O sofrimento poderia ter sido menor do que uma partida de oitavas de final de Copa do Mundo sugere. Ter a Austrália como adversária era mais um presente do sorteio. A Argentina está nas quartas do Mundial após uma vitória por 2 a 1. O jogo número 1.000 de Messi foi uma confraternização em Buenos Aires e aumentou ainda mais as esperanças da busca pelo terceiro título.
Fez calor na capital do país vizinho. Mas não estava tão quente como na partida de uma semana atrás, contra o México. Nem na temperatura nem na tensão. Como o time em campo, também a torcida está menos pressionada e bem mais otimista.
Desde as primeiras horas da tarde, a Praça Intendente Seeber já recebia gente. Os torcedores chegavam cedo para procurar um lugar em qualquer sombra. A todo momento, o sistema de som da organizada fan fest promovida pela prefeitura alertava para pontos de hidratação, vendas de comidas e locais para informar crianças perdidas.
E tinha crianças. Uma gurizadinha se agitava pelos brinquedos, jogava bola e aguardava a partida começar nos telões.
O pedido da organização para que os torcedores permanecessem sentados foi, surpreendentemente, atendido. Os argentinos se acomodaram no chão e acompanharam a classificação entre palmas, cantos gritos.
Houve impaciência quando, por volta da metade do primeiro tempo, zagueiros e goleiro australianos trocaram intermináveis três minutos de passes entre si. A transmissão da TV também reclamava, pedia pressão, e os hinchas concordavam.
Quando o murmúrio estava por começar, Messi resolveu. Achou o espaço mínimo entre as pernas dos zagueiros australianos e causou um urro na fan fest. Braços para cima, água espalhada, abraços, gritaria. Argentina 1 a 0.
No intervalo, corrida para banheiros e bares em busca de alívio e de reposição líquida que a tarde exigia. E nova corrida para não perder nada do segundo tempo.
Quando o goleiro da Austrália entregou de presente o segundo gol da Argentina, na saída do segundo tempo, ficou tudo ainda mais leve. Da equipe de transmissão direto do Catar aos torcedores, pouco havia a temer. Entre expectativa pela próxima fase e planos para jantar, porém, veio o gol australiano.
Não seria possível passar sem um mínimo de drama, convenhamos. As atenções se voltaram ao telão novamente.
Verdade que a Austrália só chegou mais uma vez, e foi a Argentina quem esteve mais perto de fazer o terceiro. Mas a proximidade do placar sempre é nociva para as unhas. E elas terminaram na última bola do jogo, quando o goleiro Dibu Martínez saiu no tempo certo para salvar a conclusão australiana.
Foi a senha para começar a festa dos argentinos, que sairia da praça e se estenderia pela noite.
— Foi uma grande partida. Sofremos no final, mas acontece. Seguimos, seguimos — celebrou o torcedor Jona Barrientos.
Os olhos estão na Holanda, mas já dá para espichar um pouco mais:
— Estamos bem. Vamos nos classificar e enfrentar a Holanda. Depois, queremos Brasil — avisou o torcedor Miguel Fernandez.