A realização da Copa de 2014 no Brasil representou um marco histórico para o país, tanto do ponto de vista esportivo quanto social. A escolha como sede, oficializada em 30 de outubro de 2007, durante congresso da Fifa, em Zurique, coroou uma longa trajetória de reivindicações e expectativas que se intensificaram quando a entidade passou a adotar o rodízio de continentes. Exatos 10 anos depois da abertura do Mundial, GZH relembra como o país se preparou para a disputa e como Porto Alegre entrou na rota do Mundial.
O projeto inicial apresentado pelo comitê organizador previa a utilização de estádios em 18 capitais. Todas com planos de grandes e modernas arenas. Sejam elas construídas do zero ou adaptadas aos estádios já existentes. Com o passar do tempo, seis cidades foram cortadas da lista. Porto Alegre, por outro lado, sempre manteve seu posto e foi confirmada como subsede em 31 de maio de 2009, em um novo congresso, dessa vez em Nassau, nas Bahamas.
Por lá estava Francisco Novelleto, então presidente da Federação Gaúcha de Futebol, festejando a escolha. Na época, ainda não estava definida de forma oficial se a Copa seria no Beira-Rio ou na futura Arena do Grêmio, e ele deixou em aberto as possibilidades.
— Novelleto falava sobre isso. Imagino que para manter os dois clubes mobilizados. Só que nos bastidores, lá nas Bahamas, o Ricardo Teixeira já garantia que era o Beira-Rio, mesmo que não fosse oficial — recorda o repórter José Alberto Andrade, que acompanhou o evento da Fifa pela Rádio Gaúcha.
Festa em Porto Alegre
Em Porto Alegre, ao mesmo tempo, um evento foi preparado. Segundo estimativa da Brigada Militar, cerca de 3 mil pessoas foram à Redenção acompanhar o anúncio ao vivo em um telão. Os frequentadores habituais do Parque Farroupilha puderam jogar bola em campos improvisados, testar a pontaria em chutes ao alvo ou em videogames e conhecer os projetos de Inter e Grêmio para a Copa em estandes vizinhos.
No dia seguinte, Zero Hora apresentou um caderno especial sobre o anúncio da Capital como subsede. Na abertura, o colunista Ruy Carlos Ostermann deu um tom emocionado e de expectativas (algumas não confirmadas) da escolha:
"Com todo o respeito, a mais prendada admiração e reverencial cerimônia, de cabeça baixa e pés juntados com recato e sapato lustrado, sem nenhum gesto que pudesse ser mal interpretado, sem adereços ou boina de guerrilheiro. Assim, na mais simples e honesta das gratidões, mas com um sopro de orgulho, quase uma brisa desfazendo o bigode, talvez um vento do Sul, úmido e frio, sei lá, com tudo isso e mais um pouco, é chegada a hora de declarar que Porto Alegre tem um futuro jamais sonhado. Vou andar de bonde, os ônibus ficarão coloridos, verde e amarelo, branco, azul, vermelho, cor-de-rosa, todas as cores comandadas pelas do Brasil e do Rio Grande. As mulheres ficarão ainda mais bonitas. Os edifícios vão mudar de lado e ficar mais altos, o cais do porto, então, terá navios, embarcações de todo tipo, e multidões nos seus ancoradouros, as praças vão aumentar, avenidas, mais avenidas, as árvores podem desfolhar de alegria."
Beira-Rio ou Arena?
Casa do Inter, o Beira-Rio foi submetido a uma ampla reforma para atender aos padrões da Fifa, com a modernização de sua estrutura e a ampliação da capacidade. Antes disso, porém, precisou vencer o Gre-Nal dos estádios, já que o Grêmio e sua Arena que estava por vir também estava interessado em receber a Copa do Mundo.
Apesar das especulações, o estádio colorado sempre esteve no plano inicial do comitê organizador. A confirmação do projeto "Gigante para Sempre" veio depois, através de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF.
— O estádio é o do Inter, que cumpriu todas as regras estabelecidas. O pessoal da Fifa vai complementar a vistoria, e a CBF vai apresentar o relatório sobre as visitas. O Beira-Rio é um estádio perfeitamente adaptado aos jogos nacionais, mas precisa se adaptar ao padrões internacionais — afirmou na época.
Preparação da cidade
A preparação para a Copa do Mundo envolveu trabalho conjunto entre o Governo Federal, os governos estaduais e municipais, além da Fifa. Foram investidos bilhões de reais em obras de infraestrutura, incluindo estádios, aeroportos, hotéis e sistemas de transporte, além de planejamento na área de segurança, logística e comunicação.
Além da reformulação no Beira-Rio, 19 obras foram previstas para Porto Alegre como o "legado da Copa". Até 2014, apenas seis haviam sido finalizadas. Entre elas as reformas nas avenidas Beira-Rio e Padre Cacique, de acesso ao estádio, o ILS2 (para melhora nas condições de pouso do Aeroporto Salgado Filho) e o viaduto da Avenida Júlio de Castilhos conectando a Rodoviária.
Outras concluídas depois, enquanto ainda há projetos inacabados e imbróglios entre os responsáveis. De todos os empreendimentos, 14 eram de responsabilidade da prefeitura, que captou R$ 888 milhões em financiamentos federais.