O Gre-Nal, marcado para domingo (17), às 19h, seria só mais um número da história do clássico. Mais especificamente, o 418. A princípio, um daqueles jogos que poucos lembrariam daqui alguns anos. Sem consultar o Google, alguém aí se recorda do confronto na primeira fase do Gauchão de 2015, por exemplo? A menos que houvesse algo marcante em campo, a partida entraria na memória apenas dos mais fanáticos. Mas a 50 horas de a bola rolar, o cenário mudou. Uma entrevista coletiva do presidente do Inter, Marcelo Medeiros, anunciou: em retaliação ao que considerou uma injustiça com um atleta seu, o time do Estadual não terá jogadores que atuaram, e venceram, pela Libertadores na quarta-feira (13).
A decisão foi tomada na manhã de sexta-feira (15). Em uma reunião do Conselho de Gestão, os dirigentes decidiram protestar contra a decisão do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) que acatou o pedido da procuradoria e ampliou a punição de Nico López de dois (já cumpridos) para quatro partidas de suspensão pela expulsão contra o Juventude, em partida disputada em 10 de fevereiro.
A forma encontrada para expor a insatisfação foi a de "mostrar a força do grupo". Na prática, escalar reservas e tentar esvaziar o clássico. A decisão foi apresentada ao departamento de futebol. Durante a tarde, quando repórteres esperavam para a entrevista do zagueiro Rodrigo Moledo, um aviso da assessoria: o presidente faria um pronunciamento e atenderia aos jornalistas.
Às 17h, acompanhado do vice de futebol, Roberto Melo, e do executivo de futebol, Rodrigo Caetano, Medeiros apareceu na sala de imprensa e leu um comunicado. Considerava injusto o aumento da pena do TJD a Nico, uma vez que, na visão do Inter, o causador dos problemas foi o ex-técnico do Juventude, Luiz Carlos Winck. Afirmava estranhar que o julgamento ocorreu na quinta-feira (14) antes do Gre-Nal, fora do dia normal das reuniões do Pleno do tribunal, normalmente às terças. Informava que o departamento jurídico não mais pediria o efeito suspensivo para o jogador e só recorreria da punição no STJD.
— A decisão agride a qualidade da competição, o equilíbrio técnico da mesma, e desestimula o torcedor. O Inter se orgulha em ser o clube que mais venceu o Campeonato Gaúcho e não compactua com a decisão do Tribunal. É um golpe na nossa tradição, fere o nosso torcedor e tira a qualidade de uma rivalidade que nós enaltecemos como uma das maiores do mundo — disse Marcelo Medeiros.
O presidente, então, anunciou:
— Não vamos utilizar o time que entrou quarta-feira. Vamos usar a força do nosso grupo. O time da Libertadores entrará em campo em breve.
A reação do Grêmio foi de indiferença. Procurado após o anúncio colorado, o presidente Romildo Bolzan Junior evitou polemizar. Segundo o dirigente, é um direito de qualquer clube mandar a campo os atletas que bem entender.
— Normal, não tenho juízo de valor, nem opinião tenho, não me diz respeito, todos maiores e têm consciência de seus atos. Não me cabe opinar sobre o tema. Por mim, ficamos por isso mesmo. Vamos jogar o Gre-Nal como ele vier — disse.
Romildo alegou não saber a razão do Inter para tomar tal decisão. Informado da alegação, limitou-se a dizer que se trata de uma decisão judicial e que todos devem acatar ou recorrer. Sobre a atitude influenciar futuros julgamentos, também não quis entrar em polêmica.
— Quem está lá deve julgar isentamente. A indignação faz parte do jogo e tem de ser compreendida nesse contexto. Não tenho a mínima condição de avaliar sobre isso. Como não sei qual foi a finalidade e os motivos que o Inter tomou essa decisão, não tenho nada a dizer. Não me cabe fazer juízo de valor a respeito dessa decisão.
Medeiros esquivou-se de responder se todos os jogadores que pisaram o gramado do Beira-Rio diante do Alianza estão fora do clássico ou se apenas quem começou a partida. Tirar essa dúvida é fundamental porque um dos mais importantes atletas da história recente do Inter está incluído neste dilema. D'Alessandro jogou na quarta, mas só alguns minutos do segundo tempo. Assim, poderá jogar? Mais: o Inter exporá seu maior ídolo a enfrentar, fora de casa e cercado de garotos, o grande rival? O domingo responderá.
E o Gre-Nal 418 arrumou uma polêmica. Pelo menos antes do jogo, já há do que ser lembrado.