"Estou com medo de a Argentina ficar fora. A França é muito forte", desabafou Zezé, de oito anos, antes de começar o jogo decisivo entre as duas seleções pelas oitava de final da Copa do Mundo, em Kazan, neste sábado (30).
Era o pequeno brasileiro quem puxava os cânticos argentinos. Alguns inventados na hora, é verdade, sempre fazendo paródia com a música Bella Ciao, tema da série La Casa de Papel. Quando uma palavra em espanhol lhe fugia, recorria à anfitriã Soledad Gomez, argentina natural de Buenos Aires, mas moradora de Porto Alegre desde 1977.
– Como se fala filho da p.... em espanhol? – perguntou o menino quando Antonie Griezmann abriu o placar para os franceses.
Ao fim do jogo, Zezé já tinha decorado o xingamento repetido a cada um dos quatro gols dos Blues na vitória por 4 a 3.
Diretora e proprietária da Escola Lumiar, Soledad convidou Alice Mondin, 12 anos, e Zezé — também chamado por José Luis Picon, mas só quando apronta — para assistirem, em um condomínio na zona sul de Porto Alegre, ao jogo com ela e seus dois filhos: Eduardo Gomez Rosinha, o Dudu, de 9 anos, e Malena Rosinha, a Male, de 12 anos.
– Amamos a seleção nas boas e nas más – pontuou a matriarca em sotaque espanhol bem carregado.
Embora as crianças sejam todas brasileiras, a torcida era pelos porteños. Tanto que vestiam e enrolavam-se em camisetas e bandeiras azuis e brancas. A cada ataque dos Blues, surgiam gritos de "vamos, muchacho" em incentivo à defesa albiceleste ou de "dale, dale, dale", quando Lionel Messi pegava na bola e partia em disparada.
Torcedora fanática, sabe de cor a escalação campeã mundial de 1978, de Passarella a Luque. Mas seu maior ídolo é o artilheiro Gabriel Batistuta. Antes de qualquer mal-entendido, esclarece:
– Têm deuses e ídolos. Maradona e Messi são deuses. Estão acima.
Ao lembrar a Copa no Brasil, Soledad puxou um "França, decime qué se siente", ainda quando a partida estava 2 a 1 para a equipe de Sampaoli. A euforia não durou muito.
Nos 30 minutos do segundo tempo, quando os 4 a 2 para os franceses pareciam sacramentados, ainda deu para zoar os brasileiros:
– Pelo menos não foi 7 a 2 – brincou.
Por fim, reconheceu o empenho dos jogadores e tentou reconfortar a turma desanimada:
– Pensem que desfrutamos de alguns minutos de vitória – finalizou.