Você talvez não o reconheça só pela ilustração, mas não se preocupe. A rapidez com que as promessas surgem e se desenvolvem no futebol brasileiro, nesse momento muito mais pelos cofres raspados do que pela nobreza de conceitos dos clubes, resolverá esse problema logo ali adiante. Não é de duvidar que neste domingo mesmo, quando o Palmeiras, do gaúcho Roger Guedes, enfrenta o Corinthians, no Allianz Parque.
Ele é um dos tantos que passam ao largo da rede de olheiros e observadores de Grêmio e Inter. Nos anos 1960, Mengálvio saiu de Laguna, em Santa Catarina, para o Aimoré, de São Leopoldo. Do Cristo Rei, o Santos o levou para formar com Pelé, Coutinho, Dorval e Pepe a melhor linha ofensiva de um time brasileiro em todos os tempos. Branco foi de Bagé ao Rio sem escalas. Não haveria tetra em 1994 se o lateral-esquerdo do Fluminense não acertasse aquela bomba de canhota contra a Holanda. Há outros exemplos, mas passemos de uma vez a Roger Guedes, 19 anos, 1m82cm, uma das boas surpresas deste ano.
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Contratado em abril junto ao Criciúma a pedido de Cuca, fez dois gols no Brasileirão. Não parece muito em seis jogos, mas olhando a concorrência o cenário muda: Alecsandro, Cristaldo, Dudu, Erik, Gabriel Jesus, Lucas Barrios e Rafael Marques. Destes, só Gabriel Jesus fez mais gols do que ele: quatro.Roger nasceu em Ibirubá. É cria do futsal, ainda guri, pelo Semeato, de Passo Fundo. Aos nove anos, o então coordenador da base do Grêmio, José Alzir Flores da Silva, o levou para Porto Alegre. Após nove anos no Olímpico, um empresário convenceu a família a tentar a sorte no Criciúma.
Aos 14 anos, morou no alojamento do Heriberto Hülse. Em seguida, os Guedes se mudaram de mala e cuia para dar-lhe suporte. O Grêmio nunca mais foi atrás dele. A paixão pelo futebol vem de berço. O único irmão, mais velho, ainda joga na cidade natal. O futebol amador é mania entre os 19 mil ibirubenses, especialmente os torcedores do Vila Nova. Marquinhos Gabriel, do Corinthians, ex-Inter, de Selbach, ali pertinho, é vinho desta cepa. Roger seguiu os passos do pai, o volante Valter, que brilhou nas campinhos de várzea do norte gaúcho. No Criciúma, pela força e velocidade, empurraram-no para frente.
De centromédio, a segundo volante. Depois, meia e, finalmente, atacante. Não pegou sotaque. Nem catarinense, nem paulista. Se cumprir o contrato com o Palmeiras, até 2021, terá tempo de sobrar para absorver o acento paulistano. Por enquanto, o gauchês é irretocável. – Nas férias ou nas folgas volto sempre ao Rio Grande. Estou sempre em casa – explica o pai de Ryan, 6 meses.A sinceridade, as tatuagens (nem sabe mais quantas são), a idolatria por Ronaldinho e a economia nas frases são características de Roger Guedes, para além da força e velocidade como atacante de lado.
Não é de falar muito. Estaria em seus planos um dia jogar em Grêmio ou Inter? A resposta é sem rodeios:– Não. Quero me firmar no Palmeiras e, depois, sonhar com a Europa.Mas será que nem quando estava no Criciúma, ainda criança e adolescente, pensou em recomeçar tudo em sua terra? – Em nenhum momento pensei. Estava bem no Criciúma. Voltar para quê?Pela rapidez com que a carreira evoluiu, Roger Guedes não estava errado. Os olheiros, observadores e empresários ligados à dupla Gre-Nal é que dormiram no ponto.