Caiu uma espécie de neve em Santana do Livramento nesta quarta-feira (4). É bem verdade que os pesquisadores rebaixaram o fenômeno para chuva congelada (nem esse gostinho nos dão…). O frio é de rachar na fronteira do Brasil com o Uruguai — e só esse assunto é mais falado do que a possibilidade de os vizinhos sul-americanos se encontrarem na semifinal da Copa do Mundo. Apenas, no entanto, para abrir o diálogo.
Basta caminhar na Praça Internacional que divide — ou une? — Livramento e Rivera para ouvir:
— Que frio, amigo.
— É mesmo, parece até que nevou.
— E o Cavani, hein? Joga?
— Volta o Marcelo?
Dali por diante, segue o papo de Copa do Mundo. O aguardado encontro entre brasileiros e uruguaios, os dois únicos não-europeus ainda vivos na Rússia, depende de sexta-feira (6). Basta que eles passem pela França, e nós, pela Bélgica. Os moradores e turistas das cidades fronteiriças lembram que a possibilidade deste confronto foi frustrada quatro anos atrás, quando os vizinhos perderam para a Colômbia no dia em que James Rodríguez fez o gol mais bonito do Mundial 2014. Naquele mesmo sábado, o Brasil havia vencido o Chile nos pênaltis. Acabou sendo Brasil x Colômbia nas quartas.
Mas voltemos ao frio. Possivelmente seja por causa dele que os itens mais comprados sejam as bandeiras, e não as camisetas. O pessoal caminha enrolado nelas, por cima do montão de roupas. O preço também ajuda: custa R$ 25 a bandeira, metade do preço da camiseta.
— Está sendo uma ótima Copa para o comércio. Melhor do que a anterior — comemora o ambulante uruguaio William da Silva, que revela algo curioso:
— Vendi muitas bandeiras uruguaias para brasileiros. Mas nenhuma brasileira para uruguaios.
Para melhorar ainda mais sua situação, só se os dois avançarem para as semifinais — avisa o comerciante, fã de Cebolla Rodríguez, ex-Grêmio, de quem ele admite torcer especialmente por ser jogador do Peñarol.
O clima amistoso brasileiro, porém, parece ter os dias contados. Do outro lado da praça, o vendedor gaúcho Gabriel Vargas tem esperança de comemorar o hexa. A confiança se dá pelas boas atuações de Thiago Silva. Ele fez questão de falar em Alisson, mas deve ser por causa do boné do Inter que cobria sua cabeça, possivelmente. Admite que torcerá para Brasil e Uruguai se classificarem, mas brinca:
— Se der mesmo um contra o outro, o ideal é fechar a fronteira, para evitar tumulto. Deixa cada um de seu lado.
Será que é por que o telão que brasileiros e uruguaios costumam se reunir para ver os jogos fica do lado de cá da praça?