A canção é antiga. Muitos nem talvez bem a conhecem. Deveriam conhecer, por variados motivos, mas não é o caso de abordá-los agora, neste desde já inesquecível 12 de junho de 2014.
O verso inicial da canção se encaixa à perfeição no que todos nós, brasileiros, viveremos a partir de hoje, no dia que marca a chegada do futuro, no instante em que rolar a bola da 20ª Copa do Mundo de futebol entre Brasil e Croácia:
- Prepare o seu coração para as coisas que eu vou contar.
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Quando Geraldo Vandré compôs "Disparada", há quase meio século, não tinha futebol em mente. Eram outros tempos, difíceis, de chumbo. Mas Jair Rodrigues, um negro de sorriso espaçoso e voz poderosa, a interpretou com tanta força que transcendeu compreensões e sentimentos. Ele cantava - morreu este ano - de peito estufado, o punho cerrado lá no alto e batendo o pé como se fosse furar o chão. Era como se, cantando "Disparada", não houvesse adversário neste mundo capaz de detê-lo.
É mais ou menos este o sentimento que se percebe entre os jogadores da Seleção Brasileira. Não há quem possa com o esquadrão de ouro, bom de samba e de couro, desde que estejamos todos juntos, ligados na mesma emoção, empurrado o Brasil para a frente. Sem soberba ou salto alto, bem entendido. Até porque, vamos combinar, tais armadilhas não existem no universo de Luiz Felipe Scolari.
Trata-se da força da torcida no país do futebol. É o que dizem os adversários. A Espanha virou touro na Plaza Maracanã, na final da Copa das Confederações. Os campeões mundiais tontearam numa blitz de marcação, um ímpeto ofensivo, uma fome de vencer jamais vistas na Seleção. Os espanhóis não tiveram tempo nem de amarrar as chuteiras. Então, depois do 3 a 0, o goleiro Casillas procurou Marcelo e disse, maravilhado:
- Agora eu entendo o que significa aquela frase que todo mundo diz: cuidado, por que o Brasil sempre será o Brasil.
O Brasil talvez tenha perdido a chance de aproveitar a oportunidade que uma Copa oferece, com suas exigências de infraestrutura e mobilidade urbana. Talvez o legado das obras não seja o que poderia ter sido. Talvez o dinheiro gasto nos estádios tenha extrapolado os limites da decência. Talvez. Só o tempo dirá, quando a poeira baixar e pudermos avaliar tudo com equilíbrio. Mas a chance de reescrever a história dentro do campo está em nossas mãos.
Ganhar alta do divã de 1950 é uma possibilidade real. A Seleção está pronta. Escalada. Tem a confiança da torcida. Vem de um título incontestável, que foi a Copa das Confederações. Encerra a preparação na Granja Comary sem lesões e, o mais importante: exibe um protagonista. Dez é a camisa dele, de Neymar. Quantas nações, no universo do futebol, tem uma segunda chance de conquistar uma Copa em casa em um cenário de campo desses?
O caminho do Brasil até a final é o mais espinhoso da história das Copas, cheio de campeões mundiais. Por isso mesmo a simbiose time-torcida terá papel fundamental. É o combustível. Tudo dependerá da Seleção, sim, mas também de nós, nas ruas e nas arenas. Temos de confirmar a profecia de Casillas. Como disse Felipão, chegou a hora.
Prepare o seu coração.
Copa do Mundo - Brasil x Croácia - Arena Corinthians - 17h
BRASIL: Julio Cesar; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Paulinho, Oscar e Hulk; Neymar e Fred. Técnico: Luiz Felipe Scolari.
CROÁCIA: Stipe Pletikosa; Darijo Srna, Vedran Corluka, Dejan Lovren e Sime Vrsaljko; Ivica Olic, Ivan Rakitic, Luka Modric, Mateo Kovacic e Ivan Perisic; Nikica Jelavic. Técnico: Nico Kovac.
Arbitragem: Yuichi Nishimura (Fifa/Japão).
Local: Arena Corinthians, em São Paulo (SP).
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