Vendo o amistoso do Brasil com a Rússia, lembrei-me de uma história presenciada quando eu era secretário municipal da Copa do Mundo. Estava reunido com o então presidente do Inter, Giovanni Luigi , na sala dele no Beira-Rio. Batem à porta, ela é aberta, e entra Fernandão, então gerente de futebol. Ficou em pé ao lado da mesa em que estávamos e inicia-se o diálogo com Luigi.
– Presidente, o guri não quer assinar o contrato.
– Como não quer assinar? – indagou Luigi.
– Ele acha pouco o valor, quer ganhar mais.
– Não tem como, esta é uma proposta definitiva.
Eu ali sentado, quieto, só ouvindo. Fernandão retomou a conversa.
– Presidente, o empresário dele também acha que o guri merece mais.
– O salário que o clube pode pagar é este.
– Vou falar com eles de novo, mas estão irredutíveis – disse Fernandão e saiu.
Quando a porta se fechou, minha curiosidade pulsava. Estava louco para saber quem era o guri que não queria assinar o contrato. Não aguentei.
– Posso saber quem é presidente?
– Um guri promissor, com um futuro brilhante.
– Mas por que não pagar, então?
– Bosco , ele é o quinto reserva ainda e tem de receber pela posição que ocupa hoje – explicou o presidente.
– Mas se o Fernandão está preocupado, certamente é um bom investimento – insisti.
Na verdade eu queria saber o nome do guri e alimentei o papo, insistindo:
– O guri é bom ou não é?
– Agarra muito....
Frente a essa resposta, concluí que se tratava de um goleiro. Não me contive:
– Presidente, diz logo o nome aí , senão vou morrer de curiosidade.
– Ele é irmão do Muriel, o Alisson, joga muito mas o clube não pode pagar para um quinto reserva o que ele quer receber.
Eu nem sabia que o Muriel, então titular, tinha um irmão goleiro e muito menos que jogava no Inter. Depois, concluí que o clube acertou em não pagar o valor pedido, e o menino, quinto reserva, também acertou ao aceitar o salário oferecido.
Hoje é "apenas" titular da Seleção, da Roma e interessa aos principais clubes europeus. Acertaste, Luigi. Valeu a pena esperar, Alisson.