Patrícia Bueno é a enfermeira coordenadora da política de saúde mental da prefeitura de Santa Maria. Quatro anos atrás, foi uma das profissionais a socorrer os familiares das vítimas da tragédia da boate Kiss. Agora, a sua nova missão, junto a outros 20 enfermeiros de Santa Maria, é tentar aliviar a dor dos parentes e amigos dos jogadores e de dirigentes da Chapecoense, mortos na queda do voo da LaMia, em Medellín.
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A dor de Chapecó é semelhante à dor de Santa Maria?
É uma dor intensa e, sim, bem semelhante. Porque também foi algo inesperado, porque envolveu muitas pessoas jovens e com mortes em grande quantidade.
E o trabalho dos enfermeiros é parecido?
A grande diferença é que, em Santa Maria, trabalhamos em meio ao caos, sem protocolos. Aqui, o clube conseguiu se organizar, apesar do pouco tempo.
Por que as pessoas parecem mais solidárias, mais decentes, após tragédias como essas?
Porque as pessoas começam a pensar na vida. Começam a racionalizar sobre isso. Na vida que elas levam, corrida, sem dar muita bola para quem trabalha com elas, para a família, para os pais, para os filhos. Porque a vida que levamos é assim, sem termos tempo para nada. E, de repente, tudo pode acabar. As pessoas se mostram mais solidárias porque percebem que a vida é frágil, passam a refletir sobre isso.
O luto tem prazo?
O luto não tem prazo e, dependendo de pessoa para pessoa, pode durar um bom tempo. Em Santa Maria, até hoje, temos muitas pessoas de luto e outras muitas que se solidarizam com elas. Tudo o que os membros dessas famílias de Chapecó precisam agora é de solidariedade, de um abraço, de um sorriso, mostrar empatia.
Por quê?
Para se dividir a dor. Não somos familiares deles, eles não nos verão assim. Por isos, precisamos oferecer um abraço, um acolhimento, deixar chorar. Eles vão sofrer nesse momento, pois é assim mesmo. Chorar é bom nessas horas. Precisamos dar espaço a eles para que chorem.
*ZHESPORTES