Douglas está ansioso. Depois de passar pelo pior momento de sua carreira, como o camisa 10 revela nesta entrevista a ZH, o meia conta os dias e as horas para poder voltar a jogar no Grêmio de Renato. Desde a semana passada, já mata em doses homeopáticas sua saudade da bola no gramado CT Luiz Carvalho.
Mas a saudade ainda pesa. Fora do time desde fevereiro, quando rompeu o ligamento cruzado do joelho esquerdo, Douglas chegou até a pensar em pendurar as chuteiras. Mas não se abateu. Ainda pretende jogar por mais dois ou três anos e encerrar a carreira na Arena.
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Para suportar o período em que teve de andar com o auxílio de muletas e as intensas sessões de fisioterapia, contou com o apoio da família e de seus amigos. Além disso, também se arriscou como empresário. Lançou uma linha de produtos para a barba, abriu uma escolinha de futebol em Santa Catarina e, agora, criou uma marca de cerveja com seu nome, a Maestro10.
Sincero, Douglas não esconde de ninguém que gosta de beber. Mas só quando está de folga. Até por isso, não teme a corneta dos torcedores. Deles, o meia só tem recebido apoio. Eles também estão ansiosos pela volta do camisa 10.
Esta lesão foi o pior momento de sua carreira?
Sem dúvida, até pelo fato de ser a primeira. Nunca tive nenhum tipo de lesão. E, aos 35 anos, romper os ligamentos do joelho é bem complicado. É difícil conviver com isso. Te pega de surpresa, é uma coisa que você não espera mesmo. É uma recuperação demorada, você tem que trabalhar e esperar. Graças à Deus, está chegando na reta final.
Qual foi a parte mais complicada da recuperação?
É mais no começo, o pós-cirurgia. Você fica sem mexer nada da perna. É uma dor incrível, não desejo para ninguém. É um momento complicado, precisa de muleta para tudo. Não consegue nem dormir tranquilo.
Como é a sua rotina hoje?
Agora mudou um pouco. Comecei a correr, entra o trabalho com bola. É um pouco diferente, te motiva mais. Os primeiros três meses são bem difíceis. A rotina é complicada e repetitiva.
Você chegou a pensar em aposentadoria?
Em alguns momentos você acaba pensando. Mas não foi algo rotineiro na minha cabeça. Quando pensava nisso, procurava me motivar de alguma forma para dar sequência ao meu trabalho. Não é o momento em que quero me aposentar, me sinto bem. Tenho mais dois ou três anos de bola. Vou de acordo com o que o corpo aguentar. Espero que aguente bastante.
Pode passar dos 40, como o Zé Roberto?
Não chega a ser um Zé Roberto da vida. Ele é um cara com um físico completamente diferente. Mas talvez até uns 38, 39. Não sei dizer. Mas nesta faixa já está legal.
Vai se aposentar no Grêmio?
Espero que sim. Não depende só de mim, você precisa estar bem e o pessoal querer que fique. Mas se for aqui, muito melhor.
Quando você retorna ao time?
Ainda não tem uma data exata. Agora em 12 de agosto fecha os seis meses. Mas acho que vai um pouco mais ainda, até para ganhar confiança e estar bem fisicamente. Talvez no final de agosto ou no começo de setembro.
Ansioso para voltar a jogar? O quanto isso te faz falta?
Muito. É difícil você acompanhar os treinos, estar lá do lado e não poder participar. Os jogos eu prefiro assistir em casa, fico mais tranquilo. Mas sempre tem uma ansiedade. Isso não vai acabar até pisar de novo no gramado e jogar.
Suas filhas (Maria Eduarda e Maria Luiza) foram importantes na recuperação?
É bacana estar no dia a dia com elas. Realmente elas ficaram chateadas, mas aproveito muito mais elas pelo fato de não estar concentrando. A gente está sempre junto. Família não tem preço, você tira força de onde não tem e consegue se reerguer.
Onde mais você buscou forças neste período fora do time?
Amigos e família. Sempre que dava eu estava em Criciúma, meus familiares são de lá. Também fiz amizade com um pessoal de Bento Gonçalves. Muito gente boa, criamos uma amizade muito forte. Estamos sempre juntos no final de semana, quando tenho minhas folgas. Foi aí que consegui me esconder e arejar minha cabeça.
O que mudou para você sem a rotina de concentrações?
O lado bom é você não concentrar, né. Depois da lesão e da cirurgia, nos primeiros finais de semana que tive, eu não sabia o que fazer. É uma rotina que eu estava sempre concentrado. Então, chegou o final de semana e eu acabei ficando em casa. Agora já estou mais adaptado. E vou sofrer na hora de voltar, de concentrar e viajar. Estou aproveitando agora para sofrer depois.
Como surgiu esse seu lado empreendedor?
As coisas aconteceram naturalmente, não foi algo que eu busquei. Junto com meus assessores e empresários, achamos que seria bacana. Então, topei. O produto da barba e do cabelo está dando resultado, está vendendo legal, estou bem feliz. Espero que a cerveja também possa dar resultado. Não é algo comum um jogador em atividade fazer isso.
Ao lançar a cerveja, você teve receio de que torcedores pegassem no seu pé?Nunca escondi que tomo minha cerveja. Sou diferente de todo mundo que prefere esconder e omitir. Eu nunca fui assim. Então, não vi problema em lançar uma marca de cerveja. Até porque faço minhas coisas, tomo minha cerveja, obviamente dentro do que eu posso, nas minhas folgas. Conseguimos agregar uma marca legal, espero que dê resultado.
O Grêmio neste ano está melhor do que em 2016?
Eu acho muito parecido. Mas neste ano tem um ataque muito mais efetivo. A gente consegue tornar este bom jogo em gols. Coisa que no ano passado a gente pecava. Mas estou gostando bastante. É um estilo de jogo que me agrada, com toque de bola rápido em direção ao gol. O torcedor está gostando e dando força. Tomara que a gente consiga manter esta regularidade até o final.
Você segue com presença constante no vestiário?
Eu acompanho o vestiário sempre. Minhas fisioterapias são no horário de treinos do pessoal. É como sempre foi. A gente tem muita alegria ali. Há o respeito, mas a gente tem a brincadeira com todos. Não existe vaidade, isso é importantíssimo.
O quanto tem da mão do Renato neste time?
O Renato aproveitou muita coisa do Roger. Principalmente o toque de bola. Mas obviamente ele mudou coisas que ele gosta, bolas paradas e movimentos táticos. O Renato acrescenta muito fora de campo, te dá muita confiança.
É possível encerrar o ano com mais uma taça?
Se a gente conseguir manter esta regularidade, este jeito de jogar, sem dúvida alguma a gente ganha.
O auge do Grêmio não veio um pouco cedo demais?
Ainda é cedo, não dá para falar muito. Se a gente tiver cabeça boa e conseguir transmitir isto para os jogos e manter a regularidade, que é importante, você consegue ter confiança para todos os jogos e competições possíveis.
Você teria lugar no time hoje?
Difícil falar. No momento, não. Se tivesse voltado agora, eu não me encaixaria de forma alguma. É um time que vem jogando bem. Aos poucos, você conquista seu espaço. Mas hoje eu não teria lugar no time.
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