Pressionados pela rotina de treinos de Grêmio e Brasil-Pel, os amigos Renato Portaluppi, 55 anos, e Clemer Melo da Silva, 49, pouco têm se visto ou falado. O último encontro foi dia 7 de fevereiro, à beira do gramado da Arena, antes que as duas equipes que a partir deste domingo decidem o Gauchão se enfrentassem pela 6ª rodada do Gauchão. Tempo mínimo para um rápido abraço e trocas de palavras de mútuo incentivo. Renato ainda tentava livrar o Grêmio da beira do abismo aberto pela equipe de transição, enquanto Clemer já navegava no tranquilo mar de sucessivas vitórias do Brasil.
A decisão que marca os 100 anos da Federação Gaúcha de Futebol registra um momento de alta na carreira dos dois. Renato busca o quarto título em menos de dois anos. Clemer saiu-se vitorioso do desafio de substituir Rogério Zimmermann, o treinador que elevou o clube pelotense à Série B brasileira. Mas nem sempre foi assim na vida de comandante dos dois.
Até ganhar a Copa do Brasil pelo Grêmio, em 2016, Renato só contabilizava o título da mesma competição, pelo Fluminense, em 2007. A trajetória, que inclui um rebaixamento com o Vasco, em 2008, custava a engrenar. Já Clemer, depois de exitosa passagem como técnico pela base do Inter, sagrou-se campeão estadual pelo Sergipe e ainda buscava uma nova janela para brilhar.
Dentro de campo, não faltam faixas no peito dos dois. Tanto Renato quanto Clemer conheceram como jogadores a glória do campeonato mundial. Ex-atacante do Grêmio, Renato destroçou o Hamburgo na final de 1983. Também no Japão, em 2006, Clemer ajudou a parar o Barcelona de Ronaldinho na final contra o Inter. Viraram para sempre heróis das duas torcidas.
Como atletas, ambos também conhecem os segredos da América. Em 1983, Renato ajudou a desbravar os caminhos do continente na primeira Libertadores vencida pelo Grêmio. A mesma trajetória Clemer cumpriu com a camisa colorada em 2006.
A escassez dos encontros não diminui o afeto recíproco entre os dois ex-companheiros de Flamengo. Em 1997, próximo dos 35 anos, já encaminhando o encerramento da carreira, Renato voltou ao clube carioca. Lá encontrou Clemer, 28 anos, que havia sido vice-campeão brasileiro no ano anterior com a camisa da Portuguesa. Construíram uma boa amizade. O ex-goleiro sempre era lembrado por Renato para churrascos em sua casa, na Barra da Tijuca.
Dentro de campo, foi uma temporada sem conquistas. Na época, o jornalista Diogo Aída, hoje assessor de imprensa de Renato, cobria o Flamengo pelo jornal carioca A Notícia. Lembra que era um tempo de grande prestígio de Clemer, até ele perder a posição para o emergente Julio César e tornar-se, como ficou conhecido então, no reserva mais bem pago do Brasil.
— É muita correria. Dificilmente nos encontramos. Tenho um carinho muito grande por ele como pessoa. E torço para que se dê bem na profissão. Menos nesses 180 minutos — disse Renato sobre Clemer, na sexta-feira, em entrevista coletiva.
— Eu e Renato somos amigos. Gosto muito dele. É um grande cara e vem se mostrando um baita treinador — devolveu o técnico do Brasil.
Renato já completou 18 anos como treinador. Em 2002, quando treinava o Fluminense, Clemer acertava-se com o Inter, clube que mudaria sua vida. Apesar da maior experiência como comandante, o técnico do Grêmio esquiva-se de dar um conselho ao do Brasil-Pel.
— Dar conselho é difícil. Se visse, de longe, que ele faz alguma coisa errada, até poderia dar um toque. Mas não vejo. Clemer fez um trabalho muito bom na base do Inter e mesmo no profissional. Foi importante ele ter saído para mostrar seu trabalho em outros clubes do Brasil — aponta Renato.
Renato, seis anos mais velho, e já com os títulos de campeão da Copa do Brasil e da Libertadores como treinador, sonha agora com a primeira faixa de campeão gaúcho sem usar calção e chuteiras. Clemer, há sete anos na casamata, vê no Gauchão a chance de dar o maior salto na carreira de treinador. Será preciso esperar até 8 de abril para conhecer o desfecho desta história.