Estamos a menos de um mês do início de mais um Gauchão. Estadual que completa, em 2017, 98 anos de vida e que só deixou de ser realizado por duas edições, em 1923 e 1924, devido à Revolução entre Chimangos e Maragatos.
O "patinho feio" está de volta. O campeonato que atrapalha, que incomoda, que põe em risco a integridade física dos atletas. Discurso repetitivo e enfadonho. Que muito ouvi de dirigentes, jogadores e membros das comissões técnicas de Grêmio e Inter. Que hoje vejo tal discurso muito mais nas vozes de torcedores da dupla do que de representantes dos clubes. E o motivo é bem claro: a excepcional valorização que o Gauchão tem recebido nos últimos anos, renovada para 2017.
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O campeonato do ano que começa foi vendido para as transmissões de TV por 36 milhões de reais. Um reajuste aproximado de 50% em relação ao que foi pago em 2016. O valor é semelhante ao Campeonato Mineiro. Abaixo apenas dos Estaduais de Rio e São Paulo.
Só a Dupla Gre-Nal irá embolsar R$ 24 milhões, deixando R$ 3 milhões para Juventude e Brasil-Pel, que ganharão um pouco mais por serem, além do Inter, os outros representantes gaúchos na Série B do Brasileirão. Oito clubes restantes embolsarão R$ 9 milhões – R$ 1.1 milhão para cada. E aqui abro uma solicitação: a federação deve dividir melhor a verba dos times menores. Quem joga o ano inteiro, participando além do Gauchão, dos Brasileiros das Séries C e D e das Copas Regionais, deve ganhar valor maior de quem fecha as portas em abril, com o término do Gauchão. Neste ano, por exemplo, Veranópolis, Passo Fundo e Cruzeiro encerraram as atividades em abril. E ganharam a mesma verba que São Paulo, São José, Novo Hamburgo e Ypiranga que foram até novembro. E teve ainda Brasil e Juventude nas divisões nacionais e o Caxias, voltando da Segundona e disputando Copas Regionais até o fim.
É uma valorização sensacional. Vejam que o máximo de jogos que um time da Dupla Gre-Nal fará no Gauchão será 17. Cada partida valeria R$ 705 mil de cota. Comparando à Primeira Liga, tão elogiada por torcedores, os direitos nos próximos três anos valeriam R$ 23 milhões a todos os clubes. Menos de R$ 8 milhões por ano para todos os clubes. Em 2016, ela rendeu R$ 5 milhões para todos. Não "lustra o sapato" do Gauchão. O Gauchão é, sim, muito importante. Valorizado pelas verbas de TV que recebe. Não tenho dúvidas de que Inter x Ypiranga ou Grêmio x São Paulo-RG tem bem mais emoção do que a dupla Gre-Nal contra América-MG ou Criciúma. Então sejamos mais equilibrados em analisar o que realmente vale e empolga no início de cada ano.
*ZHESPORTES