Eu não gosto de dizer: eu não disse? Mas vou dizer:
Eu não disse?
Repare no gol do Inter: os jogadores do Grêmio dividiram a bola três vezes, e por três vezes entraram no lance com o pé frouxo. Erazo, na última dividida, chegou a ser meigo. Uma moça. Uma flor. Rodrigo Dourado, ao contrário, estava na jogada como um lenhador. Para usar um termo politicamente incorreto, mas futebolisticamente verdadeiro: como macho. Resultado: Dourado rasgou caminho área adentro, deixou Erazo gritando ui lá atrás e passou para Vitinho marcar.
Argel ressalta vitória no Gre-Nal e diz que é alvo de todos: "Quanto mais batem, mais forte eu fico"
O gol foi um resumo do Gre-Nal, um jogo no qual não houve muita técnica, no qual não houve nenhum grande destaque individual, mas houve, claramente, um time determinado a vencer e outro querendo administrar a partida.
Nenhum Gre-Nal pode ser "administrado". Gre-Nal se vence com desassombro. E foi assim que o Inter venceu.
O melhor em campo talvez tenha sido, exatamente, um desassombrado, esse Rodrigo Dourado, que não hesitou em parar os atacantes do Grêmio com porrada, quando na defesa, e que, no ataque, surgiu do nada para, literalmente, arrancar a bola do adversário e irromper pela área até dar a assistência que definiu o placar.
Outro que jogou bem foi Anderson. Depois do gol, ele estava protagonizando arrancadas irresistíveis em contra-ataques e parecia na iminência de fazer o segundo gol. Então, Argel cumpriu a famosa "Lei Guerrinha": se pode dar certo, tira. Argel tirou Anderson, inexplicavelmente. E o Grêmio se adonou do jogo.
Mas o Grêmio mostrou o que tem mostrado neste final de campeonato: uma espécie de anemia, de impotência, de falta de apetite para marcar gol.
Um time blasé.
O Grêmio provavelmente se classificará para a Libertadores, mas terá de se reforçar muito, e bem, ou será só um figurante na competição. Para isso, o sério presidente Bolzan terá de dar mais autonomia ao competente diretor Ruy Costa. Mais autonomia significa mais dinheiro, bem entendido.
O Inter poderá se classificar para a Libertadores, mas também precisará de reformas profundas no time. E no banco. Para isso, Piffero terá não apenas de contratar certo, mas dispensar certo. O que é bem difícil.
O campeonato ainda não terminou para a dupla Gre-Nal, mas os dirigentes terão de pensar já em 2016. Porque não quero ficar dizendo depois: "Eu não disse?"
*ZHESPORTES