isso está muito ligado. Quando você está bem psicologicamente, você se sente melhor, mais forte. Chegamos à semifinal da Libertadores e não estávamos no nosso melhor.
A preparação física teve culpa?
Eles nunca tinham trabalhado com uma carga de jogos e sequência como a do Brasil. Eu tenho certeza de que hoje, no Atlético-MG, o Diego fará coisas diferentes, vai ajustar a maneira de trabalhar. Eles trabalharam em um clube que tinha tudo à disposição. Até se assustaram em um primeiro momento, pois queriam pegar bola, pegar cone. O pessoal disse "Calma, calma, vocês têm tudo aqui, cada um faz o seu". Eles são competentes, sem dúvida. Mas às vezes até davam uma certa folga porque também estavam fatigados. O futebol brasileiro exige muito, te pressiona demais. Talvez, a dificuldade foi criar uma estrutura um pouco melhor. De repente, e aqui eu falo como uma crítica construtiva sobre o Fernando (Pignatares, preparador físico de Diego Aguirre), eles tinham de ouvir mais as pessoas ao redor, que já estão no lugar, e dar ouvido a estas pessoas.
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Alguém do vestiário aconselhou eles sobre a preparação?
Isso é normal. Colocar sua opinião e até mesmo sugestão de algum tipo de trabalho. Se, em algum momento, pedimos para dar uma baixada, não é porque estamos com preguiça. Se pedirmos para treinar mais não é porque as coisas estão erradas. Eu lembro bem naqueles jogos contra o Atlético-MG (nas oitavas de final da Libertadores) que ele fez uma estratégia comigo, com o Lisandro, com o Jorge Henrique. Passamos o tempo, rodamos o jogo, desgastou. Saímos vivos do Independência e parecia que o Diego era o cara. E ele passou a ser um Zé Ninguém muito rápido. Não teve tudo errado, não.
O que mudou com a chegada do Argel?
O Diego tem um perfil diferente do Argel. Ele chama a atenção de forma mansa, no carinho, sem voz alta. Ele não é assim e a gente nunca vai exigir que seja. O Argel sacudiu todo mundo. É trabalho, é cobrança, é disciplina, horário, respeito aos limites. Ele nos despertou para nos sacrificarmos de novo. Sem sacrifício você não se eleva profissionalmente. Por isso surgiu o Vitinho, o Anderson, o Réver, o Paulão.
Grupo prefere este estilo mais sanguíneo?
O jogador brasileiro precisa de trabalho. Ele é sem-vergonha. Se desfoca muito rapidamente. Ele aprende a roubar em um treinamento. Nem todo mundo tem a consciência profissional de que é preciso treinar para si e não para o outro. Isso eu já ouvi do Marcelo Oliveira, do Muricy Ramalho, do Tite, muitos outros treinadores falando. Eu, com 33 anos, tenho autonomia para dizer que não é fácil você dirigir um clube do tamanho do Inter. Não tem a ver com boicote, mas o jogador brasileiro às vezes se cansa de determinado nome. A gente questiona as trocas de treinador, mas o jogador brasileiro parece que se sacode com trocas de treinador. O Argel chacoalhou a madeira. Por que o Anderson e o Vitinho não rendiam antes o que renderam agora? Porque, de alguma maneira, eles não conseguiram produzir por determinada situação ou se sentiam desprestigiados.
Como vocês reagiram após a goleada de 5 a 0 para o Grêmio?
Já tinha sido assim com a Chapecoense, ano passado, e por coincidência, jogamos contra o Fluminense na rodada seguinte. Tem uma ferida dentro de mim por causa desses dois jogos de uma maneira que você não tem noção. Depois dos cinco no Gre-Nal, teve também a questão da Libertadores, eu não estava me reconhecendo, eu não tinha condições para falar (com a imprensa). É a primeira vez que vou falar isso: eu passei a fazer terapia, passei a tomar remédio, entrei em depressão. Mesmo assim eu tinha de jogar. Não queria dizer isso, usar isso de alguma maneira. Hoje me sinto bem. Não é só questão dentro de campo. Tem coisa de fora que entra no campo.
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No ano passado, você chegou a chorar após a partida seguinte à Chapecoense.
Às vezes a gente não quer externar algumas coisas, por que não precisa e até porque não deve. Tudo parece, né? Tem o achismo por trás. Por tudo você é julgado, analisado. E, quase sempre, você é condenado. Tudo no Brasil é assim: política, saúde, educação. No futebol não seria diferente. Você toma de cinco e já vem análises de que você quer boicotar o João, o Pedro, o Diego, o Muricy. E não é isso. Só porque o cara ganha "x". Jogador tem de ganhar mesmo. Ele é a estrela, o protagonista, o artista principal. Sem ele não teria direção, presidente, médico. Parece ser um crime ganhar bem no futebol. Por causa de um resultado o cara passa a ser mau caráter, vagabundo. O cara vai lá no aeroporto jogar rojão na gente, te chamar de vagabundo, de velho. Passa dois jogos o mesmo cara diz que você é rei, é maestro. Isso abre uma ferida muito grande e você tem de parar em uma clínica para se tratar. Eu, graças a Deus, tenho uma família, pessoas por trás que me dizem "vem cá, o que está acontecendo contigo?".
Você pensou em largar o futebol?
Não, mas pensei em não renovar com o Inter. Você acha que a indefinição para renovar não me sugou? Claro que sim. Me atrapalhou. O Nilmar foi embora e agora ele é mercenário. Não pensa no clube. Mas na hora que você gosta do clube, quer ficar no clube, as pessoas não te querem. Só o jogador é culpado. Só o treinador é culpado. Tem de se saber quem está querendo apenas sugar o dinheiro do clube e quem está se dedicando. Fiz quase 40 jogos no ano e dizem que eu sou velho. Mas não falam que o Alex corre atrás de um lateral, passa a bola para o companheiro fazer gol, chega junto em um volante. Parece que as pessoas não vêem isso. Às vezes é preciso ter um coadjuvante para que outros possam ser protagonistas. É uma equipe.
Houve o sentimento de que o Inter não queria renovar contigo?
Isso era o que todo mundo via. Até o momento que eu sentei na frente do presidente e disse: "Vem cá, vamos ser honestos um com o outro? Você me quer aqui?". Quando ele me disse: "Quero", eu nem titubeei para renovar. Ficou aquela coisa arrastada, um diz aqui, outro diz ali. Em uma reunião, olho no olho, em cinco minutos, resolvemos. Eu tive oportunidade de ir embora, ganhar mais do que eu ganho aqui hoje. O Inter me devia dinheiro há dois anos, eu ainda parcelei. Tenho amor por Porto Alegre. Mas não posso fechar portas. Me senti desprestigiado? Lógico. Mas quando houve o olho no olho, fechou. Vou ficar.
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O que te incomodava para você se negar a dar entrevistas?
Era um misto de tudo: imprensa, a parte interna do clube, o torcedor. A ferida que ficou em mim depois do Gre-Nal de o cara me chamar de vagabundo eu não admito. Não tem ninguém ali que está enganando o clube. O nível de respeito que eu tenho pelo Inter é muito grande. Eu não admito que o cara me chame de mercenário. Eu não sou chinelinho. Ser chamado de vagabundo eu não admito porque não sou. Teve um jogo que eu acabei discutindo com um torcedor que é algo que eu nunca imaginei fazer. Eu estava me sentindo tão ofendido que extrapolei. Eu sou bem-sucedido? Claro. Mas ralei muito para chegar onde cheguei. Nada me veio de mão beijada: Libertadores, um Mundial, Libertadores com o Corinthians, Catar, Rússia. Ninguém foi lá comigo, ninguém passou o que eu passei. Não admito que me chamem de vagabundo porque eu não chamo ninguém de vagabundo, nem os que estão fazendo por onde de serem chamados assim.
Você é protagonista ou coadjuvante no Inter?
Se eu precisar ser um coadjuvante importante, e eu posso ser, também vou te dizer que posso ser um protagonista. Sei que tenho condição para isso. Mas se você pegar eu e o D'Alessandro marcando mais, se sacrificando mais, naturalmente você terá uma margem menor. Se jogarmos mais perto do gol, nossa margem certamente aumentará. É o que converso com ele. Eu aprendo muito com o D'Ale. Tive a felicidade de jogar com dois dos três maiores atletas da história do Inter: Fernandão e D'Alessandro. Da mesma maneira que eu sugava do Fernandão, eu tento sugar do D'Alessandro. Da responsabilidade que ele tem dentro e fora do campo, que é pesada, ele assume muita coisa. O ano de 2016 do Alex será de um atleta participativo, competitivo, sabendo que não sou sou apenas um jogador de dentro de campo. Tenho de participar junto com o D'Ale e das outras lideranças de responsabilidades além do campo. Ajudando a direção, os jovens, a comissão técnica. Com tudo o que acontece no grupo do Inter só o treinador não dá conta.
Como é tua relação com o D'Alessandro?
A gente não se frequenta as casas, mas eu vou no aniversário dele, ele vai no meu. Ele mora lá perto de Viamão, eu moro na Zona Sul, para ir em um churrasco o cara tem de fazer uma viagem. Nossa relação é bacana. Na concentração tomamos um mate juntos, conversamos, ele pede opinião. Ele é o que comanda e a gente acaba sendo coadjuvante com essa liderança que tem. Mas é preciso esse trabalho ao redor para não sobrecarregar ele. Eu adoraria jogar com ele. Quase não jogamos esse ano. E a gente acredita que tem condição, ao menos em algum momento do jogo, atuar juntos.
Existe essas lendas de relacionamento do vestiário, de que alguns jogadores não se dão bem. Como você lida com isso?
Essas lendas são plantadas por alguém. Elas vêm de algum lugar. Se a forma é intencional, para criar caso, quem disse é um ser humano que não merece nada na vida. É tão pobre criar isso que não merece nem ser citado. Por exemplo: o Diego Aguirre ouviu tanta coisa de mim que eu sequer imaginava. Isso eu também nunca falei para ninguém. Foi falado que o Alex não treinava, que jogava pouco, que ficava no DM, que só atrapalhava, que era laranja podre, que não aguentava jogar os 90 minutos. E um dia ele chegou para mim e disse: "Estou vendo tudo diferente disso".
Você sabe de quem veio essas declarações?
Ele, naturalmente, me disse de quem eram. A gente jogou contra no Catar, a maioria das pessoas falaram bem de mim, lá e aqui, tinha uma informação que contrastava. Imagina a cabeça do cara como ficou? (risos).
O que a torcida pode esperar do Inter em 2016?
O torcedor tem de estar animado. torce para um clube dos mais vitoriosos nos últimos 10 anos. Não temos de ficar olhando o sorvete do seu amigo do lado. Podemos pegar nossa barrinha de canela e se deliciar com aquilo que temos. Teremos um Gauchão tranquilo, vai ser só o Estadual. Podemos ir em busca do Hexa, esquecendo um pouco a Sul-Minas, que não tem validade alguma. Aproveitar o período do Brasileirão para chegar nas oitavas da Copa do Brasil com uma campanha convincente e consistente. O calendário é favorável para conquistarmos os resultados.
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