Dois pontos em 15 disputados deixam o Grêmio de Renato com o pior começo na história gremista em se tratando de Brasileirão de pontos corridos (ou seja, desde 2003). O time nunca havia iniciado um campeonato com cinco jogos seguidos sem vitórias. Apenas em 1998 algo semelhante tinha ocorrido: o time perdeu para Inter e Atlético-MG com Edinho como treinador, mudou para Tonho Gil e foi derrotado pelo Corinthians e só a partir da chegada de Celso Roth conseguiu pontuar, empatando com Juventude e Atlético-PR. O time reagiu e chegou a oitavo colocado, caindo nas quartas de final para o Corinthians, que viria a ser o campeão.
— Começamos mal, tivemos muita dificuldade. Depois trocamos o comando técnico, fizemos uma série de reuniões, conseguimos trazer reforços e, a partir dali, reagimos no campeonato — recorda Tonho Gil, hoje coordenador da categoria de base do Concórdia, de Santa Catarina.
Para conseguir repetir o crescimento daquele ano, o Grêmio precisa se recompor – e com urgência. Para isso, é necessário melhorar. Nesta página, sete pontos já identificados como problemáticos.
1. Fragilidade defensiva
Depois de passar o Gauchão com só um gol sofrido (e ter levado quatro na Libertadores), a defesa vaza como nunca no ano no Brasileirão. É como se as partidas começassem 2 a 0 para o adversário, já que foram 10 gols em cinco rodadas. E não foram de uma forma específica: teve gol de cabeça, de rebote, de pênalti, de jogada trabalhada e contra. Só Santos e Vasco levaram mais gols no campeonato (11 cada um).
— Me parece que é um problema o time não ter quatro jogadores do mesmo nível. Improvisar ainda complica mais a situação. Sempre digo que uma dupla de zaga boa é como um casamento perfeito, eles vão se completando, se entrosando, se conhecendo e melhorando quando jogam juntos — defende o ex-zagueiro do Grêmio Luiz Eduardo, hoje técnico.
2. Escassez de zagueiros
Maio está acabando e o Grêmio não tem zagueiro reserva para Geromel e Kannemann. E já se vão dois meses que o problema é sabido. Paulo Miranda sentiu lesão no Gre-Nal de 17 de março, e Marcelo Oliveira, que já era um lateral improvisado na zaga, teve grave contusão em 28 de março. Desde então, Renato precisou improvisar. O escolhido, quase sempre, é Michel. E esse sacrifício tem feito mal para o jogador e para o time. São dois gols contra do volante quando atua como defensor, contra Avaí e Ceará. Rodriguez, de 21 anos, zagueiro de origem, ainda não foi usado por Renato.
– Eu fui buscá-lo na base, tinha alguns defeitos e estamos corrigindo. É um garoto que tem bastante qualidade, já falei para ele que, daqui a pouco, vou dar a camisa – disse o treinador.
3. Sequência de bobeiras
Existe uma justificativa recorrente para os constantes gols que o Grêmio tem levado. Em todas as partidas, jogadores e comissão técnica definiram, com variadas nomenclaturas, como uma desatenção. Diante do Ceará houve uma explicação parecida.
— Duas bobeiras, mais uma vez. Começamos o jogo de uma maneira muito sonolenta, acabamos tomando os gols, e depois para correr atrás na casa do adversário é muito difícil — disse Everton, autor do gol gremista.
O atacante Marinho, que entrou no segundo tempo para encarar seu ex-time, foi em caminho semelhante:
— Acho que se a gente entrasse mais ligado no jogo para competir com os caras, a gente ia levar um resultado melhor no intervalo. Acho que a gente entrou um pouco desligado.
4. Órfão de Ramiro
Ramiro não era protagonista do Grêmio vencedor dos últimos anos. Mas o que o jogador fazia mostrou ser uma função vital para o time. Desde que perdeu o jogador para o Corinthians, a equipe de Renato Portaluppi pena para achar alguém que execute as tarefas do polivalente atleta formado no Juventude. Capaz de atuar como volante, lateral-direito e meia, deixou uma lacuna no grupo.
A direção até se mexeu para achar um substituto. Em 2019, contratou Montoya e Tardelli. Já havia no elenco Alisson, Marinho, Thaciano. Até Matheus Henrique e Vico foi experimentado por ali.
Eventualmente, contra times mais frágeis, eles até conseguiram suprir a carência, mas quase sempre em partidas do Gauchão. Na Libertadores e no Brasileirão, não tiveram sucesso.
5. Carência de armadores
O Grêmio até tem armadores no grupo, dois deles bem destacados — Luan e Jean Pyerre. O primeiro começou o ano instável, foi sacado do time e ainda não engrenou a volta. O segundo, teve boa sequência, mas sofreu lesão no ombro direito. Sem eles, falta criatividade à equipe e sobrecarrega outros setores.
Há uma chance de Jean Pyerre voltar amanhã. Luan sofreu lesão muscular e só deve voltar após a Copa América, em julho.
— Foi isso o que aconteceu domingo — explica o ex-meia do Grêmio Tonho Gil, que completa: — Não tinha nenhum deles, nem o Maicon, o que obrigou Matheus Henrique a fazer até isso também, além de marcar e ocupar espaço. Quando ele se deslocava, ficava um buraco no meio que ninguém aparecia para dar continuidade às jogadas.
6. Falta de artilheiros
André tem um gol no Brasileirão. Vizeu, nenhum. Os centroavantes que o Grêmio apostou para a temporada 2019 não deram, ainda, a resposta que o time precisa na temporada. Eles até participam, tocam na bola, fazem pivô, eventualmente dão assistência, mas não põem a bola na rede.
Foram sete gols marcados na competição, o que até não é um número baixo, mas há pouca efetividade dos homens de referência na frente.
— Tenho repetido que os times aprenderam a marcar o Grêmio. É preciso se reinventar, jogar com mais verticalidade e ter um centroavante na área, como já foram outros como o próprio Renato escalou em momentos diversos — opinou o ex-presidente do clube Luiz Carlos Silveira Martins.
7. Avalanche de lesões
O Grêmio sofre com lesões. Hoje mesmo são duas baixas entre os titulares absolutos, Kannemann e Cortez, e uma de um reserva imediato, Luan. Sem falar em Paulo Miranda, que voltou a sentir dores musculares e não tem prazo para voltar a jogar. Além deles, recém estão se recuperando Montoya, Jean Pyerre, Diego Tardelli e Maicon. Contra o Juventude, amanhã, pela Copa do Brasil, estes quatro têm chances de reaparecerem na equipe.
Renato, por isso, raramente consegue repetir o time. A falta de sequência é um fator importante para a má largada no Brasileirão.
— Temos vários jogadores fora, mas não vou dar desculpas. São coisas que acontecem no futebol. Espero que alguns se recuperem — disse Renato, ao projetar o duelo contra o Juventude, amanhã, pela Copa do Brasil, em Caxias, e sábado, contra o Atlético-MG, pelo Brasileirão, na Arena.