O domingo 21 de abril de 1985 começou com a disputa da terceira edição da Maratona de Porto Alegre, que teve a confirmação do bicampeonato de Geni Mascarello e a primeira vitória de Euclides Fajardo, que com 2h21m57s quebrou o recorde da prova.
Naquele mesmo dia, a dupla Gre-Nal não entraria em campo pela Taça de Ouro, denominação dada ao Brasileirão da época, que estava paralisado para que a Seleção Brasileira, treinada por Evaristo de Macedo, se preparasse em Belo Horizonte para a disputa de amistosos contra Colômbia, Peru, Uruguai, Argentina e Chile que serviriam para a participação do Brasil nas Eliminatórias para a Copa do Mundo do México.
O país vivia ainda a preocupação com o estado de saúde do mineiro Tancredo Neves, primeiro presidente eleito após a Ditadura Militar, que estava internado no Instituto do Coração, em São Paulo, para onde ele havia sido transferido após ficar 11 dias no Hospital de Base de Brasília, para onde foi levado na noite anterior de sua posse, marcada para 15 de março.
Mas aquele dia 21 de abril, data assinalada no calendário brasileiro por ser o dia em que o inconfidente mineiro Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por Tiradentes, foi executado em praça pública, no Rio de Janeiro, também entraria para a história por marcar a primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula-1.
O paulista então com 25 anos era apontado por todos como a maior promessa do automobilismo mundial. Aquela prova disputada no Autódromo do Estoril, em Portugal, era o 406º Grande Prêmio da história da F-1, o segundo da temporada. Na véspera, a Lotus preta do brasileiro voou na pista e ele cravou a primeira de suas 65 pole positions. O cenário naquele domingo era o ideal para o piloto do carro número 12, mesmo que o grid ainda tivesse Alain Prost, Niki Lauda, Nélson Piquet, Nigel Mansell e Keke Rosberg, entre outros.
A largada do GP estava programada para às 10h30min daquela manhã e a esta altura, Euclides Fajardo já havia cruzado a linha de chegada da Maratona de Porto Alegre e Geni Mascarello se encaminhava para a vitória. Senna largou bem e com a pista molhada pela chuva foi aumentado a vantagem para os concorrentes a cada uma das 67 voltas da prova até garantir a primeira de suas 41 vitórias na categoria, depois de exatas duas horas de disputa.
- É um dia muito feliz para mim. Tive muita sorte em me manter na competição porque as condições eram desfavoráveis. Foi difícil segurar o carro em linha reta - disse Senna, após a corrida que terminou com apenas nove dos 26 carros que largaram.
Dez horas depois, o porta-voz da presidência da República, o gaúcho Antônio Britto, anunciava ao país que Tancredo Neves havia morrido exatamente às 22h23 daquela noite. O funeral presidencial tomou conta do noticiário e a vitória de Senna acabou em um segundo plano. Curiosamente, quando o piloto veio a falecer em 1º de maio de 1994, após um acidente no GP de San Marino, em ìmola, o Brasil parou da mesma forma que naqueles dias de abril de 1985, quando milhões de pessoas foram às ruas se despedir de Tancredo,
Confira o resultado do GP de Portugal de 1985
Local: Autódromo do Estoril
Número de voltas: 67 (estavavam programadas 71, mas por causa da chuva a prova foi encerrada no prazo máximo de 2h, estabelecido pelo regulamento)
Pole position: Ayrton Senna (Lotus-Renault) 1min21s007
Líder durante a prova: Senna 1ª a 67ª
Melhor volta: Senna (na 15ª) 1min44s121
Ordem de Chegada:
1º Ayrton Senna (BRA) - Lotus-Renault
2º Michele Alboreto (ITA) - Ferrari
3º Patrick Tambay (FRA) - Renaul
4º Elio de Angelis (ITA) - Lotus-Renault
5º Nigel Mansell (GBR) - Williams-Honda
6º Steffan Bellof (ALE) - Tyrrell-Ford
* Niki Lauda (problemas no motor); Alain Prost (rodou na pista) e Nelson Piquet (problema nos pneus) não terminaram a prova.