Aos 47 anos, Leonardo Gaciba tem experiência de sobra na arbitragem. Depois de 17 anos como juiz, desde 2011 é um dos principais comentaristas da função para a Globo. E não mede palavras ao falar sobre o uso do VAR até aqui na Copa do Mundo: o recurso é bom, mas ainda precisa de muita coisa para que sua utilização seja mais clara e diminua o número de erros em campo. Confira a entrevista.
Como você avalia o uso do VAR na primeira fase da Copa?
Foi interessante, vejo isso como um processo em evolução. São várias coisas ainda a ser ajustadas. Eu dividiria em blocos: ele se mostrou perfeito em alguns lances, sem nenhum gol impedido ou mal anulado nesta primeira fase. Na identificação dos jogadores também, só houve um caso em que houve cartão mal dado, e foi corrigido (no jogo entre França e Peru). A grande questão é que tivemos muitos erros que não foram corrigidos ou avaliados.
Que tipos de erros?
Foram 17 mudanças de decisões de campo, o que é normal. Mas houve outros 17 erros capitais, nas minhas contas. Pênaltis não marcados, faltas que resultaram em gols. O empurrão no Miranda (no gol de Zuber, da Suíça, contra o Brasil), a falta do Diego Costa sobre o Pepe (no empate entre Portugal e Espanha), o pênalti a favor da Sérvia não dado (sofrido por Mitrovic, contra a Suíça). São situações que considero erros capitais, e esse processo precisa ser melhorado.
Na coletiva da Fifa, Pierluigi Collina disse que a arbitragem acertou no lance com Miranda: "No futebol, nem todo contato é falta".
O que a Fifa poderia fazer para corrigir isso?
Tem um problema muito sério que a Fifa precisa resolver: o que é um erro claro? Por que o empurrão no Miranda não é um erro claro, mas o pênalti no Griezmann (contra a Austrália) sim? Enquanto a gente vê isso numa Copa, todo mundo está de olho. Mas num Brasileirão, de pontos corridos, isso vai alterar a classificação do campeonato. Tenho a minha ideia: capitães e técnicos das equipes deveriam propor desafios. Com dois desafios por partida, e se errar perde o direito. Acho que a arbitragem não tem por que chamar a revisão para si. Por exemplo: no final do jogo da Sérvia, o técnico reclamou que não teve um pênalti a seu favor. Se ele tivesse direito a pedir a revisão do lance, depois não poderia reclamar disso. E o lance seria analisado.
Quais os pontos positivos do VAR até agora?
Ao mesmo tempo em que erros claros, primários para árbitros da Copa, foram corrigidos, como pênaltis claros que não haviam sido marcados, outros erros passaram a ser observados. Lances que eram tolerados, como agarrões dentro da área, agora não são mais.
Você acha que o VAR vem sendo muito utilizado, ou poderia ser adotado mais vezes durante os jogos?
A quantidade, quem vai dizer, é o jogo. O problema que existe é o protocolo. O futebol é interpretativo, com árbitros que possuem interpretações diferentes. Eu preferiria que o árbitro de vídeo não tivesse interpretação. Por exemplo: se eu comprovar, com imagem, que não houve contato, não é falta.
Qual a grande dificuldade que você avalia no uso do VAR?
Está se fazendo justiça, e isso é bom. Mas temos de melhorar a justiça parcial, os critérios. Isso precisa ser melhorado. Por enquanto, é uma novidade. O grande fato é que o árbitro de vídeo não vê o jogo como ele transcorre, no campo. Por isso, a grande maioria dos jogadores tem restrições ao vídeo. Uma coisa é o jogo do campo, outro é o da TV, e só quem vive isso conhece as diferenças.