O anúncio do gol da Coréia do Sul virando sobre Portugal teve o efeito de uma caçamba de caminhão cheia de gelo sendo derramada nas costas da torcida uruguaia que se reunia no Tango Bar, em Porto Alegre, torcendo por uma classificação da Celeste, nesta sexta (2).
A cerveja gelada podia congelar e até a carne passar do ponto, pois nem o mais uruguaio dos banquetes devolveria a felicidade de quem lotava a calçada da Rua da República como se estivesse em Montevidéu.
— Seria uma baita festa — lamentou Robert Loyarte, 37 anos, uruguaio de Barra do Chuy e proprietário do bar, após o final da partida, que projetava um mergulho no container com gelo em caso de classificação.
Ao invés dos gritos de animação e cantoria, gritaram ofensas ao técnico uruguaio Diego Alonso e cobranças por decisões do árbitro. Foi possível ouvir novamente o barulho do motor e das buzinas dos carros que paravam na sinaleira da esquina com a Rua José do Patrocínio. A ansiedade por um gol salvador nos minutos finais foi dando lugar ao silêncio e despedidas de quem estava ali.
— Nos recontraestafaron — denunciou, em alto espanhol, Sílvio Brutti, 52 anos, compatriota e amigo de Robert, colocando dois prefixos que denotam intensidade (“re” e “contra”) antes de dizer que foram “estafados” (roubados, em bom português).
A revolta dos uruguaios na Cidade Baixa é reflexo da má campanha do time comandado por Diego Alonso. O técnico da celeste insistiu em duas escalações sem De Arrascaeta, autor dos dois gols da vitória desta sexta-feira (2) sobre Gana.
A tristeza de Luis Suárez e Cavani, remanescentes da geração campeã da América em 2011, não determinou o fim do dia para os torcedores na Cidade Baixa. Os copos seguiram sendo servidos e a carne não foi descuidada, mantendo o padrão uruguaio de entrecot, costela e linguiça artesanal trazida do país vizinho.