Havia muita concorrência quando o carioca Michel Ferreira dos Santos, 1m84cm, apresentou-se ao Grêmio, no início da temporada. Walace estava de saída para o Hamburgo-ALE, é verdade, mas era Jailson quem surgia como o candidato natural para ser o novo parceiro do capitão Maicon.
O título de campeão da Série B, obtido por Michel pelo Atlético-GO, também não era exatamente o cartão de visitas mais imponente. E também era preciso perder os quatro quilos de sobrepeso e vencer o descrédito da torcida.
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Em maio, por fim, o volante teve a aguardada sequência de jogos. Sua parceria com Arthur tem se revelado tão afinada que Walace e Maicon, a dupla campeã da Copa do Brasil, é hoje apenas uma distante, embora doce lembrança para a torcida.
Nesta entrevista a Zero Hora, Michel fala do início da carreira, conta como aprendeu a marcar e lançar e revela o sonho de jogar na Europa e Seleção Brasileira.
Como começou sua carreira?
Minha base, mais ou menos com 15, 16 anos, foi no São Cristóvão, onde nasceu Ronaldo (Nazário). Com 18 anos, assinei meu primeiro contrato. Joguei pouco pelo profissional do São Cristóvão. Aí, vim para o Porto Alegre, de Ronaldinho, Assis, de 2010 para 2011. Joguei a Copinha em 2010 e em 2011 o Gauchão. Enfrentei o Grêmio no Olímpico. Foi Antônio Zaluar (ex-técnico do Cruzeiro-RS) quem me trouxe, ele é carioca também.
E depois, por onde passou, até chegar ao Grêmio?
Voltei para o Madureira, no Rio. Fiquei um ano, mais ou menos. Depois, Guarani de Palhoça, onde fiquei uns três anos. Em Santa Catarina, passei por Camboriú e Imbituba, de onde fui parar no Novorizontino, a quem pertence meu passe. Fomos campeões da Série A3 paulista. Mais tarde, fui para o Atlético-GO e agora estou no Grêmio.
Quando você soube da proposta do Grêmio?
Na verdade, fiquei sabendo no final da temporada de 2016. Se meu empresário sabia, não me passou, até para me deixar focado no campeonato que fazíamos pelo Atlético. Havia outras propostas, uma do Bahia, financeiramente até melhor do que a do Grêmio para o Novorizontino. Mas falei para Luiz Carlos Goiano (ex-volante do Grêmio e gerente de futebol do Novorizontino) que só desistiria de vir se o clube não me quisesse mais. Ele aceitou minha opinião e ficamos esperando a proposta oficial do Grêmio. Quando ela apareceu, não houve dúvida.
Como é sua relação com Luiz Carlos Goiano?
Goiano é a pessoa com quem eu mais conversava no Novorizontino. Tínhamos uma aproximação bastante boa, foi um das principais pontes para ter vindo para o Grêmio. Conversou bastante com o pessoal, indicou, passou características.
Como você aprimorou os lançamentos longos?
Passe longo vem de berço. O passe longo é um característica minha. Consigo acertar o companheiro. Tanto que, no jogo contra o Botafogo, o que marcou foi o lançamento de 60 metros. Renato sempre pede para fazer porque pega o adversário exposto, porque é no lado contrário.
Qual o segredo para o passe sair tão certo?
Renato sempre fala isso para mim. O segredo, antes de dominar a bola, é já olhar meu companheiro do outro lado do campo para ver onde ele está. Isso ajuda muito.
Nesses momentos, facilita ter um companheiro como Pedro Rocha?
Facilita muito. No Brasil, Pedro Rocha é um dos jogadores mais inteligentes para fazer esse "facão" nas costas dos zagueiros, com a gente chama. Ajuda muito quem está no meio para achá-los na cara do gol. Tanto ele como Ramiro. E os laterais também.
E qual sua técnica para desarmar o adversário sem cometer faltas?
Isso eu comecei com Zaluar. No São Cristóvão, quando comecei, eu era meia-atacante. Zaluar me levou para o Porto Alegre como volante. E gostei. A gente olha de frente para o jogo. Essa roubada de bola comecei a adquirir com Marcelo Cabo (seu treinador no Atlético-GO). Fui um dos maiores roubadores de bola da Série B. Isso é uma virtude também.
Como foi sua adaptação ao Grêmio? Renato contou que você precisou perder quatro quilos.
No início, foi difícil. Cheguei uns quatro quilos acima do peso. Eu jogava assim no Atlético-GO e não sentia a diferença. Mas, aqui no Grêmio, conversando com a parte física e fisiologistas, decidimos por perder esses quatro quilos para ver como eu me sentiria. E me senti bem melhor. Me sinto muito mais leve, com mais força, mais rápido. Ganhei massa muscular com os treinamentos e ajudou bastante.
Em quanto tempo você perdeu esses quatro quilos?
Rapaz, eu perdi esses quatro quilos em 15 dias, se não me engano. Na pré-temporada, é muito fácil perder peso, treinando dois períodos por dia.
Com Renato, você precisou adaptar seu estilo para passar a correr certo?
Renato pede muito, tanto a mim quanto a Arthur, ou quem estiver jogando como volante, para participar bastante da jogada, principalmente no ataque. Claro que não deixamos de marcar. Mas essas chegadas de surpresa por trás no ataque ajudam muito para dar assistência aos atacantes. Sempre vamos pegar o adversário aberto.
Você foi campeão de um competição de pontos corridos. Qual o segredo para se ganhar uma competição de tiro logo?
No Atlético, começamos muito bem o campeonato brasileiro. E depois é manter a regularidade, não deixar cair. Claro que, aqui no Grêmio, é mais difícil, até pelas outras competições. Muitas vezes, não tem jeito, tem de poupar o time titular ou alguns jogadores e isso atrapalha um pouco o trabalho. No Atlético, a prioridade era a Série B. Nós aguentávamos jogar essa maratona de partidas. Mas, aqui, quem entra também dá conta do recado.
Como é o ambiente no vestiário? Como Renato administra esta situação?
Isso é complicado. Mas o grupo do Grêmio hoje é muito unido. Renato sabe ganhar o vestiário. Tem o grupo em suas mãos. Não há problema nenhum em nosso vestiário. E levamos para dentro do campo a amizade que temos fora. Não existe vaidade por parte de ninguém. Eu vou correr pelo outro e o outro vai correr por mim. E isso está fazendo a diferença.
De onde vem sua autoconfiança? Em sua chegada, você disse que faria história no Grêmio? Já está conseguindo fazer?
Cheguei ao Grêmio com desconfiança da torcida, como uma aposta da diretoria. E acho que venho conquistando meu espaço aos poucos. Vou mostrando que tenho condições de vestir essa camisa. Eu vim para fazer história. Tenho condições de ajudar o Grêmio a conquistar títulos importantes.
Havia muita concorrência na sua chegada. Walace, que ainda não havia sido vendido, Maicon, Jailson. Temeu que não fosse superar tantos concorrentes?
Na verdade, me assustei com a concorrência quando cheguei (risos). Todo mundo diz que o Grêmio é uma escola de volantes. Mas, com humildade, vim trabalhando desde o primeiro dia. Meus primeiros jogos não foram fáceis. Encontrei bastante dificuldade. Muitos brincavam que a camisa pesou. Mas não abalei com isso.
Qual o jogador mais difícil de marcar no futebol brasileiro?
Dos que joguei contra, um dos mais difíceis de marcar foi Nenê, do Vasco. D'Alessandro também é bastante difícil. Esconde a bola. Esses meias habilidosos, como nosso maestro Douglas, são bastante difíceis de marcar.
Na Europa, qual volante lhe inspira?
Sempre me inspirei no Luiz Gustavo. Até pela característica parecida com a minha, de ser um volante canhoto, que marca bem, e sabe sair jogando. Sempre me espelhei nele. Outro é o Paulinho, por sempre chegar na área para fazer gol.
Como foi seu entrosamento com Arthur? Ele o auxilia no fundamento do acerto de passes?
O principal é o nosso entrosamento, que adquirimos a cada jogo. Isso nos ajuda bastante dentro de campo. Um dia ele me perguntou como eu fazia para roubar tantas bolas. Eu falei que não tinha segredo, sempre ficava olhando antes que a bola viesse para o cara que estou marcando para poder antecipar, esticar a perna para roubar. Acho que ele absorveu bem essa informação, tanto que melhorou bastante nisso. E o acerto de passes é virtude de cada um. Arthur é fora do normal. É um jogador excepcional, não há palavras para descrevê-lo, é nível de Seleção Brasileira, jogador de Europa. Muita gente vai aparecer para levá-lo.
Arthur prende mais a bola, diferentemente de você, que é mais direto ...
Eu já faço mais o simples. Recebo e toco. É difícil você me ver arriscando o drible. Arthur, não. É diferenciado no drible. Roda pra cá, roda pra lá. O marcador dele fica maluco (risos). É difícil roubar a bola dele. Mas receber e tocar também é uma virtude. Ajuda o jogo a fluir. A gente chega mais rapidamente na frente.
Jogador com 27 anos, como você, ainda sonha com Europa?
Com certeza, cara. Não só Europa, mas Seleção Brasileira. É um sonho meu, confesso, jogar na Europa e, principalmente, vestir a amarelinha. Acho que dá tempo, sim.
Preferência por país?
Em qual se adaptaria melhor?Adaptação vai se adquirindo aos poucos. Mas um país que admiro pelo futebol é a Alemanha.
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