Com o jogo do Brasil contra a Suíça em pleno horário de almoço, funcionários de uma das lancherias mais movimentadas de Porto Alegre trabalharam assim nesta segunda-feira (28): um olho no xis que precisava ir para a mesa do cliente, outro olho na partida.
Televisões não costumam ficar ligadas na Lancheria do Parque, mas em Copa do Mundo é diferente. Eram dois aparelhos no salão e um outro na cozinha. Não é só a clientela que quer acompanhar cada lance da partida — patrões, garçons e cozinheiros também gostam de futebol.
Seu Ivo, como é conhecido Ivo Santin, 70 anos, um dos sócios proprietários da famosa Lanchera, chega a investir em um rádio de pilhas para ouvir os detalhes de cada movimento que a visão, já comprometida pelos anos, nem sempre consegue alcançar.
— De longe, dependendo do lance, eu não pego — diz, enquanto ouve a transmissão comendo um prato de massa e galeto sentado no balcão.
Da cozinha até o bufê, ou do balcão até a mesa do cliente, os garçons dão uma paradinha no meio do salão para conferir a partida.
— Só uma espiadinha — diz Edvaldo Mendes de Lima Junior, 36 anos, com o pano de prato penduro no ombro.
Para quem fica na chapa, é mais difícil espichar o pescoço. Se ficar muito atento à TV, Silvio José Farias, 43 anos, corre o risco de queimar algum pedido. Só tem notícias do jogo quando o pessoal vai aos gritos.
— Não tem como. Se eu ficar olhando, queimo — diz o chapista do dia.
Nos fundos da cozinha, quem lava os pratos também só fica sabendo se o Brasil está ganhando ou perdendo quando os garçons entram com mais mais louça para lavar. Auxiliar de cozinha, Elisabeth Barbosa não pode perder tempo olhando para a televisão, instalada pelos chefes em uma prateleira.
— Tem que lavar esses pratos. Mas os guris me falaram que está 0 a 0. Será que vai? — diz durante o jogo, antes do gol de Casemiro.
Enquanto passa as batatas no fatiador, o cozinheiro Maico Ramos, 38 anos, dá pitacos sobre a escalação feita por Tite e critica o desempenho da Seleção no primeiro tempo.
— A Suíça está bem postada. Queria que colocassem o Pedro, dava uma correria a mais. É bom atacante — diz o cozinheiro, que não foi dessa vez que teve o desejo atendido.
Os primeiros 45 minutos foram de sufoco, com garçons e cozinheiros reclamando da falta de Neymar, lesionado no primeiro jogo. A tensão se transforma em berros quando Vinicius Jr. marca o primeiro gol no segundo tempo. Os sócios-proprietários Neomar Turatti, 57 anos, e Mauri Fachini, 54 anos, além do garçom Lucas Justin, 23 anos, chegam a se empurrar de alegria.
— Quebraram meus óculos — diz Mauri, se recompondo após a comemoração.
— Quebrou o óculos no gol anulado — caçoa o sócio Neomar, logo após a decisão do árbitro.
Eles repetem a comemoração quando Casemiro consegue marcar um gol válido. Coincidentemente, é a única vez em que Elisabeth, que foi até o salão, espia o que passa na TV.
— A única vez que a Beth olhou pra TV deu gol — comemora Neomar.
— Vim só largar uma toalhinha aqui. E aí pensei: "Vou olhar para a TV e vai dar gol". E deu mesmo — ri a funcionária.
Na lancheria mais movimentada de Porto Alegre, patrões e funcionários fazem mais algazarra do que a clientela diante de um jogo do Brasil. E a TV ficará ligada na cozinha novamente na próxima sexta-feira (2), quando a disputa será contra Camarões.