A Fifa costuma entregar o prêmio de melhor jogador da Copa do Mundo a uma "grife". O craque pré-definido de um dos finalistas, historicamente, leva o troféu. Às vezes, a escolha não tem tanta rejeição, como Modric em 2018. Outras são mais polêmicas, como Zidane em 2006, Kahn em 2002 e até Messi em 2014.
O argentino, aliás, é um candidato a repetir o feito agora. E, contra ele, o oponente mais citado é Mbappé. De novo, pela grife (claro, não só por isso). Mas é que na própria França, haveria outro nome fortíssimo na disputa: a versão 2022 de Antoine Griezmann.
Seria possível abrir a gaveta do clichê futebolístico e jornalístico e dizer que ele carrega o piano para Mbappé tocar. E talvez seja a melhor expressão de mesa de bar para descrever o que tem feito o terceiro melhor jogador da Copa de 2018.
Não é sempre que se vê um fora de série, multicampeão, estrela do esporte, abdicar do protagonismo absoluto em nome de um guri de 23 anos. E, claro, de um projeto maior — ser bicampeão mundial. A França se dá ao luxo de ter o carregador de piano mais importante do planeta.
Griezmann sempre foi atacante. Ou, no máximo, o último dos meias, um pouco atrás do atacante. Driblador, mas vertical, veloz e de boa batida na bola, seus maiores talentos eram usados para fazer gol.
E talvez até isso se repetisse em 2022. Tivesse Kanté e Pogba à disposição, talvez o técnico Didier Deschamps deixasse o jogador do Atlético de Madrid como suporte a Mbappé e Benzema (ou Giroud). Mas as tantas baixas que a seleção francesa teve na preparação para a Copa fizeram o treinador adaptar sua equipe.
E escolheu um jogador com percepção do jogo acima da média para ser o curinga do meio-campo. Griezmann entende os momentos de avançar para virar opção de passe na frente e, principalmente, baixar para ser o desafogo na defesa. Com o campo livre, aproveita seus passes para iniciar os ataques.
— O trabalho para se adaptar, dependendo da partida, é maravilhoso. Nem sempre segue o mesmo roteiro. Às vezes cobre as costas da defesa. Outras vezes, vai para a linha ofensiva — comentou o técnico italiano Alberto Zaccheroni, ao destrinchar taticamente as finalistas.
O treinador completa:
— Jogando mais atrás, dá qualidade aos passes no meio-campo. Tudo na França começa a partir dos seus pés. É dali que a bola chega em Mbappé e Giroud. Griezmann é a estabilidade da seleção.
A definição de Leonardo Miranda, analista tático do ge.globo, também explica a nova função. O ajuste tático permite a Griezmann "ser mais um distribuidor que um rompedor".
Essa adaptação de função gerou números que explicam sua importância. É o maior garçom da Copa, com três assistências para gol. Foi quem mais criou chances claras, sete, entre todos os jogadores do Mundial. É o líder do ranking em acerto de passes longos (87% de aproveitamento) e também em cruzamentos certos (16), de acordo com o SofaScore.
Além de todas as funções em campo, Griezmann é um líder. Aos 31 anos, pode disputar sua última partida de Copa neste domingo. Por isso, sabe como poucos que tudo o que foi feito até aqui precisa ser aumentado na decisão, sob pena de tristeza. E pediu atenção total:
— Qualquer time com Messi é totalmente diferente. A gente ficou impressionado com os jogos dessa Copa. Sabemos como a Argentina joga, estão no topo da forma. Além do Messi, tem um entorno forte, sabemos que será um jogo difícil.
Ele foi o melhor da semifinal. Será que conseguirá vencer as "grifes" maiores e levar também como craque do Mundial? A capacidade de adaptação permite sonhar.