Geografia, algumas vezes, é destino. Fui vizinho do Santa Rosa, o antigo estádio do Novo Hamburgo, por 16 anos. Entre a minha casa e o portão localizado na esquina da 24 de maio com a Visconde de São Leopoldo, havia cerca de um quilômetro de distância - e uma lomba que, muitas vezes, me fez pensar duas vezes antes de decidir ver algum jogo. Mas eu quase sempre ia, no fim das contas. E aprendi a gostar do Noia assim.
Não era um frequentador assíduo, daqueles de bater ponto em todos os jogos, das velhas arquibancadas do Santa Rosa. Mas aparecia com frequência por lá. E aproveitei muito bem o período de vacas magras do Noia, entre 2000 - quando o clube foi rebaixado no Gauchão - e 2003, ano em que garantiu o retorno à elite estadual. Estudante de segundo grau na época, sem nenhum pila no bolso como costumam ser os guris de 15, 16 anos, ficava rondando o estádio instantes antes dos jogos e esperava o apito inicial para chorar com os seguranças a chance de entrar "na parceria" na geral. Gastei alguns sábados assim (os jogos da Segundona Gaúcha eram sempre aos sábados, ou ao menos a minha memória adolescente deixou essa lembrança), tentando orientar os jogadores anilados. Nem sempre dava certo.
Uma vez, porém, funcionou.
Foi em 2003, contra o Lajeadense, no jogo anterior a uma batalha campal contra o Inter-SM que praticamente valeu o acesso à elite. Jogo disputado no final de uma tarde de chuva infinita em setembro (sempre chove em qualquer jogo em setembro). O Noia precisava da vitória, mas nada de gol, e a situação toda já estava perdendo a graça. Até que, praticamente sozinho na arquibancada, vi um jogador correndo livre pela direita e gritei o mais alto que podia:
- TOCA ALI! TÁ LIVRE!
O passe saiu, o carinha recebeu na ponta e centrou com perfeição para o gol redentor do 1 a 0. Na comemoração, o meia que começou a jogada olhou para a arquibancada - para mim - e agradeceu.
Tá, talvez ele não tenha olhado para mim.
Na hora, porém, tive a certeza de que merecia pelo menos parte do bicho pela vitória.
*ZHESPORTES