No sábado, houve mesa-redonda entre jogadores do Sport e o juiz para discutir se o gol de Lisandro López foi com o braço. No dia seguinte, mais resenha sobre a expulsão de Egídio, do Palmeiras contra a Chapecoense. Nesse caso, acrescida da insólita volta do lateral-esquerdo do vestiário para o campo depois de revista sua expulsão. Os quartetos de arbitragem negam amparo do vídeo para tomar as decisões nesses jogos. Tantos desacertos aquecem ainda mais o debate sobre o uso da tecnologia em lances mais espinhosos.
A Comissão de Arbitragem da CBF aprova a decisão dos seus árbitros, mesmo as antecedidas por minutos de discussão em campo. Toma essa posição enquanto espera por definição da International Board à sua solicitação para adotar o árbitro de vídeo a partir de 2016. A primeira resposta foi negativa. A alegação da Board é de que o Brasil solicitou o uso do vídeo em caráter efetivo, sem período de testes. Os trâmites no órgão, porém, funcionam em outro ritmo. Primeiro é preciso fazer estudo seguido de experimentação em ligas menores, análise de estatísticas e, depois disso, longa discussão entre seus integrantes. O que consome no mínimo dois anos.
A Board não fechou a porta à CBF. Em sua resposta, disse que a ideia segue em pauta e uma decisão será tomada em março, em seu próximo congresso. A ideia é de que o novo presidente da Fifa, eleito em 26 de fevereiro, opine sobre uma mudança tão importante.
Além do Brasil, a Holanda e a MLS, a principal liga norte-americana, também fizeram pedido à Board. Só que o projeto apresentado pelos holandeses, em janeiro, tem o fôlego de um Robben. Batizado Arbitragem 2.0, consumirá 8 milhões de euros. Envolve tecnologia da linha do gol, uso de vídeo, dois anos de treino para os árbitros e uso da técnica em jogos de categorias de base. Fechado esse período, repassariam relatório com conclusões e aguardariam a resposta da Board.
O tamanho do projeto holandês na comparação ao apresentado pela CBF faz o comentarista da Rede Globo e ex-árbitro Leonardo Gaciba levantar o cartão amarelo. Gaciba apelidou o projeto brasileiro de "Gol da Alemanha" como forma de definir sua tibiez.
- A CBF chegou lá na Board e disse que gostaria de usar o recurso de vídeo. Ouviu um não. Em janeiro, a Board recebeu projeto de 8 milhões de euros da federação holandesa. E também disse não - comparou.
Como todo árbitro ou ex-árbitro, Gaciba é a favor da adoção do vídeo para ajudar nas decisões do futebol. Mas defende que o tema seja aprofundado. Há pontos ainda a serem discutidos. Por exemplo:
Quanto tempo a mais ganharia uma partida?
Seria adequado para a TV aberta transmitir futebol se as partidas se prolongassem?
O pedido de revisão seria feito pelo treinador?
Quantos pedidos por partida poderiam ser feitos?
Quem forneceria os vídeos e os editaria?
Pelo projeto da CBF, a decisão de pedir para rever o lance deveria partir do árbitro. Em caso de dúvida, pediria o auxílio do árbitro de vídeo. Em segundos, esse veria no monitor e daria a resposta por ponto eletrônico. Mas, e se houver um novo lance do lado contrário e o árbitro de vídeo não for consultado? Bom, nesse caso seguiria a discussão. Numa prova de que nada envolvendo arbitragem se decide no primeiro trilar do apito.