Em mandarim é 艾克森, mas pode chamar de Elkeson. A começar pelo nome, os nove anos no futebol chinês mudaram muito a vida do atacante pretendido pelo Grêmio. O período foi suficiente para ele se naturalizar, mudar de posição, marcar gols, muitos gols, e fazer história no país de Xi Jinping. Após rescindir contrato com o Guangzhou FC no fim do ano passado, o atacante analisa propostas para retornar ao futebol brasileiro.
Por ter tido uma carreira curta no Brasil e não ter passagem pela Europa, a volta do alvo gremista terá menos impacto do que as de Hulk e Ricardo Goulart. Mas nos números, a passagem dos três pela China são similares. Elkeson, de 32 anos, marcou 156 gols defendendo o Guangzhou e o Shanghai Port F.C, média de 0,55 gols por partida. O atacante do Atlético-MG teve índice de 0,53 gols, enquanto Goulart atingiu média de 0,6 gol por jogo.
Desse total, 122 foram marcados na Liga Chinesa, o que o torna o maior artilheiro da história do torneio. A verve artilheira foge um pouco das características daquele atacante de lado que foi revelado pelo Vitória e se firmou com a camisa do Botafogo. Parte da explicação está na mudança de posicionamento do jogador.
— O Elkeson teve impacto muito grande quando chegou ao Guangzhou, em 2013. Em 2016 ele se juntou ao Shanghai SIPG que tinha um projeto de desenvolvimento a longo prazo (seis meses depois chegou Hulk e no ano seguinte Oscar). A partir daí, passamos a ver um Elkeson centroavante de mobilidade, somando apoios e abrindo espaços para a infiltração de quem vinha de trás. Por fim, uma versão menos goleadora mas bem mais coletiva. Em julho de 2019, o Guangzhou recontratou o atacante que voltou a se destacar com gols e foi o artilheiro da equipe na edição 2021 do Campeonato Chinês — analisa Leonardo Hartung, jornalista que cobriu o "Chinesão" entre 2016 e 2020.
Os gols transformaram o maranhense de Coelho Neto em uma figura importante no país asiático. Acumulando grandes jogadas e títulos e sem ter passagem pela Seleção Brasileira, virou peça-chave para o projeto de fazer a China retornar à Copa do Mundo. Em 2019, Elkeson se naturalizou para poder atuar pela Seleção Chinesa. Até aqui foram 13 jogos e quatro gols, insuficientes para garantir a presença dos chineses no Catar.
Como a China não permite a dupla cidadania, o jogador abdicou do passaporte brasileiro. O que faz com que, caso seja contratado pelo Grêmio, ocupe uma vaga de estrangeiro no elenco. O processo pode ser desfeito, mas Elkeson teria de abrir mão de jogar pela China.
Em nove temporadas na Ásia, o alvo tricolor venceu duas vezes a Champions League Asiática, comemorou cinco títulos da Liga Chinesas e ergueu um troféu da Copa da China.
— Acho que ele tem nível para retornar bem e se sobressair na Série B. O problema é o atual período de inatividade. O último jogo oficial do Elkeson foi pela Seleção Chinesa em novembro, então vai ser necessário ter cautela com o jogador para que não haja nenhuma queima de etapas no processo de readaptação — acrescenta Hartung.
O Grêmio abriu conversas com o atleta. Livre no mercado, Elkesson fez pedida compatível com as possibilidades do clube, e as tratativas prosseguem. O negócio precisa ser fechado até 12 de abril, quando se encerra a janela de transferências para os clubes das Séries A e B.
— Foram nove anos incríveis, inesquecíveis. Cheguei na China no final de 2012, num futebol sem tradição mundial, campeonato desconhecido, mas apostei que daria certo. Não poderia ter escolhido melhor. Gostaria de agradecer muito a todos que me receberam e me trataram muito bem desde a minha chegada, aos torcedores, companheiros que jogaram comigo... Eu cresci como atleta e pessoa, ajudei no desenvolvimento do esporte no país e recebi esse reconhecimento. Saio com sentimento de dever cumprido e muita gratidão — declarou Elkeson em sua despedida.
O departamento de futebol gremista vê em Elkeson um atacante polivalente, podendo jogar pelos lados ou como centroavante. Apesar de ser opção para duas posições, a intenção é de trazê-lo para ser uma alternativa a Diego Souza. Aos 36 anos, o titular do ataque tricolor têm convivido cada vez mais com problemas físicos.