Atual campeão do Campeonato Turco e da Copa da Turquia — com direito a gol na final —, Souza está na melhor fase de sua carreira. O ex-volante do Grêmio vive seu auge técnico e entende que poderia, inclusive, ter sido lembrado em alguma das últimas convocações da Seleção Brasileira. GaúchaZH bateu um papo com o jogador do Besiktas e falou sobre planos para o futuro, estilo de jogo e da amizade com Maicon.
Os gremistas ainda lembram bastante de ti aqui no Rio Grande do Sul.
Tenho muito carinho com o Sul, pelo Grêmio. É um lugar onde fui muito feliz. Até hoje recebo mensagem de torcedores. Torço muito pelo Grêmio quando assisto aos jogos. Tenho três times no Brasil: Grêmio, São Paulo e Vasco. Fico muito feliz de ter jogado no Grêmio e ter representado esta camisa.
Você está jogando no Besiktas. Na última temporada, conquistou o Campeonato Turco e a Copa da Turquia, inclusive fazendo gol na final. É a melhor fase da tua carreira?
Sem dúvida. É a melhor fase da minha carreira. Estou muito mais experiente e confiante, jogando um futebol que tem me agradado. Fui corado com dois títulos em um ano. Passei três anos no Fenerbahce, tive ótimas atuações, mas não consegui um título lá. Sempre era um dos melhores volantes da temporada, mas chegava no final e não conseguia um título que agora consegui. Muito bom retornar à Turquia e ser campeão.
Mais difícil do que ser campeão é se manter no topo. Como fazer para seguir nesta boa fase individual e coletiva?
Uma acaba interferindo na outra. Você até pode ir bem individualmente, mas se a coletiva não ajuda, dificilmente você consegue chegar no seu melhor. Passei no Fenerbahce, Grêmio e São Paulo anos maravilhosas. Em São Paulo, cheguei a ser convocado para a Seleção Brasileira três vezes. Mas infelizmente se você acaba não sendo campeão, não fica marcado. Por mais que alcance seu auge, não está pleno porque não foi campeão. Aqui no Besiktas eu consegui conciliar as duas coisas. A equipe não começou bem, mas consegui entrar, a equipe se encaixou e eu consegui desempenhar meu melhor futebol. Para isso se manter, precisamos manter a base da equipe, adicionar peças importantes à equipe e eu, individualmente, fazer o que eu faço. Trabalhar no clube e fora da equipe.
O que a Europa te ensinou? Que tipo de jogador tu és hoje depois de tanto tempo na Turquia?
Conviver com os jogadores tops ajuda muito. Eu joguei com jogadores de alto nível: Diego, Raul Meireles, Van Persie, Nani. E tantos outros jogadores. Os treinadores de fora tem uma mentalidade diferente da nossa. Tem muito treino intenso e com grama molhada e ralinha. Por isso a gente que é brasileiro tem tanta dificuldade no início. Mas tem que persistir e dar continuidade. O futebol aqui fora é dinâmico, é rápido, você tem que pensar em pouco tempo. Uma possível volta para o Brasil ajudará muito no futuro, porque a gente volta mentalmente muito na frente. Mesmo que você esteja com uma idade avançada, 35, 36 anos, isso ajuda a tomar as melhores decisões mais rápido.
E dentro de campo, com a bola no pé, onde tu evoluiu?
Jogo como primeiro volante e creio que evoluí muito na minha saída de bola. Saio com ela bem fazendo a ligação muito rápido. E o posicionamento também. Quando jogava no Grêmio, era muito novo. Quando a gente é novo quer correr muito e o campo todo. Quer marcar e defender. Hoje eu faço a minha função muito bem. Sei a hora de ir, de voltar, de fechar o espaço. Isso faz muita diferença. A leitura de jogo, na posição que eu jogo, é muito importante. É uma das posições mais importantes dentro de campo. A questão de dar um toque na bola também. Antigamente, eu dava dois, três. Hoje não preciso disso. Com um toque, faço o jogo andar e consigo dar dinâmica para os meus companheiros.
A tua posição parece ter sido a que mais mudou dentro de campo.
Com certeza. Como você falou, é a posição que mais evoluiu. Antigamente, tinha o "brucutu", que a gente costumava dizer. Que era aquele volante que só marca e pega. Esses aí ficaram para trás. Hoje todo mundo quer um jogador que consiga sair com a bola com qualidade. Muitas equipes colocaram meias como volantes para sair com ainda mais qualidade. Então a gente que já jogava de volante teve que se reinventar e evoluir par anão ficar em extinção. Graças a Deus eu evoluí com o futebol. Estou muito feliz com minha evolução e estar jogando da maneira que eu jogo. Eu não tenho dúvida de que se estivesse jogando em qualquer outro grande centro na Europa eu teria sido convocado pela temporada que eu fiz. A gente sabe que o leste europeu, Ucrânia, Turquia, é mais complicado de ser visto. Mas eu estou muito feliz com a temporada que eu fiz, que foi a melhor temporada da minha carreira.
Se eu fosse de qualquer outra nacionalidade na América do Sul, estaria sendo convocado para a seleção do país
SOUZA
Ex-volante do Grêmio, no Besiktas
O que falta para o Souza ser convocado?
Para o Souza, não falta mais nada. O Souza tem feito o que um jogador da posição dele tem que fazer. Faltam oportunidades. A gente sabe que existem outros grandes jogadores. Na Seleção Brasileira hoje a posição de volante é uma das mais fartas que tem. E eles jogam em grandes centros e eu sei desta dificuldade. Eu sei que não sou mais nenhum menino também. Sei que tem jogadores surgindo. A gente não pode deixar de sonhar e eu nunca deixo. Mas eu também não crio expectativas. Se eu fosse de qualquer outra nacionalidade da América do Sul, eu teria sido convocado sem sombra de dúvidas. Eu sei que no Brasil as coisas são diferentes e eu entendo perfeitamente. Eu convivo com isso tranquilamente.
Qual é a situação do futebol turco em relação ao coronavírus na Turquia?
O futebol turco decretou há pouco tempo e a próxima temporada terá alguns torcedores no estádio. A gente fica muito feliz. Qualquer incentivo ou grito é algo muito importante para nós. O atual momento do país é bom e já tem cerca de 40% da população vacinada. Assim que nós retornarmos para lá, também seremos vacinados. Como vamos jogar a Champions League neste ano, nós precisamos estar vacinados para jogar a competição. Espero que na Turquia e no Brasil também as coisas comecem a andar um pouco mais rápido. A gente espera que possamos voltar aos poucos com a nossa vida normal.
Quais os planos do Besiktas para esta Champions?
Sabemos da dificuldade que é pelas questões financeiras dos clubes, mas queremos ir bem na Champions. Queremos ir longe, se classificar. Vamos torcer para não cair em um grupo tão difícil e tentar fazer história, aos poucos. No nosso país, o objetivo é ser campeão turco. Dá uma saúde financeira ao clube. Nós também damos uma alegria para os nossos torcedores, que lá sempre comemoram de uma forma louca.
O Grêmio passou recentemente por essa mudança nos seus volantes. Antigamente tinha o "brucutu" e hoje os volantes do Grêmio são mais técnicos. Recentemente o teu nome foi ventilado aqui, existiu essa procura?
Não, não existiu. O Grêmio não me procurou e não teve aproximação de ninguém do clube. É um clube que eu tenho muito carinho. Seria um prazer enorme poder representar essa camisa novamente. Depois que eu saí, o time conquistou alguns títulos. Quando eu estava aí, existia uma pressão muito grande porque o time não era campeão há muitos anos. Aí veio a Copa do Brasil, a Libertadores. Hoje o Grêmio vive um momento muito bom. Um momento que está em um cenário no Brasil onde está entre os cinco grandes que sempre briga por alguma coisa. Eu estou muito feliz por isso. Tem o Maicon hoje no time. Eu tenho um carinho e um respeito muito grande por ele, nós jogamos juntos no São Paulo. Quando eu cheguei no São Paulo, eu tinha acabado de chegar do Grêmio. Ele me perguntou como era quando estava indo para o Sul. Ele me fez perguntas e eu disse que não tinha dúvidas de que ele iria muito bem. Eu conhecia o Maicon e via a forma como ele jogava. Ele ficava um pouco preocupado com essa questão da cultura do Grêmio, de jogador que dá carrinho, etc. Eu falei, "irmão, esquece que você vai voar lá com a qualidade que você tem". Às vezes é assim, a gente não é reconhecido em um clube e isso não nos faz melhor ou pior que alguém. No outro a gente consegue ter o que sempre sonhou. Falei com os caras no Grêmio na época que eles estavam trazendo um grande jogador. Hoje eu fico feliz de ver ele brilhando, fazendo história e sendo capitão da equipe. Eu torço muito por ele e pelo Grêmio também.
Quais são teus planos de carreira para os próximos anos?
Eu estou com 32 anos. Assinei com o Besiktas um ano de contrato com mais dois anos renováveis. Meu contrato atual vai até maio de 2023. Eu queria muito poder voltar ao Brasil, mas a situação do país não é das melhores. É complicado. Na Europa a gente tem uma segurança maior. Eu tenho um projeto de vida. Estou construindo uma casa que está me custando muito então a gente acaba optando mesmo pela situação financeira. Quando a gente consegue conciliar um bom ganho financeiro, jogando em um grande clube, em uma grande cidade e jogando Champions League, o desejo hoje é de ficar no Besiktas por muitos anos. Eu quero fazer história lá. Depois, eu posso voltar com 35 ou 36 anos. Eu me cuido muito. Tenho este fisioterapeuta comigo que me ajuda e vai seguir comigo. Pretendo voltar ao Brasil mais tarde e poder fazer história também no futebol brasileiro.
Boa sorte na tua carreira Souza!
Um grande abraço para a galera gremista! Uma boa sorte na Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e Copa Sul-Americana.