Três dias após o Brasil ser campeão do mundo em 1970, Porto Alegre foi palco de uma recepção apoteótica para seu representante na conquista do Tri. "Toda a cidade foi ver a volta de Everaldo", estampava a capa de Zero Hora de 25 de junho daquele ano, dia seguinte do retorno do lateral ao Rio Grande do Sul.
O único gaúcho na Seleção Brasileira que encantou o planeta foi criado em uma pequena casa de madeira da Rua Ludolfo Boehl, no bairro Glória, na Capital. Filho de um estivador e de uma empregada doméstica, Everaldo Marques da Silva tinha 25 anos quando entrou para a história do futebol brasileiro ao participar da conquista do Tri. Quatro anos depois, o jogador do Grêmio morreria em um acidente de carro na BR-290.
O avião Caravelle da empresa Cruzeiro do Sul que trouxe Everaldo de volta ao Rio Grande do Sul foi recebido ainda no ar por quatro caças Gloster-Meteor da Força Aérea Brasileira. Eram 15h do dia 24 de junho de 1970 quando o gaúcho ilustre desembarcou em Porto Alegre com uma réplica da taça Jules Rimet e uma bandeira do Brasil. Na pista do aeroporto, vestindo jaqueta marrom com franjas, foi recepcionado, entre outros, pelo prefeito Thompson Flôres e pelo presidente da Assembleia Legislativa, Otávio Germano, além da diretoria e jogadores do Grêmio.
Ao lado da esposa, Cleci, da mãe, Florinda, e da filha Denise, então com um ano e oito meses, o jogador subiu no trono montado em um caminhão e saudou as milhares de pessoas que foram recebê-lo. Em seguida, percorreu algumas ruas da Capital.
A cada esquina da Avenida Farrapos, bandas colegiais tocavam marchas e muito papel picado voava pelos ares. Foguetes faziam parte da trilha sonora. Quando o veículo com Everaldo chegou à esquina da Mauá com a Borges de Medeiros, a Bambas da Orgia esperava o campeão com sua empolgada bateria. O lateral chegou até a dançar e depois passou a acenar para a multidão.
A recepção uniu tricolores e colorados. Zero Hora descreveu assim a comemoração: "Foi uma festa monumental, onde o azul e o vermelho cantaram em paz. Porto Alegre nunca viu uma coisa igual. A cidade estava assistindo, sem dúvida, a maior recepção a uma personalidade. Havia de tudo. Homens, mulheres, muitas crianças, gaúchos a caráter, mexicanos fantasiados. Bandeiras do Grêmio e do Brasil em profusão, e algumas do Internacional. O Marabá (do bairro Glória), seu primeiro clube, estava com dois caminhões lotados de torcedores."
Após quase quatro horas, Everaldo chegou ao seu apartamento, que estava lotado de familiares, amigos e imprensa. O lateral tentava conversar com a filhinha Denise, mas a toda era abordado. Entre os presentes que lhe esperavam, uma "cadeira do papai" e um terno novo. Sobre a recepção em Porto Alegre, declarou:
— Eu sabia que ia ser um negócio, mas confesso que me surpreendi. Nunca pensei que chegasse a tanto.
Com o tornozelo inchado pelas batalhas no México, o lateral ainda aguardava os US$ 13 mil de premiação pelas duas últimas partidas do Mundial — já havia recebido US$ 4,5 mil pelos quatro jogos iniciais. Também pensava em buscar o Dodge Dart que havia ganhado de uma empresa de veículos e a joia oferecida pela Casa Masson. Para a semana seguinte, já era aguardada a sua reapresentação no Grêmio. Duas semanas após ser campeão do mundo, era esperado para enfrentar o Flamengo de Caxias, no Olímpico.